Por José Carlos Carvalheiras
Esta cabeleireira de 43 anos, de Cristelos emigrou no início de 2017 para a cidade de Oslo, na Noruega e apesar do frio que por lá faz, aprecia as inúmeras qualidades daquele país e de uma das principais cidades europeias. “Esta decisão deve-se ao facto de o meu marido já se encontrar a trabalhar neste país, depois de ter sido imigrante em Espanha e França mas só na Noruega ele encontrou estabilidade para podermos viver em família”, afirma.
Paula considera a Noruega um país confortável e seguro e declara que “foi com plena confiança na visão do meu marido e com o meu espírito de lutadora, que decidi abraçar novos horizontes e assim se passaram quase 5 anos desde a minha saída de Lousada”.
“Como sabemos, tudo na vida tem os prós e os contras, a parte da adaptação obviamente não foi fácil, pois a cultura é muito fechada, o norueguês é uma língua difícil de pronunciar (é uma mistura de Inglês e alemão) e onde cada região tem o seu próprio dialeto”, confessa.
“A minha vantagem foi saber falar o Inglês já que é a segunda língua mais falada na Noruega, principalmente em Oslo. Uma das grandes dificuldades também foi o clima. Não existem muitas horas de sol, do qual eu estava habituada mesmo no nosso inverno. Além de ser um Inverno muito longo e frio, com temperaturas negativas a rondar vinte graus negativos, também é muito escuro. A região sul (Oslo) durante o pico do Inverno tem 5 a 6 horas de luz diárias e no Norte não existe sequer luz, é noite todo o dia e no verão há luz todo o dia.”, descreve esta lousadense.
“Quanto à comida, foi também um grande desafio. Aqui não existem quase produtos portugueses e praticamente todos os legumes e frutas são importados. Sinto imensa falta do cheiro e do sabor dos nossos produtos. A minha maior dificuldade é tentar manter os meus hábitos alimentares. Sempre que tento fazer um dos nossos pratos típicos fico desiludida pois falta-me aquele toque e aquele cheirinho que me é tão familiar, a nossa comida é sem dúvida das coisas que mais falta me faz”, revela Paula Martins.
Em relação ao trabalho, revela que “depois de apenas dois meses de trabalho, fui convidada a gerir um salão de cabeleireiro no centro de Oslo, uma das cidades mais justas da Europa, pois aqui somos recrutados para empregos e cargos devido às próprias competências e não por influências familiares ou outras. Na Noruega todos têm oportunidade, basta saber e querer fazer acontecer. Somos tratados como verdadeiros cidadãos, temos direitos e deveres, todos pagamos impostos e não existem trabalhos ilegais. Para terem uma noção mais concreta da justiça social, até as gorjetas que são oferecidas entram para a tabela de imposto, ou seja, o funcionário só receberá o valor das gorjetas já com o desconto que o patrão terá de enviar para as finanças”.
Os elevados valores dos noruegueses
A justiça social vê-se também nos direitos salariais entre homem e mulher: “ambos recebem o mesmo valor monetário pela função executada, independentemente do género e quase não existem profissões para homem ou para mulher, daí serem todos autossustentáveis”, explica. Outro aspeto social importante para Paula é o respeito pela vida privada: “respeita-se imenso a privacidade dos outros. Os noruegueses não divulgam a sua vida privada e mantêm o anonimato e não ligam muito ao estatuto social. É normal ver membros do governo ou até altos executivos usarem os transportes públicos e dividirem os assentos com qualquer outra pessoa sem qualquer preconceito”.
“Outro aspeto muito diferente dos portugueses é que os noruegueses são muito restritos e apenas escolhem um ou dois amigos para partilharem momentos de lazer e assim se mantêm a vida toda, um ou dois amigos a família e eles próprios vagueando pelas montanhas e assim vive um norueguês”, diz a respeito da sociabilidade.
A Noruega mantem um baixo nível de criminalidade e quanto a isso Paula Martins refere que “sinto-me completamente segura ao caminhar sozinha no meio da cidade a qualquer hora da noite, onde não existe necessidade de muito patrulhamento policial “.
O sistema de segurança social e de serviço nacional de saúde, assim como o sistema fiscal são muito elogiados por esta lousadense na Noruega. Além disso, elogia também as leis do trabalho: “podemos escolher o quanto queremos trabalhar. O norueguês valoriza muito os momentos em família ou de lazer. O descanso de fim de semana é usufruído por todos, daí não existir centros comerciais ou supermercados abertos ao Domingo, a partir das 3 da tarde de sexta-feira quase todos começam a dar início ao fim de semana”.
Um aspeto curioso que Paula destaca no comportamento norueguês diz respeito ao consumo de cerveja e outras bebidas alcoólicas: “para eles é cultural embebedarem-se, todos homens e mulheres bebem as suas cervejas ou o tomam o seu vinho, é um pequeno luxo que ninguém dispensa e é também a única maneira para o norueguês se desinibir e conversar com qualquer pessoa. Todos têm consciência da dificuldade da sua cultura e o quanto lhes é difícil ter um sorriso no rosto e mesmo querendo muito ser diferente só mesmo o álcool como único recurso”.
Saudades de Lousada
É sabido que a Noruega tem uma beleza natural muito privilegiada. Quanto a isso, Paula diz que “todos contribuem o mais possível para preservar o ambiente. O norueguês adora caminhar no meio das montanhas e para eles ter uma cabana nas é como para nós portugueses ter uma casa à beira mar. É muito diferente cruzarmo-nos com um norueguês nas montanhas ou na cidade a mesma pessoa nas montanhas cumprimenta e mete conversa espontaneamente e na cidade nem olha nos olhos”.
“O povo Norueguês é muito viajado e procura países quentes, principalmente no inverno, devido à ausência do sol e adoram apreciar outras gastronomias, porque eles não são muito adeptos de cozinhar, consomem muito a fast food, apreciam serem bem servidos e são muito mas mesmo muito exigentes, pois apesar de serem muito simples gostam muito de qualidade”, afirma.
Paula Martins sente-se valorizada e estimada naquele país e revela que “os noruegueses apreciam a minha maneira de ser e o meu sorriso fácil”, mas apesar de todas as vantagens de viver ali, sente saudades de Lousada: “sinto falta de ver pessoas conhecidas e daquela palavrinha calorosa ou simples saudações… Sinto falta das nossas pastelarias e do nosso pão sempre quentinho e fresco, sinto saudades de passear no centro da nossa Vila, nos jardins do Senhor dos Aflitos, saudades da minha casa, dos meus pais e do quintal deles, e claro, dos meus amigos. Nunca foi minha ideia ser emigrante e no entanto aqui estou, tenho a sorte de poder voltar quando quiser, independentemente de ser amanhã ou daqui a uns anos o importante é sentir-me bem e viver a vida com um sorriso no rosto. Sou muito grata pelas minhas conquistas, pelo meu percurso de vida. Quero viver um dia de cada vez e despeço-me sublinhando qu sou orgulhosamente Lousadense em qualquer parte do mundo”.