Foi durante décadas um baluarte da Banda Musical de Lousada. Este cidadão devotado ao trabalho e à família, foi um músico excelso e um magnífico compositor. Foi também um dos defensores do bairrismo local e da cidadania louzadense. Imortalizou esse sentir na marcha musical “O Louzadense”. Ainda nos dias de hoje a filarmónica lousadense tem no reportório esse tema que é um hino ao sentimento bairrista dos habitantes desta terra.
Rodrigo Fernandes nasceu em 17 de Março de 1911, na freguesia de Santa Cristina de Nogueira. A sua vida, terminada em 25 de Novembro de 1999, ficou marcada por um forte ligação de 70 anos à Banda de Lousada, como executante, compositor, diretor e copista.
Viveu a sua infância em Nogueira, onde foi aluno da professora Aurora Ribeiro, mãe do Julinho Ribeiro, do Notário, o qual um dia encomendou a Rodrigo Fernandes o hino da Associação Desportiva de Lousada.
Aos 14 anos foi trabalhar para o Porto, na Confeitaria Abreu, na Praça Carlos Alberto, mas ao fim de quatro anos, uma doença óssea fê-lo regressar a Lousada. Foi para tamanqueiro, nos Eidos Novos (Pias) e mais tarde foi funcionário dos lacticínios na Quinta da Tapada, onde se tornou escriturário. Regressou aos Eidos Novos, onde exerceu o mister de Encarregado de Pessoal, onde se manteve até à reforma.
Rodrigo Fernandes casou com Joaquina Vieira a 11 de agosto de 1934. Tiveram 20 filhos, de que sobreviveram 12: Inácia, Salvador, Maria Elisa, Maria Luísa, Maria Raquel, Eduardo Manuel (falecido em 1998), Lucília, Francisco Augusto, Maria Madalena, Alberto, Rodrigo Elísio e Luís Ângelo.
Costumava dizer que o gosto pela música lhe estava entranhado, por influência do seu tio António, que era barbeiro, avô do Sr. José Fernandes (também ele barbeiro da Vila, já falecido), que se dedicava ao fabrico de bandolins, banjos, violas, violinos, instrumentos que tocava muito bem. Também dois primos, José e Manuel, exímios na arte de dedilhar viola lhe incutiram o gosto musical.
O seu primeiro professor de música foi José Queirós, da Ordem, que tocava trompete, através do qual entrou com 18 anos para a banda filarmónica lousadense.
O seu segundo mestre foi Joaquim Neto, que era tamanqueiro com o irmão, Francisco Silva Neto, na loja do pai, onde existiu a padaria Soares (atual padaria Delícia). Joaquim Neto tocava saxofone-soprano e fazia parte da banda com o seu irmão.
Outros grandes mestres se seguiram, como Joaquim da Costa Chicória, que foi regente da banda lousadense durante vários anos, o qual Rodrigo Fernandes reputava como uma verdadeira sumidade como compositor.
Lançado nas lides musicais, recebeu deste mestre vizelense o repto: “Olha rapaz, trabalha e aperfeiçoa-te”. E de facto assim fez. Comprou muitos livros e aprendeu com outros músicos mais experientes.
Rodrigo Fernandes foi autor de diversas composições, nomeadamente «Costa, Silva e Companhia», «Os Patrões», «O Lousadense», «Os Carvalheiras» e «Vale do Sousa».
A música que conquistou maior popularidade foi “O Lousadense”, quer pela homenagem ao concelho, quer pela sua brilhante orquestração. Esta foi a composição vencedora do primeiro prémio de Interpretação obtido pela Banda Musical de Lousada, na Alemanha, no Concurso Internacional de Bandas Civis, que, em 1985, reuniu 220 Bandas de todo o mundo.
Este facto constituiu uma alegria e uma tristeza, pois Rodrigo Fernandes não foi com a banda à Alemanha porque uns dias antes da partida foi acometido por um rebentamento de varizes nas pernas.
Rodrigo Fernandes também colaborou ativamente com as mais diversas instituições locais, elaborando letra e música de canções, hinos e janeiras.
O seu instrumento preferido foi o saxofone-alto, embora tivesse começado pelo saxofone-tenor. Mas orgulhava-se de tocar e compor para qualquer instrumento musical.
Dos «companheiros de viagem» nas lides da Banda fazia sempre questão de referir com um especial sentimento de amizade e de saudade amigos como José Maria Carvalheiras e Narciso Ribeiro da Mota, respetivamente excelentes executantes de bombardino e fliscorne. Também Manuel Mota, de Casais, um clarinetista, com o qual formou dupla de vetustos resistentes da Banda. Recordava com igual saudade José Vieira, tamanqueiro de Ponterrinhas, Miguel Teixeira dos Santos, clarinetista de Nogueira, Belmiro Pinto, trompetista de Nespereira, António Pinto, saxofonista, também de Nespereira; Luís Morais (conhecido como Luís do Ernesto), de Lagoas; António Dias de Sousa, clarinetista e saxofonista, da Tapada.
Por tudo isto e mais que aqui não cabe, Rodrigo Fernandes foi indubitavelmente um Louzadense com Alma.

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