por | 3 Abr, 2022 | Louzadense com Alma

José Luís Pires: No coração levou a Festa Grande que tanto amava

Uma das muitas formas de expressar o sentimento bairrista manifesta-se na organização de festas para animar a população, engrandecer a localidade e celebrar os santos e as tradições. José Luís Pires foi um grande apaixonado não só pelas festas em si como também pela sua realização. A paixão por Lousada não se manifestou apenas nas festas mas também na atividade autárquica e no futebol, onde esteve em momentos chave do clube local.

Nasceu no lugar da Boavista, na freguesia de Silvares, em 28 de Novembro de 1933 e faleceu com 83 anos, em 18 de Outubro de 2019, vítima de derrame cerebral. Foi casado com Carolina Teixeira Marinho de Lemos, natural da freguesia de Borba da Montanha (Celorico de Basto), falecida em 10 de Fevereiro de 2018, com 85 anos.

Tiveram um filho, Francisco Xavier Teixeira Pires, casado com Paula Regina Teles e foram avós de Georgina Alexandra Costa Pires, Valentim Rafael Costa Pires e Francisca Regina Teles Pires, e uma bisneta, Margarida Alexandra Pires Nunes.

No Porto trabalhou na extinta UTIC – União de Transportes para Importação e Comércio, no sector da pintura de autocarros. Abandonou a pintura devido a problemas respiratórios e de seguida trabalhou em várias estações de serviços como lubrificador de automóveis. Só nos inícios da década de oitenta regressou a Lousada como funcionário da extinta Bravisauto e em 1981 criou a Estação de Serviço Santo André.

José Luís Pires presidiu e colaborou durante 35 anos em várias comissões das Festas Grandes do Concelho de Lousada em louvor ao Senhor dos Aflitos, inclusive aquando das comemoração do centenário, em 2006.

Este lousadense com alma foi sem dúvida um dos mais importantes festeiros da história local. O seu fervoroso carinho festeiro manifestava-se de várias formas, mas acentuava-se com a chegada do Verão, com o  erguer do mastro na torre sineira ao som foguetes e bombos no adro do templo do Senhor dos Aflitos. Nas festas tinha vários rituais preferidos, como o acender das “tigelinhas”, a atuação das Bandas Filarmónicas e a procissão, onde vivenciava a sua imensa e venerável fé religiosa.

Gostava de ouvir o sino

Das muitas festas que viveu como presidente, José Luís Pires gostava de destacar uma que lhe ficou marcada na memória. Foi a Festa Grande de 2005, que assinalou o centenário desta festividade lousadense, que nesse ano teve a missa de domingo transmitida em direto pela TVI, teve acrobacias de um avião minutos antes da saída da procissão, o lançamento de um livro sobre os 100 anos das festas, entre outros eventos.

Este bairrista participou durante vários anos também como timoneiro ou colaborador nas festividades da freguesia de Cristelos, onde residia, em honra da Nossa Senhora do Loreto e Nossa Senhora da Conceição, que se realizam anualmente em alternância.

A propósito de fé e de bairrismo, o seu filho Xavier afirma que “nos anos anteriores a 1976, quando residia no Porto, apesar da distância e restantes constrangimentos (meios de transporte, estradas estreitas e perigosas), ele adorava o ritual de vir a Lousada, ao fim-de-semana, porque se assim não fosse passava a semana com nostalgia, por não ter escutado o sino da torre do Senhor dos Aflitos”.

Outra das suas fortes paixões era a Páscoa. Gostava de todos os rituais e sentimentos que esta celebração congrega, mas o Compasso ou Visita Pascal enchiam-lhe as medidas, principalmente se esse cortejo festivo que assinala a Ressurreição de Cristo fosse acompanhado com Banda de Música, a qual ele gostava de supervisionar e acompanhar abnegadamente na freguesia de Cristelos. 

Iluminação do campo de futebol

No final dos anos 50 e início da década de 60 fez também da direção nos ainda inícios da Associação Desportiva de Lousada, (o que não correu nada bem em termos financeiros, ficando assim com várias dívidas pessoais inclusive, altura em que teve de sair da sua terra natal e ir trabalhar para Lisboa e de seguida para o Porto, para poder colmatar a situação e poder honrar os compromissos, quer a nível da associação e pessoal), sendo que também foi atleta nas primeiras equipas da Associação Desportiva de Lousada (ADL), embora por pouco tempo, devido a ter de cumprir o serviço militar obrigatório, durante o período longo de quatro anos na Índia. 

Em 1964 foi tesoureiro da direção da ADL, presidida por Manuel Afonso da Silva, e que integrava também António Luís Ferreira da Silva (vice-presidente), Eduardo Xavier e Carlos Teles (secretários) e o vogal António Elísio Alves de Magalhães.

Em Maio de 1965, José Luís Pires fez parte da comissão que foi responsável pelo feito histórico da instalação de iluminação elétrica no campo da Boavista. Os outros comissionistas eram Arnaldo Azevedo Pinto, Joaquim Maria Fernandes, João Augusto Pereira, António Augusto Mota, António Abílio Leite Meireles e António Vergas Alexandre

Grande defensor da Banda Musical

O gosto que nutria pela música filarmónica e a amizade para com o seu compadre Paulo Afonso da Cunha, levou-o a devotar-se durante vários mandatos à Banda Musical de Lousada. Ambos estiveram nos elencos que promoveram as bases para o ensino oficial da música em Lousada, no início da década de 80.

As diligências para concretizar esse objetivo e outros que a BML tinha, motivaram várias idas a Lisboa, mormente no tempo em que a Secretaria de Estado da Cultura era dirigida por Pedro Santana Lopes.

Esteve de igual modo ligado  à origem da Secção de Motorismo da Associação de Cultura Musical de Lousada e que de seguida deu origem ao CAL – Clube Automóvel de Lousada. Nesse contexto, José Luís Pires fez parte da organização das primeiras corridas de Motocross e Popcross, que foi a modalidade que deu origem ao Autocross, assim como esteve entre os promotores da pista na Quinta das Pocinhas. De todas essas  aquisição do 1º autocarro da Banda Musical de Lousada.

“Escusado será dizer que se orgulhava de alguns momentos altos vividos pela Banda no estrangeiro, principalmente na Suíça e na Alemanha, em representação de Portugal em festivais de bandas filarmónicas”, afirma Xavier Pires.

Por último, mas igualmente significativo uma nota para o seu desempenho como secretário da Junta de Freguesia de Cristelos, durante pelo menos dois mandatos nos anos 80, pelo Partido Social Democrata, partido que o condecorou pela sua militância e pelas funções exercidas como autarca. 

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