Por José Carlos Carvalheiras
No livro As Louzadenses (2014), prefaciado pela Prof.ª Lígia Maria de Andrade Alves Ribeiro, esta antiga vereadora da Câmara Municipal de Lousada, refere-se deste modo à professora Maria do Carmo Pilão Moreira, que hoje protagoniza esta secção “Louzadenses com Alma”: “era uma senhora elegantíssima e uma distinta professora, exigente e culta. Com o seu marido, o médico Dr. Abílio Alves Moreira, formavam um casal exemplar em sintonia e presença. Foi uma educadora exímia e impunha-se com modos firmes, voz determinada e ideias claras. Ensinou muitas meninas Louzadenses e contribuiu de uma forma muito importante para o desenvolvimento intelectual e para a formação moral de várias gerações”.
Esta professora era natural de Bragança e foi colocada, na década de 1950, na escola primária de Meinedo, para dar aulas. Mais tarde viria a lecionar às raparigas (o ensino estava dividido por género) na escola da Vila, também conhecida por “escola dos Bombeiros”, por se situar ao lado do quartel dos Bombeiros Voluntários de Lousada. A sua irmã Sara veio também de Bragança para lhe fazer companhia e ambas acabariam por casar com dois irmãos louzadenses.
Maria do Carmo casou com o médico Abílio Alves Moreira (que casou pela segunda vez e pela segunda vez iria enviuvar) enquanto a sua irmã Sara casou com Albano Alves Moreira. Estes tiveram duas filhas, Graziela e Rosa Maria. Quanto à professora e ao médico, não tiveram filhos, por impossibilidade da professora Maria do Carmo. Viriam contudo a ser tutores de Ana Maria, filha de Antero Alves Moreira.
Tal como o marido, a professora Maria do Carmo perfilava-se politicamente contra a “situação”, ou seja, contra a ditadura. Contudo, a sua condição de professora obrigava a que se contivesse publicamente e até mesmo em certas situações privadas, pois a classe docente era muito controlada pelo regime. Foi também por isso que foram bastante refreados os ânimos reacionários e revolucionários do Dr. Abílio Moreira, que só após o 25 de Abril se ouviram e se fizeram ler em todo o seu esplendor. Maria do Carmo viveu para as crianças. Era muito afeiçoada a elas. Ensiná-las era uma vocação e um prazer redobrado e a sua característica principal como docente seria porventura a exigência.
A sobrinha Rosa Maria, que foi sua aluna na quarta classe recorda que “ela era uma professora muito exigente com as alunas, mas em contrapartida dedicava-se muito a ensiná-las, mesmo depois do horário das aulas. Ela construiu em sua casa uma autêntica sala de aulas, com quadro de escrever e carteiras, para onde levava as raparigas com mais dificuldades e sobretudo aquelas que sabia que os pais as obrigavam a trabalhar, por exemplo na lavoura, que era o mais frequente naquele tempo”.
Na generalidade as suas alunas tiveram uma preparação exemplar e singraram nas respetivas vidas com os ensinamentos adquiridos através desta docente.
Outra das suas alunas foi Maria Lucinda Dâmaso, que também considerava Maria do Carmo “uma professora muito exigente e que repreendia quem não se empenhava na aprendizagem, mas recordo me com muito gosto e orgulho que ela gostava muito de mim e nunca me repreendeu”.
Esta Louzadense lembra que “ela era muito elegante e tinha uma presença sublime e marcante”. De facto, Maria do Carmo impressionava pela sua presença jovial e em qualquer situação da vida irradiava sofisticação e simpatia. Estava sempre muito atenta às tendências da moda e gostava de viajar e passear, gosto este que era partilhado pelo seu marido, com quem realizou várias viagens longas, nomeadamente a Paris.
Maria do Carmo Pilão Moreira faleceu com 64 anos, em 25 de dezembro de 1974.