Natural de Meinedo, Mário Jorge Magalhães, de 35 anos, é enfermeiro e diretor de um centro geriátrico em Barcelona (Espanha). Vive naquela cidade há 11 anos, com a esposa, a espanhola Laura Casenave, e o filho de ambos, Guilherme. A incerteza e o receio prevaleciam quando emigrou, mas atualmente está contente pelo passo dado e pelo rumo que deu à sua vida.
“A minha chegada a Barcelona aconteceu há 11 anos”, adianta ao O Louzadense. Os motivos da ida para aquela imensa cidade espanhola foram “a precariedade laboral, a falta de oportunidades na área de enfermagem, a desilusão com a falta de reconhecimento de um país com esta categoria profissional e a decisão por empreender uma aventura e uma nova experiência trouxeram-me até aqui, onde várias dessas lacunas foram muito compensadas”, afirma Mário Jorge.
A ida não foi uma decisão muito fácil. “Lembro-me perfeitamente da viagem até ao aeroporto do Porto, para onde me levou um grande amigo, com a sensação de deixar a família e amigos para trás”, recorda.
“Também complicado foi o momento da chegada, pois é sempre difícil, aparecem os medos, as dúvidas, afinal eu tinha 23 anos e tudo era novo, mas havia que tentar adaptar-me e viver a experiência que inicialmente seria temporária, mas que, com o tempo acabou por se revelar duradoura”, confessa. “Lembro-me dos detalhes da chegada a Barcelona, de apanhar um táxi e procurar um hotel onde dormir essa noite porque no dia seguinte às oito horas da manhã começava a trabalhar, de passar essa mesma noite em claro, nervoso, com mil dúvidas, de chegar no dia seguinte com a mala de viagem ao trabalho, sem imaginar que seria o começo de algo realmente bonito na minha vida”, explana Mário Jorge Magalhães.
A adaptação revelou-se mais fácil do que seria de esperar: “em geral, encontrei-me com uma situação em que as pessoas estavam dispostas a ajudar e fazer com que a adaptação fosse o mais fácil e tranquila possível, e apesar da nostalgia e da saudade, foi de facto uma adaptação relativamente fácil, por todo um conjunto de fatores, como a amabilidade das pessoas, o facto de encontrar outros portugueses nas mesmas circunstâncias, conhecer a pessoa que hoje é alguém imprescindível na minha vida e mãe do meu filho, a cidade e o clima, tudo ajudou”, afirma com satisfação.
Mas também encontrou entraves e dificuldades: “os idiomas (catalão e castelhano) e o tamanho e a organização da cidade comparativamente à minha realidade que era Lousada, foram adaptações difíceis”.
“Culturalmente podemos dizer que Portugal e Barcelona são similares em muitos pontos básicos, mas realmente aqui a abertura, a aceitação da diferença e diversidade de culturas derivada da chegada de pessoas de muitas partes do mundo me parecia fascinante e assim me continua a parecer ainda hoje”, declara Mário Jorge.
O multiculturalismo de Barcelona
“Essa questão da mentalidade e da predisposição à abertura e aceitação da diferença, a predisposição à criatividade e a ser uma população empreendedora e com muita iniciativa em geral”, são as características que este emigrante destaca em Barcelona.
Além disso, faz também notar outras preferências: “adoro o clima, o bom ambiente e a boa disposição que isso trás, a beleza da cidade e de outras regiões da costa Catalã, e ter tudo bastante acessível e disponível”, salienta.
Em contrapartida, tem dificuldade em enumerar algumas coisas negativas: “poucas são sinceramente as coisas de que não gosto, mas posso referir, talvez determinadas situações incómodas provocadas pelas diferenças das ideologias políticas relacionadas com o tema independentista”, acrescenta.
As saudades, esse sentimento que vive com os emigrantes, “estão principalmente presentes naquelas datas marcantes em que não podemos estar com a família e com os amigos, com quem antes passávamos bons momentos. Por vezes, sinto muito a falta de tranquilidade da minha terra, da comida como é óbvio, mas como disse, tenho saudades principalmente de passar bons momentos com os meus”, explica este cidadão de Meinedo.
“Apesar das saudades da família e dos muitos amigos que tenho por aí, tenho claro e como objetivo viver aqui, não tenho em mente voltar. As idas até Portugal atenuam as saudades e vivemos bons momentos com intensidade, mas quando vamos, está sempre presente voltar a Barcelona, e já começo a sentir a minha casa aqui como o meu “cantinho”. Tenho sim como um objetivo num futuro longínquo, juntamente com Laura experimentar viver em algum país e realizar tarefas de cooperação, mas tudo vai depender de como decorrer a vida, claro”, revela Mário Jorge.
Por último, abordamos com este migrante a questão da pandemia, sobre a qual diz que “está a ser vivida aqui de uma maneira similar a Portugal, nas limitações e no medo. Para mim profissionalmente implica viver muito intensamente esta questão, com muito desgaste, como acontece com toda a população, mas também com muita vontade e esperança de ver uma solução em breve, que permita vivermos mais tranquilos e desfrutando da vida como todos merecemos”.
É mais um caso feliz de alguém que sentiu na partida as dificuldades do primeiro passo rumo a algo desconhecido mas, anos mais tarde, a satisfação prevalece.
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