Casa Grande de Vilela

Situa-se a poucos metros da estrada municipal que liga a vila de Lousada a Caíde. Entra-se por um portão em ferro e capa. Um caminho em terra batida leva-nos até à sua fachada norte. À nossa esquerda deparámos com a escadaria de dois lanços e à direita podemos admirar a vetusta capela de Nossa Senhora de Oliveira. O caminho estreita-se junto à capela, mas logo se transforma num largo terreiro, fronteiro à fachada Este da casa. A capela está destacada.

Manuel Pinto de Magalhães, foi o primeiro proprietário desta casa em 1758, sucedeu-lhe D. Maria Josefa Pinto de Magalhães Coelho, sua filha, que nasceu a 26 de outubro de 1727, em Aveleda e faleceu a 22 de setembro de 1782, com escritura dotal, e contando com um funeral de 156 padres. O seu filho António de Magalhães Coelho Seixas, foi também senhor desta casa. Nascido em Vilela, foi bacharel em direito pela universidade de Coimbra, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo e Juiz de Fora de Penafiel.É uma residência que pertence à mesma família há várias gerações e que detinha o “Privilégio das Tábuas Vermelhas,” isto é, foi uma das trezentas casas do reino nomeadas por D. Afonso V para fazer a coleta de impostos, e possuía, por essa razão, determinadas regalias, a saber: não pagar impostos; os homens que viviam no seu domínio não eram obrigados a ir para a guerra; se alguém andasse fugido à justiça e entrasse na capela de Nossa Senhora de Oliveira não podia ser preso ou castigado enquanto lá permanecesse, cabendo em exclusivo ao senhor da casa a autorização decisiva.374 Manuel Pinto de Magalhães era o principal possuidor de bens e terras do lugar de Vilela, e a casa chamava-se Grande “por ser o dito Manoel Pinto de Magalhaens possuidor da maior parte dos bens daquelle Lugar de Vilella.”

Casa Grande de Vilela, 2007. Desenho de Carolina Ribeiro, Arquivo Particular do Autor.

A sua história arquitetónica, como de todas as casas nobres deste concelho, é desconhecida, já que não há um contrato de obra que nos permita datar com precisão a sua construção, tal como acontece com praticamente todas as outras edificações concelhias. Não poderemos fazer, portanto, a sua cronologia. No decurso da nossa investigação deparámos com determinadas referências, que, apesar de julgarmos pouco consistentes, não queremos deixar de citar: nomeadamente a alusão a que esta casa teria sido edificada no século XVIII. No sítio da Associação de Municípios do Vale de Sousa afirma-se: “A casa mostra padrões arquitetónicos ao gosto do século XVIII, apesar das transformações do século XIX.”

Começou por ser uma grande casa de lavoura, como quase todas as atuais casas nobres de Lousada. O edifício primitivo tinha apenas a dimensão dos primeiros dois panos da fachada Este, e segundo os atuais proprietários, em meados do séc. XIX, foi objeto de restauro e de acrescentos. Nos anos cinquenta da centúria de novecentos, volta a sofrer um profundo restauro, época em que é corrigido o alinhamento da cornija e do telhado. Em 1989 beneficiou de um significativo programa de obras, tal era o seu estado de degradação, uniformizando-se a fachada principal, transformando-se a portada do terceiro pano em janela e acrescentando-se mais duas janelas. Isto é, não possuía, em 1988, no rés-do-chão, à esquerda do terceiro pano, as três janelas molduradas e gradeadas, mas sim uma portada, e só em 1989 é que foram executados tais acrescentos.

O corpo da fachada principal, virada a Este, foi dividido, verticalmente, por pilastras, que criaram três zonas e três panos. No rés-do-chão, no primeiro pano, apresenta-se uma portada moldurada. O mesmo ritmo acontece no segundo pano. No terceiro pano, à esquerda, vêem-se três janelas de peitoril gradeadas. Enquanto no andar nobre, no primeiro e segundo panos, se abre uma janela de sacada dupla, em cada pano, e no pano à direita, quatro janelas de sacada. A fachada Oeste, no rés-do-chão, exibe duas portadas, e, no primeiro piso, duas janelas de peitoril. Na fachada Sul, vislumbra-se uma janela de peitoril. A fachada Norte, foi dividida, verticalmente, por uma pilastra; criando duas zonas e dois panos; no rés-do-chão, à direita, há uma portada e uma janela de sacada, enquanto à esquerda se veem duas portadas, uma janela de peitoril gradeada e uma escadaria em dois sentidos que nos conduz a uma portada moldurada com duas janelas de sacada, à direita, no primeiro andar.

No interior da capela existe uma pedra com a seguinte inscrição: “Manoel Pinto de Magalhaens Coelho e sua mulher Maria Jozefa/ Pinto de Azevedo, senhores da caza/ e pesohidores que foraõ desta quinta, da Caza Grande, chamada de Villela, nel/la mandaraõ fazer esta capella com o/ titullo de Nossa Senhora da Oliveira, com a concideraõ/ de serem seus cazeiros previlegiados como/ prvilegio das Taboas Vermelhas, das mesmas da uma de Guimarens; e nella deixaraõ/ hum legado de missas todos os domingos e dias santos/ do ano e as tres dias de Natal, enquanto o Mundo durar/. E aplicadas por modo de sufragio pellas suas almas de hum e de outro/ e pellas de seus pais. E mais de hum e de outro/, e para pagamento das ditas missas/ deixaraõ humas terras de herdade que se compraraõ/ a Maria Vieira, uma do lugar de Pinheiro, freguesia de Santa Maria de Airaens, / concelho de Filgueiras. Como taõ bem as duas besadas, chamadas de Sub-Cartaõ/ (…) tudo obrigado ao dito legado e o mais que sobejar será/ para o herdeiro dos ditos legatários e seus sucessores/. A ajuda da fabrica da dita capella e veneraçaõ della foi fe/ita esta pedra e acabada a 26 de Março de 1756. A./” 

A fachada Norte da capela de Nossa Senhora de Oliveira é rasgada por um portal moldurado que tem a coroá-lo, no tímpano, uma pequena edícula; uma cruz trilobada encima o frontão. As pilastras são sobrepujadas por pináculos. Na fachada Norte, por cima do frontão, uma cruz apontada, e na fachada Oeste um portal moldurado. O campanário coroa a cornija no enfiamento do portal sendo constituído por um arco de volta perfeita, encimado por uma cruz latina e dois pináculos.

Capela de Nossa Senhora de Oliveira
Capela e casa de Ribaboa (Penafiel).

Tanto o campanário como o portal das capelas da Casa Grande de Vilela (Lousada), à esquerda, e da Casa e Morgado de Ribaboa (Penafiel), à direita, são muito semelhantes na sua forma. Aliás, estas duas fachadas só divergem na abertura que a capela da Casa Grande de Vilela apresenta à direita da portada.

Consultar:  I. A. N./ T. T. – Dicionário Geográfico. 1758, vol. 5; FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – Carvalhos de Basto. Porto: 1981, vol. III; Casas de Sousa Associação de Turismo Rural do Vale de Sousa; À Descoberta de Lousada. – Aveleda. Lousada: Edição do Agrupamento de Escolas Lousada – Norte, 2001; A. D. P. Secção Notarial. Po-1, 4ª série, Livro nº 120, 1756;  Ficha de Inventário – Casa Grande de Vilela. vol. II, p. 227

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