A música corre-lhe nas veias e é aí que encontra a sua maior paixão. Cristina Baptista nasceu em Penafiel, em 1994, e desde muito cedo percebeu que a sua vida passaria pela música. Embora não seja profissional, tem dedicado a sua vida ao desenvolvimento da cultura no concelho, através do Bando das Gaitas e da Banda Musical de Lousada, associações a que pertence e dirige.
Cristina Baptista tem 27 anos, nasceu em Penafiel, cresceu na freguesia da Ordem e é apaixonada pela música. Fruto do modo de vida dos seus pais, “tive uma infância mais agitada” e isso mudou a sua forma de ver a vida. “Tornou-me extrovertida, dinâmica, persistente e fez com que não tivesse medo de agarrar qualquer que fosse o projeto”, revela.
Foi também através do pai, que já tinha sido músico, que percebeu o gosto pela arte e mostrou interesse em seguir este rumo. Por isso, no 5.º ano de escolaridade ingressou no Conservatório do Vale do Sousa (CVS) e no 7.º na Banda Musical de Lousada.
“Entrei no Conservatório no 5.º ano, onde andei cerca de oito anos. Felizmente o CVS criou oportunidade de os jovens estudarem o instrumento que mais se identificam e de terem contacto com este meio artístico. Para além da aprendizagem que adquirimos também fazemos muitas amizades no meio musical que nos fazem crescer e aprender”, expõe.
Ao longo do seu pequeno percurso, conta, “tive como professores Tiago Abrantes, Carlos Silva, Nuno Sousa, Luís Gomes, Henri Bok, Victor Pereira, Ricardo Alves, etc., e muitos deles para além de serem sempre meus professores, também se tornaram grandes amigos. A música é assim mesmo”.
“Fazemos muitas amizades no meio musical que nos fazem crescer e aprender.”
Embora atualmente não estude música, “eles continuam a ser meus professores e é bom continuar a tocar e conviver com eles, são sempre momentos de partilha e aprendizagem em todos os aspetos”, testemunha.
No 10.º ano seguiu o curso de Ciências e Tecnologias e a música passou a ser uma segunda opção. “Foi uma opção. Talvez tenha sido por medo e hoje penso que poderá ter sido um erro, mas fiz essa opção que na altura arrependi-me, mas hoje já passou” confessa.
“Era um grande objetivo, mas acabei por seguir outro rumo, nomeadamente dar seguimento ao negócio da família nas feiras e lojas. Em Portugal ser músico profissional é muito ingrato, temos poucas orquestras a funcionar minimamente bem e má remuneração. Havendo pouca oferta e muita procura é sempre complicado. A mentalidade das pessoas em Portugal ainda está muito além da realidade de outros países. Por exemplo, a população não tem incutido o pequeno hábito de ver concertos”, lamenta.
Cristina acredita que a educação é o primeiro passo para mudar mentalidades e considera que o Conservatório na região “tem feito um grande trabalho nesse sentido e está a dar cada vez mais oferta cada vez mais cedo. Depois já depende dos alunos a afinidade que ganham com a música. Apesar disso, não deveria ser apenas o Conservatório a criar essas oportunidades, também outras entidades deveriam ajudar nesse mesmo papel”.
“Se um idoso quiser aprender música, não vai para o Conservatório, porque vai-se sentir deslocado, mas se houvesse uma Escolinha da Banda já o faria, pois já criam oportunidades para outras faixas etárias. Nunca é tarde para aprender e devem ser criadas essas oportunidades. Se o avô andar na música, o neto se calhar também andará”, manifesta.
Desenvolver a cultura através das associações
Com o objetivo de promover a cultura, Cristina Baptista integra como tesoureira a Banda Musical de Lousada (BML) e a Associação Recreativa de Nogueira (ARNL), que alberga o Bando das Gaitas.
Na ARNL, “faço parte da direção como representante do grupo e tento ajudar no que posso, mas o meu foco é o Bando das Gaitas”, conta. A entrada na Associação Recreativa de Nogueira acontece aquando da necessidade do Bando das Gaitas em se associar.
Por sua vez, na BML, “já estou lá há 15 anos, e quando achamos que a associação podia fazer mais e melhor, devemos ajudar e trabalhar para isso. Achei que era o momento ideal, juntamente com o restante grupo, arriscamos”, refere.
“Esta direção renovou no passado mês o 2º mandato e acreditamos que a Banda precisava de novas ideias e que ainda tem muito para crescer e explorar. Era muito trabalho para apenas uma ou duas pessoas, por isso esse grupo integrou a direção da Associação. Neste momento somos sete e é sempre pouca gente. Estamos a falar de uma associação que tem 68 músicos e 130 sócios. É preciso ajudar, porque estamos todos por amor à causa sem qualquer tipo de remuneração. Se queremos que as associações tenham dinâmica e continuem no rumo certo, também temos que colaborar. Temos que ser bairristas na cultura, não pode ser só no desporto”, alerta.
“O associativismo é assim mesmo, tem de se ter amor à causa, e nunca por interesses alheios.”
Neste momento, “a BML está a implicar muito mais tempo e trabalho, porque os objetivos são diferentes, mas o Bando das Gaitas também necessita, é um pouco por fases. O associativismo é assim mesmo, tem de se ter amor à causa, nunca por interesses alheios. Além disso, sou artista em ambos”, expressa.
Enquanto jovem, Cristina admite já ter sentido na pele o facto de ser jovem e, por isso, acreditarem ser menos capaz. “No início, quando veem um grupo jovem a entrar ou uma direção nova, há sempre um receio. Mas quando se integra com uma boa equipa, com objetivos definidos e principalmente com vontade de trabalhar, os ditos críticos depois vêm dar razão. Como jovem aprendi muito com o Bando das Gaitas, que é um grupo mais pequeno, mas quando ingressei na BML já ia com algumas bases, mas o desafio era maior e continuei a aprender. Aprendemos a lidar com pessoas, que por vezes é complicado, e a lidar com egos. Estou constantemente a aprender e a simplificar problemas”, indica.
Quanto à possível ligação a outras associações, a jovem mostra-se aberta a todas as novas oportunidades na área da cultura. “Está a faltar em Lousada, no Vale do Sousa ou na Rota do Românico uma orquestra ou uma Banda Sinfónica para músicos profissionais ou semiprofissionais. Temos uma zona que nem é Porto nem é Braga e que tem muito por onde evoluir, abrange uma zona com muitos músicos. É isso que está a faltar e seria um projeto promissor”, termina.