“O concelho de Lousada é a minha vida.”
A 9 de abril de 1973 nascia no concelho de Lousada aquele que, anos mais tarde, se tornaria o líder do órgão executivo do Município. Maestro na orquestra onde os concidadãos são os principais estímulos para se alcançar o sucesso. No entanto, Pedro Machado não se desmarca desta função. O jurista de profissão concedeu uma entrevista, com toda a delicadeza das palavras, que muitos nunca escutaram ditas com tanta clareza e serenidade.
Nasceu em Silvares, onde residiu num curto período que remonta aos primeiros tempos do seu matrimónio, porém foi em Caíde de Rei onde cresceu e reside atualmente, tendo assim regressado ao seu “berço”. Atualmente habita com a sua família perto da casa que foi dos seus pais, onde construiu uma habitação nas proximidades.
Pedro Machado frequentou o primeiro ciclo na Escola Básica da Estação, em Caíde de Rei. Da sua infância recorda a liberdade e despreocupação com a segurança, que lhe permitia ir a pé para a referida escola, cujo trajeto era efetuado por meio de campos e ribeiros. A liberdade e despreocupação foram apanágios recorrentes do seu início de vida. Recorda com saudade as brincadeiras nos campos e montes e na própria rua, onde raramente passavam carros.

Atualmente é invulgar uma criança deslocar-se a pé para o seu local de ensino devido à proteção, por vezes excessiva, dos seus progenitores. Consciente que os tempos de outrora já não são mais os mesmos, Pedro Machado afirma que se verificou uma mudança muito grande na sociedade, tendo-se agravado as questões de segurança. “Passamos do 8 para o 80”, mas compreende-se face às notícias que assolam, frequentemente, os meios de comunicação que acabam por levar ao excesso de protecionismo por parte dos pais.
Depois de concluir o quarto ano de escolaridade partiu para a cidade de Paredes onde realizou, com sucesso, o segundo ciclo e, a posteriori, o ensino secundário. A mudança deveu-se ao facto de ser filho de um ferroviário de profissão, pois à conta do exercício de função do seu pai, Pedro Machado e os seus 9 irmãos tinham acesso direto de uma forma mais fácil e gratuita à estação.

“Na época não havia as mínimas condições ao nível de instalações, mas a qualidade de ensino compensava”, declara ao abordar o seu local de estudo no 2.º ciclo, o Palacete da Granja, atualmente Casa da Cultura de Paredes. A chuva entrava dentro das salas, os animais (ratos) indesejados a dar o seu ar de encanto eram constantes. Todavia, nunca nenhuma destas realidades impediu o agradável desempenho escolar do Lousadense.
A “lei” natural da vida fez-se sentir no caminho de Pedro aos 11 anos de idade. Quando estava no sexto ano de escolaridade, um episódio trágico sucedeu-se na sua família, com a partida precoce e inesperada do seu pai. “Foi muito doloroso e complicado de ultrapassar”, confidencia, porque além do sentimento natural da perda de um progenitor e o facto de ainda ser uma criança, acresceu a circunstância da sua mãe ter ficado numa situação económica muito complexa de gerir.
Mas o momento mais difícil da sua vida foi superado da melhor forma, segundo afirma o próprio. O enaltecimento da sua mãe é incessante. Um exemplo de vida, uma verdadeira heroína foram e são expressões recorrentes utilizadas por Pedro Machado quando fala da mãe.
A partir deste infeliz acontecimento, os esforços tiveram que ser redobrados por parte da progenitora. O dia a dia era difícil, sem grandes folgas, mas o amor jamais faltou e superou as dificuldades sentidas. “A minha mãe teve, efetivamente, uma força avassaladora e procurou sempre dar as melhores condições de vida aos filhos”. Quando o pai faleceu, apenas se encontravam casados três dos seus irmãos. “Todos os meus irmãos que eram solteiros à data do falecimento do meu pai estudaram enquanto desejaram”, reforça.

A vida continuou. Prosseguiu os estudos no Externato de Vila Meã (3º ciclo) e depois voltou para Paredes onde concluiu o ensino secundário. Com o intuito de prosseguir estudos avançados, ingressou no ano de 1991 na Faculdade de Direito, em Lisboa.
Uma das razões da escolha deste curso deveu-se ao facto de ter sentido uma injustiça no modo como foi atribuída a pensão à sua mãe no momento do falecimento do seu marido. Decidiu então enveredar pela área do Direito, com a expectativa, de algum modo, dar o seu contributo para acabar com algumas injustiças. Todavia, a vida de advogado não o encantou.
Recorda com saudade os tempos académicos que viveu na capital. A residência universitária foi palco de muitas e melhores memórias da sua vida, onde conheceu “dezenas e dezenas” de estudantes oriundos dos mais variados pontos do país, de cursos diversos e culturas diferentes.
Após conclusão do curso, fez estágio e inscreveu-se na Ordem dos Advogados no ano de 1997. Passados 5 anos, decidiu suspender a sua inscrição na Ordem porque teve o primeiro contacto com a administração pública, na VALSOUSA (Associação de Municípios do Vale do Sousa). “A partir desse momento comecei a ter um interesse preponderante pelo Direito Administrativo”, sublinha.
O encanto seguiu-se e, quando abriu um concurso para a Câmara Municipal de Lousada, concorreu e foi admitido. No sentido do progresso e da evolução realizou uma pós-graduação em Direito do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente, em Coimbra.
Corria o ano de 2005, quando de forma surpreendente e inesperada, recebeu o convite para integrar as listas do partido socialista. “Nunca me tinha passado pela cabeça tal convite”, reforça. Aliciado pelo Professor José Santalha, não estava consciente, no momento, de todas as suas potencialidades.
De acordo com o Presidente da Câmara, o exercício de funções autárquicas é muito nobre e reconfortante, porém, é também uma limitação grande na gestão da sua vida pessoal e familiar.
Os prós e contras, habituais em qualquer situação, existem e, neste caso, não é diferente. Contudo, apesar da transformação do concelho ser enorme aquando da sua eleição – para a qual também contribuiu em dois mandatos anteriores, enquanto vereador –, após 9 anos na Presidência o balanço é positivo e promissor. “Costumo dar mais enfoque àquilo que queremos fazer do que àquilo que já está feito”, remata avizinhando um futuro cheio de “obras”, desafios e projetos em prol do desenvolvimento do concelho de Lousada.
Pedro Machado não olha para a sua função, enquanto líder do órgão executivo do município, como uma profissão. “Quem a vê assim, provavelmente, não se vai dar bem, uma vez que o espírito de missão é o fundamento e o sentimento que deve estar imbuído em todos os autarcas”, defende.
“Tenho que estar permanentemente disponível para todos e para tudo o que for necessário e, muitas vezes, em alturas pouco ou nada convenientes. Mas a satisfação que as pessoas acabam por mostrar quando estou com elas compensa”, salienta.
Casado com a mulher da sua vida e pai de dois rapazes, o mais velho prestes a completar 18 anos de idade e o mais novo com 11 anos, são o seu pilar.
Sempre que questionam o líder sobre a sua profissão não hesita a responder prontamente: “Sou jurista”. Quando ainda nem imaginava que a sua vida passaria pela função pública, Pedro Machado, como referido anteriormente, formou-se em Direito. E, hoje, não existem dúvidas que o seu estudo académico se complementa com a sua atividade enquanto Presidente da Câmara. No entanto, na sua ótica, não deveria ser necessário a contribuição que a sua especialidade oferece.
“Muitas das vezes, os órgãos judiciais partem do princípio que um autarca tem de saber tudo e isso é impossível”, declara. De acordo com Pedro Machado, é essencial que os autarcas estejam devidamente atualizados e suportados por um corpo técnico habilitado e competente para fornecer o enquadramento legal, mas mesmo assim, infelizmente, não ficam isentos da possibilidade de vir alguém confundir meras irregularidades com ilícitos criminais.
Quando interrogado acerca do seu estilo de gestão afirma que implementa a ambição e, ao mesmo tempo, a cautela e o rigor. Para concretizar os anseios da população é necessário usar a criatividade em busca de instrumentos de financiamento, porém, quando cessar funções, haverá, certamente, uma continuidade e deseja que o seu sucessor tenha as mesmas condições que ele teve.
Um dos maiores pilares do trabalho executivo são as infraestruturas básicas, tais como o abastecimento e distribuição de água e o saneamento de águas residuais. Inicialmente, quando Pedro Machado foi eleito vereador, em 2005, um dos grandes desafios passava por esta matéria. Passados 17 anos afirma, com bastante orgulho, que “abrimos dois concursos públicos, primeiro para a concessão da água e saneamento e depois para uma parceria público-privada e rejeitamos ambas as possibilidades porque o valor das tarifas iria disparar, tendo-se optado por manter estes serviços na esfera de atuação do Município.” E “com o investimento que estamos prestes a realizar Lousada vai ser um dos primeiros concelhos da região a fechar o ciclo de grandes investimentos nestas infraestruturas básicas”.

A par deste projeto, o líder destaca todo o capital aplicado na educação, quer ao nível da remodelação dos equipamentos educativos, bem como das ações de promoção do sucesso escolar. Além disso, Lousada é um município reconhecido pela qualidade e diversidade da oferta cultural, pelo notável complexo desportivo que detém, e, mais recentemente, pelo envolvimento político e social na área do ambiente. Esta última começou por ser uma aposta ousada que se transformou numa aposta ganha com enorme potencial de desenvolvimento.
No auge do desempenho das suas funções, foi eleito, por unanimidade, pelos 11 autarcas do Tâmega e Sousa para liderar o Conselho Intermunicipal do Tâmega e Sousa. “É uma grande responsabilidade”, declara. A honra por ter sido escolhido é enorme, assumindo que se deve ao perfil que reúne, consensual, e ao facto da sua considerável experiência.

Quem é o homem para além do presidente? Humanista, é a resposta que alberga todas as suas características enquanto ser humano. Pratica padel com os amigos, vê séries e lê livros, sempre que o tempo lhe permite.
Quanto ao futuro, olha para o mesmo com bastante naturalidade, consciente que não hão de faltar desafios que o estimulem profissionalmente. Em jeito de finalização remata, “o concelho de Lousada é a minha vida”.

Sem duvida um grande Homem, de boa familia, lembro perfeitamente quando passava à minha porta para ir apanhar o comboio, assim como os seus irmaos. Bem haja.