Tem 39 anos, é natural de São Miguel (Lousada) e vive à espera da “Carta Verde”, o visto de entrada nos Estados Unidos, onde esteve 10 anos a trabalhar como mecânico de automóveis de corrida. O curso técnico-profissional em tecnologia de redes informáticas levou-o à antiga Portugal Telecom, onde conheceu um técnico americano que tinha um carro de competição nos Estados Unidos, onde José Carlos Mendes descobriu o fascinante mundo do automobilismo americano.
A paixão pelos carros e pela mecânica em especial vem dos tempos de adolescente e foi-se desenvolvendo, sobretudo através da experiência como estagiário e voluntário em equipas nacionais.
Em 2011, decidiu agarrar a oportunidade de ir para os Estados Unidos: “conheci um automobilista americano que trabalhava para a Portugal Telecom e foi através dele que as portas do maravilhoso desporto automóvel americano se abriram para mim”, revela.
“Nos primeiros quatro anos, em Salt Lake City, no Estado de Utah, que é um dos mais fortes dos EUA em termos de automobilismo, vivi numa situação um tanto ou quanto provisória, com renovação periódica do visto de estadia, o que não foi difícil porque estive sempre empregado”, descreve José Carlos.
A adaptação aos EUA “foi excelente, tem tudo a ver comigo, e tive a sorte de ir viver para uma zona lindíssima como é o estado de Utah, que fica perto de outros estados muito bonitos como o Nevada, onde está a cidade de Las Vegas, e o Oregon, por exemplo”, descreve. “Através do automobilismo conheci 42 dos 50 estados de um país excelente, mas que tem aspetos menos positivos, e é preciso dizer que o racismo é mesmo um problema que se encontra em certos locais ou zonas e que ficou pior com a presidência de Donald Trump”, afirma José Carlos, que nunca se sentiu negativamente discriminado por ser de outra nacionalidade, “mas confesso que já fui beneficiado por ser latino, principalmente quando a equipa vai a restaurantes de latinos, perguntam se sou mexicano ou sul americano e atendem-me melhor”.
“O pior de tudo foi mesmo voltar e ter que ficar cá à espera, embora eu goste muito de Lousada e de Portugal, mas aqui é tudo muito diferente, tudo mais lento, mais demorado, mais complicado, mais burocrático”, afirma o mecânico.
“Estou muito desejoso por voltar”, afirma José Carlos Mendes, que regressou a Lousada para uma curta estadia, “mas a pandemia e a mudança das regras de atribuição de vistos a imigrantes dos EUA, trocaram-me as voltas à vida e aqui estou à espera de regressar para lá”. Enquanto a carta não chega, vai trabalhando em equipas nacionais e europeias de desporto automóvel.
Poucos portugueses
“Entre 2011 e 2019 estive em diferentes equipas de competição e conheci grande parte do país e todas as pistas de corridas americanas”, diz com satisfação, aproveitando para enumerar algumas das equipas onde trabalhou a tempo inteiro ou em part-time: DXDT Racing, Air Power Racing, KellyMoss Road and Race, 911 Design team, Sunrise ford Racing, entre outras.
No seu currículo constam equipas do IMSA, que é um campeonato de automobilismo de resistência organizado pela International Motor Sports Association que juntou a American Le Mans Series e a Rolex Sports Car Series. “Há duas séries ou campeonatos, uma de endurance, que se corre em pistas como Daytona, laguna Seca e outras) e depois há as provas de Spint, que é o campeonato GT Challange”, explica José Carlos, que conheceu o piloto português Alberto Parente, que é uma figura importante desta competição nos EUA. “Não há muitos portugueses neste meio, mas de vez em quando lá me cruzo com algum, como foi o caso de um engenheiro que trabalha a Bentley Motors”, declara.
Uma das suas competições favoritas é a que se realiza em Pikes Peak, que é a mais importante corrida de subida do mundo, conhecida como A Corrida às Nuvens. “Uma das vantagens do desporto automóvel nos Estados Unidos é a diversidade de provas e a grande competitividade e espetáculo que existe”, acrescenta.
Claro que não podia faltar o campeonato NASCAR, onde José Carlos conta que participou nas KN Series, que são campeonatos regionais da modalidade de stock car.
“Além de trabalho mecânico e assistência técnica durante as corridas, adquiri conhecimentos e prática no design mecânico e reconstrução de automóveis de competição”, salienta.

Um gosto especial pelo drift
Embora apreciando todos os tipos de competição automóvel, este lousadense tem um gosto especial pelo trabalho em carros de Drift, modalidade que surgiu no Japão e que se expandiu para todo o mundo, sendo atualmente nos Estados Unidos uma competição com mais adeptos e competidores.
“Ganhei vários títulos nas equipas em que estive, mas uma das experiências que mais gozo me deu, não correu muito bem em termos desportivos, embora tenha sido uma experiência fantástica, porque trabalhei num projeto de reconstrução de um Nissan que foi resgatado de um naufrágio e convertemos todo em carro de competição para participarmos no World Time Attack Challenge, em Sydney (Austrália), que é um evento incrível”, explica.
Neste momento, enquanto espera pelo regresso ao continente americano, José Carlos Mendes vai continuando a trabalhar naquilo que mais gosta: “desde que cheguei fiz parte de várias equipas nacionais e recentemente fui chamado para integrar a equipa austríaca Grasser Racing GRT Lamborghini, que vai participar no campeonato europeu DTM Deutsche Tourenwagen Masters, que se inicia no final deste mês no circuito de Portimão”, declara com entusiasmo o protagonista desta edição de Louzadenses Lá Fora.
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