por | 12 Mar, 2022 | Louzadense com Alma

José da Cunha: Pequeno em estatura mas grande em humanismo

José Joaquim Soares Coelho da Cunha

Homem de baixa estatura física, mas de uma extraordinária grandeza humana, este foi um cidadão de realizações admiráveis e de um brilhante espírito empreendedor. No futebol, nos bombeiros (de Lousada e de Caíde), na política (PSD), na vida empresarial, enfim, onde quer que se metesse fazia sobressair o seu espírito empreendedor, conquistador e humanista. 

José Joaquim Soares Coelho da Cunha, de seu nome completo, nasceu em 6 de Junho de 1950, no lugar de Pereiras, em Caíde de Rei (Lousada), filho de Gloria Zulmira Soares Coelho da Cunha e de José Maria da Cunha. Casou com Maria de Fátima Araújo Oliveira da Cunha, com quem teve dois filhos: Isabel Maria Oliveira da Cunha e Tiago José Oliveira da Cunha

Em 1956 iniciou a Escola Primária no Lugar da Estação em Caide de Rei onde completou o Ensino Primário em 1961. Depois dos estudos básicos, foi para a Escola Industrial do Porto (Escola Industrial Infante D. Henrique), onde completou o 6º ano do Curso Eletromecânico. Em 1968 teve o seu primeiro emprego na empresa de seu padrinho, “José Ribeiro da Cunha Empreiteiros”, com sede na freguesia de Caíde de Rei . Entre 1972 e 1978 trabalhou na empresa Conduril – Construção Civil e Obras Públicas.  Em 1978, por decisão de seu padrinho, José Ribeiro da Cunha e seu sócio José Mesquita , decidiram vender as quotas da empresa José Ribeiro da Cunha Empreiteiros ao seu filho António Joaquim da Cunha e seu afilhado, José Joaquim Soares Coelho da Cunha, os quais criaram a empresa CUNHAS-Construções e Obras Públicas, Lda. 

Esta empresa ganhou fama e prestígio devido a grandes feitos sobretudo na construção de campos de futebol relvados, usando técnicas inovadoras naquele tempo. Para isso José Joaquim da Cunha efetuou diversas visitas a estádios europeus, designadamente do Manchester United (Inglaterra) e do Feyennord (Holanda). Entre outros por aquela empresa construídos, o relvado do campo da Boavista, em Lousada, foi durante vários anos considerado um ex libris dessa construção inovadora.

Em 1994, José Cunha decidiu com o seu primo, António Joaquim, mais conhecido por “Toninho Quim”, a divisão da sociedade. José Joaquim Cunha criou a empresa JOCL-José Cunha Empreiteiros e a partir dessa data acentuou-se o crescimento da sua atividade empresarial, onde se destacou a construção do Estaleiro Central em Caíde de Rei, na Estrada Nacional 15. Construiu obras de grande impacto regional e nacional, como foram os casos do Estádio do Moreirense, em Moreira de Cónegos e do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães. Em 1982, constituiu a sociedade VALTÂMEGA-Empreendimentos Turísticos e em 1990 fundou a FILTRONORTE-Filtros Industriais do Norte, de filtros para viaturas ligeiras e pesadas e outros acessórios.

Em 1996 continuou a diversificar a  atividade empresarial e constituiu uma empresa de comércio a retalho de combustíveis para veículos a motor, denominada SPM-Sociedade de Petróleos do Marco e em 1997 formou a sociedade JARPEL-Construções e Manutenção de Relvados e Jardins.

Condecorado em Angola

Em 2002  José Cunha foi convidado pelo seu irmão António Cunha, residente e comerciante de grande sucesso há alguns anos em Angola, para constituir uma sociedade de construção civil e obras públicas naquele país. Ali nasceu a empresa 7 Cunhas – Construtora e Obras públicas. Como administrador da empresa em Angola, José Cunha contribuiu com o seu saber e dinamismo para o desenvolvimento socioeconómico na província de Lunda Sul, na região do Leste de Angola. Por isso, foi distinguido pelo governo angolano, pelo ministro e general Higino Carneiro, do Ministério das Obras Públicas. 

Além da vida empresarial, este lousadense notabilizou-se noutras áreas onde fez sobressair as características de empreendedor e mobilizador. Só para citar alguns cargos e entidades em que esteve envolvido: foi vice-presidente da Associação de Futebol do Porto, durante um mandato; foi membro do Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol do Porto (AFP), sendo seu vice-presidente, nos mandatos de 1988-91 e 1993-97; foi presidente e grande dinamizador do Caíde de Rei Sport Clube; etc. 

A par do espírito empresarial e da vocação associativa, José Joaquim da Cunha manteve sempre uma forte vontade de ajudar os outros e a sociedade em geral. Por isso se dedicou à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lousada, entre 1990 e 1995,  período em que aconteceu uma importante remodelação das instalações do quartel, bem como a renovação da frota automóvel.

Foi um dos impulsionadores da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Caíde de Rei e, também por isso, a titulo póstumo, a Junta de Freguesia, colocou o seu nome numa nova rua de uma urbanização local. 

Várias façanhas históricas na ADL

Algumas das páginas da história da AD Lousada foram imaginariamente escritas a ouro. Entre essas encontram-se façanhas lideradas por José Joaquim da Cunha.

Em 1983 ninguém se voluntariou para assumir a presidência da Associação Desportiva de Lousada (ADL). Para desbloquear essa crise diretiva, a Câmara Municipal, pelo vereador do Desporto, pelo PSD, Rui Magalhães, convidou o empreiteiro José Joaquim da Cunha para formar uma lista. Entre muitos outros, esta incluía António Gomes Soares, António Fernando Gomes dos Reis, Luís Maria Bessa Peixoto, José da Silva Miranda, Luís Jaime Bessa Peixoto e José Carvalho Maranteiro. 

Um dos momentos altos do primeiro mandato do empresário caidense aconteceu no dia 26 de Dezembro de 1983, quando foi comemorado o 35º aniversário da ADL, ocasião que foi aproveitada para uma homenagem póstuma a António Gomes Ribeiro, falecido nesse ano. O ponto alto das comemorações consistiu num jogo entre o F. C. do Porto, treinado por António Morais, e a A. D. de Lousada, que terminou empatado a uma bola. Antes do jogo o presidente da ADL, José Cunha, que foi um apaixonado pelo clube azul e branco, homenageou o «Bota de Ouro» portista, Fernando Gomes. As excelentes relações de José Joaquim da Cunha com os dirigentes portistas haveriam de o levar a dirigente do clube da cidade Invicta, onde foi vice-presidente de Jorge Nuno Pinto da Costa.

Mas a principal obra deste mandato à frente da ADL aconteceu no verão de 1984, com a construção do edifício-sede da ADL e ampliação do balneário e da bancada.

Em Junho de 1985 o Lousada sagrou-se campeão da 1ª Divisão Distrital, com 57 pontos, feito inolvidável que permitiu subir à 3ª Divisão Nacional. As faixas de campeão foram entregues antes do jogo com o Sport Rio Tinto, no Estádio da Boavista, numa cerimónia que contou com a Fanfarra de Boim e dos Ranchos Folclóricos de Romariz, Nogueira, Aparecida e Santa Eulália de Barrosas. Por tudo isto e muito mais que aqui não cabe, José Joaquim da Cunha ficou na história da ADL como um dos seus maiores presidentes.

Bem disposto e feliz

Uma das inúmeras pessoas que privou de perto com este lousadense foi Luís Jaime Peixoto, que recorda assim o amigo: “Quando eu fui tesoureiro e ele presidente da ADL, acontecia frequentemente colocar nas minhas mãos cheques em branco dele para abastecer a conta bancária do clube e essa confiança só era possível pelo respeito e amizade que ele cultivava à sua volta. Outro aspeto que eu mais apreciava nele era o seu sentido de humor e felicidade. Era baixinho e por isso era conhecido por Cunha Pequenino e ele brincava com isso, como aconteceu numa situação que passo a contar. Normalmente chegava atrasado aos encontros e jantares, por força dos seus muitos afazeres. Certo dia, num grande jantar comemorativo, na Fabinter, com cerca de 180 pessoas, chegou quando já todos estavam sentados e o presidente da Câmara na altura, Sr. Amílcar Neto, disse com boa disposição: «Como de costume, o Sr. Cunha chegou atrasado!». Ele respondeu: «Faço de propósito. Vocês sentados já reparam mais em mim!”.

O falecimento de José Joaquim da Cunha, em 1 de outubro de 2004, em Angola, vítima de ataque cardíaco, provocou uma onda de consternação à medida da dimensão da sua popularidade. As cerimónias fúnebres realizadas três dias depois juntaram em Caíde de Rei cerca de cinco mil pessoas.

É caso para dizer que os homens não se medem aos palmos.

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