Opinião de Pedro Amaral
Nas últimas semanas a Europa e o Mundo acordaram para uma realidade que não conheciam desde o final da 2ª Guerra Mundial. Não deixa de ser verdade que desde essa altura existiram vários conflitos armados de índole regional ou separatista que marcaram pontualmente o velho continente, mas o certo é que um conflito envolvendo qualquer das “grandes potências europeias” em solo europeu é algo que não era visto há várias gerações.
E se, para aqueles que conviveram com a cortina de ferro e a Guerra-fria, um conflito entre Leste e Ocidente parecia improvável, o facto é que, para a minha geração, que nasceu já depois da queda do muro de Berlim e da dissolução Soviética, um conflito geopolítico nestes termos na Europa, parecia, mais do que isso, absolutamente impensável.
O certo é que há vários anos que as nuvens se vinham formando a Leste entre uma Ucrânia cada vez mais ocidental e democrática e uma Rússia cada vez menos “soviética” e mais imperial. E perante esse escalar de tensões, a Europa acabou mesmo por ter de suster a respiração e mergulhar num conflito que não quis, mas para o qual, por inacção, acabou por contribuir.
Ainda assim, várias têm sido as surpresas que têm surgido da tragédia deste conflito.
Desde logo uma massiva resposta solidária tão característica do humanismo intrínseco que a Europa parecia ter esquecido. Fronteiras abertas e acolhimento dos refugiados de guerra, recolha de víveres, roupas e medicamentos, ajuda hospitalar e internacional. A consciência de que os valores comuns que nos unem são manifestamente superiores às diferenças sociais e culturais que nos separam.
Para além disso, uma surpreendente resposta internacional concertada. A nível europeu quem melhor o descreveu foi a Presidente da Comissão Europeia ao afirmar que “a Defesa da UE evoluiu mais nos últimos seis dias do que nas últimas duas décadas”.
E, finalmente, a grande surpresa que tem sido a contemporânea história de David e Golias a que temos assistido neste conflito. De facto, o mundo tem muito a aprender com o espírito, coragem e tenacidade do povo ucraniano que recusa capitular face ao avanço de um dos exércitos mais poderosos do mundo.
Olhando para o exemplo da história, Churchill, que compreendia, à frente do seu tempo, os conceitos de branding e de marketing, usou o seu estilo bonacheirão vitoriano e a sua eloquente oratória para galvanizar os britânicos para a 2ª Guerra Mundial.
Volodymyr Zelensky num estilo bem evocativo de Churchill continua, ainda hoje, a ser dos poucos líderes que também os compreende. Mais que isso, o Presidente Ucraniano reconhece não só a importância de estar presente e de se fazer mais um dos milhares que lutam pela sua liberdade nas barricadas das cidades, mas também a importância dos social media na forma como persistentemente passa a mensagem de que a Ucrânia resiste perante a agressão russa.
Este é o primeiro grande conflito da era digital e será por intermédio da comunicação digital, tanto quanto pelas armas, que será ganho.
Putin não o compreende e por isso mesmo caminha inevitavelmente para a conquista inevitável de si próprio.
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