Guilhermina Oliveira: A mulher, a mãe e avó dos sete ofícios

Terceira mais nova de dez irmãos, nasceu em Cristelos, na vila Lousada. Licenciada em  animação sociocultural, na Escola Superior de Educação do distrito do Porto. Ainda  lecionava quando integrou o projeto da Universidade Sénior de Lousada, como uma das diretoras, na qual perdura até aos dias de hoje. 

Guilhermina Oliveira: a arte de saber viver 

Guilhermina Oliveira

Nascida no Loreto, pertencente ao município de Lousada, desde cedo rumou para outra  localidade. Tinha 3 anos quando foi viver para Barrocal do Douro, um bairro destinado  aos trabalhadores da barragem, uma vez que, o seu pai tinha arranjado trabalho na Barragem de Picote, antiga Hidroelétrica do Douro.  

Com o intuito de uma vida melhor, a família numerosa de Guilhermina seguiu até  Miranda do Douro. “Saí das minhas origens para encontrar outras condições. Em  Barrocal do Douro a casa era maior, e o meu pai arranjou emprego fixo, logo tínhamos  outra maneira de viver”, afirma Guilhermina.  

Formação académica 

Frequentou o ensino primário em Barrocal do Douro, mas devido a não haver  continuação de estudos no bairro seguiu até à cidade de Miranda do Douro para uma  melhor educação escolar, propósito dos seus pais. Entrou no Colégio de São José onde  realizou o 2º ano, equivalente ao 6º ano de escolaridade na época atual. Segundo  Guilhermina, foram anos felizes da sua vida onde teve a possibilidade de andar na  natação e, consequentemente, aprender a nadar.  

Aos 13 anos de idade, em seguimento do ofício do seu pai, foi para Lamego, “nesta  cidade de Portugal existiam mais oportunidades de estudo”, salienta Guilhermina.  Frequentou o Colégio da Imaculada Conceição e, posteriormente, o liceu.  

Após concluir o 5º ano letivo, correspondente ao 9º ano na formação educativa, foi estudar para professora. Todavia, esta oportunidade na vida de  Guilhermina aconteceu, ao mesmo tempo, do 25 de abril. Dado isto, na medida de  adaptar-se aos novos tempos, concorreu ao distrito do Porto por considerar que houve  imensas mudanças, a nível político, social e económico. 

Lecionou em quase todos os concelhos do distrito do Porto, no entanto antes de todas  as transformações na vida de Guilhermina, o amor decidiu manifestar-se. Começou a  namorar com 16 anos e, como resultado, casou com o homem da sua vida, permanecendo juntos até aos dias de hoje. “Um bom pai, um bom marido, um bom  homem, um bom amigo.”, intitula Guilhermina.  

Regressou à sua terra natal, a Lousada, depois de muitos anos afastada das suas origens.  “Lousada é onde eu gosto de viver, onde eu gosto de morar e não a trocava por  nenhuma das terras que vivi ao longo de toda a minha vida.”, salienta a professora  Guilhermina. Apesar de gostar muito de viajar, de apreciar e conhecer novas terras, é na  vila das camélias que se sente bem, considerando-a o seu ninho.  

Em consequência da mudança frequente dos governos, como mulher decidida,  aventurou-se a tirar a licenciatura em animação sociocultural, na Escola Superior de  Educação do Porto. Depois de ensinar durante o dia, em conjunto com duas colegas e  com uma irmã, seguia caminho de noite para concluir o curso. E assim foi ao longo de  dois anos.  

Segundo a professora Guilhermina, a vocação pelo ensino destacou-se desde cedo e  teve influência na sua família grande, abastada de crianças. Caracteriza-se por ser uma  pessoa que gosta de dar de si aos outros e que aprecia fazer e sentir os demais felizes.  Assim sendo, a mesma afirma ter nascido para ajudar e para educar. “Ensinar uma  criança é o desabrochar de um botão de uma rosa. Uma criança que nasce do zero é  como se estivesse a dar os primeiros passos não físicos, mas intelectuais.”, reconhece  Guilhermina. 

Pelo meio do orgulho de ensinar, a hesitação e o medo foram sentimentos que surgiram  ao longo da sua carreira. Na altura, da Revolução de 25 de Abril, apareceram vastos  professores provenientes das colónias que, em sequência, ocuparam diversas vagas.  Desta forma, Guilhermina optou por não concorrer a nível nacional e, resultante disso,  esteve no desemprego durante dois anos. “Foram períodos muito difíceis da minha  vida”, conclui. 

Em seguimento, ficou sem vínculo ao Ministério da Educação e, mais uma vez, não  desistiu do seu sonho e procurou ganhar tempo de serviço de modo a ter competência  para ser, novamente, vinculada. Foi na vila de Lousada que lecionou os últimos 20 anos  antes de se aposentar.  

Situação pandémica 

Ao olhar como professora para os dois anos de pandemia, considera ter sido um terror  todos os acontecimentos originários da mesma. Acredita que os docentes tiveram  imensa dificuldade na concentração dos alunos, visto que estes como se encontravam  em casa a distração e as interferências eram bastantes. “Eu acho que isto mais tarde vai  ter repercussões, um bocadinho mais graves.”, afirma Guilhermina.  

A professora pensa que todos os seres humanos deveriam ter as mesmas regalias e as  mesmas oportunidades. Esta sente-se igual a todas as pessoas e, um dos seus maiores  prazeres é partilhar com os outros aquilo que sabe, “ajudar faz parte de mim”, afirma  Guilhermina.  

No seguimento, não considera justo um mundo desigual. Durante o ensino online,  obrigatório, foram várias as crianças que não tiveram computadores ou até rede para  acompanhar as aulas e, particularmente, apoio familiar. “As consequências não vão ser  só a nível intelectual como também mental e, especialmente, social.”, consolida a  professora Guilhermina.  

Universidade Sénior de Lousada 

Guilhermina ainda lecionava em Cristelos, na vila de Lousada, quando foi convidada para integrar a direção da Universidade Sénior de Lousada, a primeira a ser formada na vila.  Há 10 anos que pertence à mesma, realizando multifunções. De professora a aluna, de  diretora a animadora, de música a fotógrafa.  

Quando a Covid-19 assolou o mundo, as pessoas mais velhas sofreram  significativamente devido a não poderem sair de casa e a tristeza tomou conta das  mesmas. “É muito importante uma vida ativa”, salienta a professora Guilhermina. A  Universidade autodidata de Lousada funcionou como um escape onde o convívio e os  afetos eram a premissa. Esta dispõe de disciplinas de inglês, tecnologia, ginástica, entre 

outras. “A universidade para mim foi a segunda casa e a minha segunda família.”,  conclui.  

Ideais de vida 

Desde sempre, a professora Guilhermina, é defensora de se viver uma vida  intensamente, livre de preocupações, enfrentando as adversidades com um sorriso na  cara, “mesmo que tenhamos uma cruz grande na nossa vida, temos de pensar que a vida  é boa e tem de ser vivida”. 

Assume-se como uma mulher guerreira que cumpre todos os objetivos que se propõe  com força e coragem, características que lhe são predominantes. “Sou persistente  quando me meto numa coisa, tenho que ir até ao fim”, afirma Guilhermina. Rege se por nunca desistir dos problemas, incutindo todos esses valores às filhas, assim como,  os seus pais lhe ensinaram. De acordo com a professora, a garra que lhe define é  originária da sua mãe e a força e determinação com que encara a vida do seu pai.  

Mulher dos sete ofícios, hoje em dia, exerce a função de catequista na freguesia de  Cristelos, em Lousada. Apaixonada por desafios, pertenceu à primeira direção da  patinagem artística da vila e ao primeiro agrupamento de escolas a nível nacional.  

Agregado familiar 

“Faço tudo pelas minhas filhas, vivo em função delas”, admite Guilhermina visivelmente  emocionada. O orgulho desmedido nas duas filhas e, consequentemente, nos quatro  netos permite que ultrapasse todas as dificuldades com mais facilidade. Considera que  são pessoas determinadas, guerreiras, com muito sucesso sendo a luz dos olhos da  professora. “São a razão do meu viver”, remata Guilhermina.

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