Canto do saber 43 – Por Eduardo Moreira da Silva
Aproxima-se o dia 25 de Abril, uma data de grandes comemorações. Desde logo, aquela fundamental, a que diz respeito à memória da revolução que devolveu a Portugal o espírito, que mais do que reviver, pretendemos ter sempre presente. O espírito dos valores primeiros da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. A partir destes, toda uma sistematização de valorações pode ser feita. É dentro desta sistematização que se enquadra outra das comemorações a que referi acima: a do aniversário da publicação do primeiro número do jornal O Louzadense. De facto, os valores primeiros não podem subsistir sem meios de comunicação social e a necessária liberdade de expressão de que todos devem usufruir. O Lousadense tem sabido ao longo da sua curta, mas profícua, vida, dar voz à comunidade que serve – Lousada – aproximando os seus elementos, independentemente da diversidade de opiniões expressas. No que toca a estas, mesmo aquelas que podem ser vistas, por vezes, como tendenciosas, são absolutamente legítimas, já que a neutralidade dificilmente traz progresso. O assumir de posições e o confronto de ideias, não só é saudável, como é desejável, para um debate que se quer aceso em ordem a melhorar a qualidade vida neste concelho que é o nosso – por consequência melhorar a qualidade de vida em geral.
O progresso tem sido medido pela taxa de consumo de energia e pela capacidade de aquisição e acumulação de bens materiais. Aquilo que parece serem os requisitos materiais para uma “vida boa” assume a prioridade sem que se questione se a vida é experienciada como boa. A riqueza garante uma alta qualidade de vida, não necessariamente um alto padrão de vida. A narrativa mais comum por parte de políticos, economistas e especialistas em energia é a de que existe um crescimento exponencial na demanda por energia dos seres humanos, quando ela se constitui apenas como necessidade de mercado. Padrão material de vida e qualidade de vida acabam por ser confundidos como sendo o mesmo. A ideologia de mercado constrói-se a partir da indução de necessidade de produtos nos clientes de modo a aumentar o consumo. Se este não aumenta é a crise económica e o desemprego. Alterações a esta ideologia só se tornam possíveis com alterações profundas na máquina económica. Uma máquina que requer e produz uma atitude distorcida com a vida.
A perpetuação por meio de formas de produção e consumo firmemente estabelecidas e falta de políticas adequadas para o aumento da população humana leva ao aumento exponencial , parcialmente ou totalmente irreversível da deterioração ou devastação ambiental. As degradações ambientais em conjunto com as alterações naturais conduzirão a problemas que afetarão toda a ecosfera.
A preocupação não só com o nosso padrão de vida como com o das gerações futuras implica a noção de uma responsabilidade que vai muito mais além do “ecologismo”. A situação requer um tipo de resposta abrangente: o especialista tem lugar na especificação deste ou aquele problema. A necessidade é holística. No entanto, deve partir de generalidades, dos conceitos apreendidos através da experienciação, daquilo que se intui, no sentido de estabelecer pressupostos para a busca da sistematização de normas, as quais serão passíveis de revisão contínua, para alcançar o padrão de vida equilibrado dentro da ecosfera. Assim, nós, seres humanos somos parte integrante do sistema. O impacto desta visão possui implicações políticas enormes. A exigência é a de uma ética que tenta deixar o antropocentrismo (pelo menos em termos conceptuais) de lado e vai em direção ao biocentrismo, uma integração do Homem na ecosfera, entendida esta, como composta tanto por seres vivos como não vivos que existem e se pretende que continuem a existir no processo de evolução.
É esta ética, de caráter individual para o global, que deve ser objeto de implementação em termos de discussão, ao invés de ações avulsas que, tendo o seu mérito, pouco ou nenhum efeito ( algumas vezes até contraproducente) benéfico têm sobre o padrão de vida das populações. Este é um dos passos em frente, possíveis, no desenvolvimento sistemático da valoração do que torna a vida boa, a partir dos valores primeiros da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que para muitos, nos foram devolvidos nessa revolução do 25 de abril de 1974.
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