“Filhos de uma grandessíssima mãe… Cães… Na próxima vez conto-lhes uma história, se houver próxima vez”
Lurdes Castro, Presidente da Assembleia Municipal
A polémica provocada pelas declarações da presidente da Assembleia Municipal de Lousada (AML), Maria de Lurdes Oliveira de Castro, na sessão de 20 de dezembro, chegou a todo o país através de órgãos de comunicação social nacionais. Depois desse impacto, o caso desvaneceu-se por força da paz natalícia. Passada esta quadra, parece certo que o tema virá novamente para a ordem do dia, com o PSD a insistir no pedido de demissão e o PS a segurar a sua dama.
PSD PODERÁ APRESENTAR MOÇÃO DE CENSURA
Com base num excerto da gravação vídeo da sessão da última Assembleia Municipal de Lousada, o PSD alega que não há condições para a continuidade da presidente daquele órgão, mas ao que parece esta não se demite e conta com o apoio do seu partido.
Em conferência de imprensa, o líder social-democrata lousadense, Simão Ribeiro, citou as declarações da autarca socialista Lurdes Castro, Presidente da Mesa da Assembleia Municipal: “Filhos de uma grandessíssima mãe… Cães… Na próxima vez conto-lhes uma história, se houver próxima vez”.
Salientando que “estas palavras são uma ofensa para a Assembleia Municipal e para Lousada”, o dirigente do PSD e vereador municipal, considera que Lurdes Castro “não é digna de ocupar um cargo que foi desempenhado por distintos lousadenses” e insiste que “não há condições para a presidente da Assembleia Municipal continuar a ocupar um cargo onde representa os lousadenses, os quais não a mandataram para chamar aos deputados municipais de cães. Não posso deixar de exigir a sua demissão e que se retrate”.

As palavras polémicas foram proferidas pela autarca depois de perceber que havia muitos votos em branco (do PSD) durante a eleição para os representantes das diversas comissões de trabalho da assembleia, quando foi votada uma lista conjunta, acordada entre PSD e PS, para nomes a designar para várias entidades do município.
As polémicas declarações de Lurdes Castro podem ser ouvidas a partir das 3 horas, 31 minutos e 34 segundos na gravação disponível no YouTube, onde pode ser encontrada pesquisando “Assembleia Municipal de Lousada – Reunião Ordinária 2021-12-20”. Até ao momento, esta gravação ainda não está disponível na página do Município, onde se encontram as quatro gravações das sessões anteriores da AML.
PS não deixa cair Lurdes Castro
“UMA NÃO-QUESTÃO” E “UM LAPSO”
Apesar da nossa insistência, a protagonista deste caso não atendeu a qualquer chamada nem respondeu às mensagens em tempo útil. Quem se prontificou a prestar declarações sobre o tema foi José Santalha (presidente da Comissão Política do PS/Lousada), que considera que “o assunto é uma não-questão e é claramente um aproveitamento político que o PSD está a fazer de um desabafo que a presidente da Assembleia fez para si própria, não visando ninguém em especial”.
O dirigente socialista acrescenta que “esse desabafo surgiu na sequência do comportamento da bancada do PSD, que se tinha comprometido a participar numa lista conjunta de representantes do PS e do PSD, para várias comissões municipais, mas na votação acabaram por não votar nos nossos representantes, enquanto os nossos deputados votaram nos elementos deles, o que motivou aquele desabafo da Dra Lurdes Castro”.
Também Jorge Magalhães, anterior presidente da Assembleia Municipal, entende que “daquilo que tenho conhecimento sobre o caso, foi um lapso de alguém que considero uma pessoa competente e correta, que já deu provas da sua capacidade para liderar a Assembleia Municipal”. O antigo presidente do Município lousadense salienta que “não me parece que seja motivo para se crucificar na praça pública alguém que, por uma vez, teve um lapso”. Jorge Magalhães recordou “debates acalorados em muitas sessões da Assembleia Municipal, nos quais certos limites verbais foram ultrapassados e alguns comportamentos foram infelizes, mas o bom senso acabou sempre por imperar e nunca houve motivo para crucificar ninguém na praça pública”.
CASO ADQUIRIU DIMENSÃO NACIONAL
Correio da Manhã Jornal de Notícias Observador
O caso tomou proporções à escala nacional por via de órgãos de comunicação de grande dimensão, como o Observador, o Jornal de Notícias e o Correio da Manhã, entre outros.
Um dos mais expressivos órgãos de comunicação nacionais online, o Observador, escreveu: “Lousada – Simão Ribeiro acusa presidente da Assembleia Municipal de chamar «cães» à oposição e pede a sua demissão”.
Já o Jornal de Notícias deu à estampa na sua edição em papel e na página online o seguinte título: “PSD quer demissão da presidente da assembleia de Lousada por palavras de «ódio»”. Na secção “Altos e Baixos” este diário portuense atribui nota negativa a Lurdes Castro.
De igual modo o Correio da Manhã dedicou destaque ao caso, tendo inclusive estado presente na conferência de imprensa do PSD/Lousada. Na edição de 23 de dezembro, aquele diário da capital publicou: “O PSD/Lousada exigiu esta quinta-feira a demissão da presidente da assembleia municipal, Lurdes Castro (PS), por ter proferido declarações dirigidas à oposição que os social-democratas consideram de «ódio e sectarismo»”.
Nesta terça-feira, o referido vídeo da Assembleia Municipal colocado no YouTube já tinha 2.254 visualizações, substancialmente mais que as 70 visualizações do vídeo da sessão anterior, de 10 de setembro de 2021. A primeira sessão da AML gravada e colocada ao dispor dos cidadãos na página da Câmara Municipal e na plataforma YouTube tem até agora 34 visualizações.
Atenta-se facilmente que a gravação da última sessão da Assembleia Municipal não tem ativada a opção de colocar comentários do público. Contrariamente, as quatro gravações anteriores têm essa função ativada, embora nunca tenha sido usada por qualquer pessoa para tecer comentários.
MOÇÃO DE CENSURA EM CIMA DA MESA
Uma fonte da bancada social-democrata na Assembleia Municipal disse a O Louzadense que “os órgãos do PSD irão reunir por estes dias, para tomar uma decisão, e várias hipóteses estão em cima da mesa”. O mesmo deputado municipal referiu que entre essas hipóteses está a apresentação de uma moção de censura, uma ação judicial por difamação, entre outras possibilidades.
Se a demissão da cabeça de lista do PS continuar a não ser opção para a própria visada, nem para os socialistas, então é de crer que a Moção de Censura (a ser apresentada) não produzirá efeitos práticos, dado que a maioria socialista na Assembleia Municipal é substancial, com 22 deputados municipais contra 14 do PSD.
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