O boxe ou pugilismo, ambas as designações congruentes, é um desporto olímpico de combate, no qual os praticantes usam apenas os punhos, tanto para a defesa, quanto para o ataque. Esta modalidade é considerada para homens, porém, Cátia Pereira tem se distinguido nesta e, consequentemente, desmistifica ideias pré-concebidas pela sociedade. Apesar de ser uma prática incompreendida por muitos, a lousadense aborda a sua história nesta arte e demonstra a visão real de alguém do meio.
Com 27 anos, oriunda de Caíde de Rei, Cátia vive em Meinedo com o seu marido e a sua bebé, como carinhosamente a trata. Na época que iniciou esta modalidade, encontrava-se a trabalhar na casa de chá O Jasmim, junto ao Parque de Lousada, quando um colega seu lhe disse que ia abrir um clube destinado a futuros pugilistas.
Desde então a sua vida deu uma volta de 180 graus, jamais imaginaria. O desporto fez sempre parte da vida da atleta que, desde nova, praticou dança e voleibol. Contudo, queria mais relacionado a esta vertente. O boxe sempre lhe chamou à atenção, e, como nunca tinha experimentado, decidiu inscrever-se no GUTS Club. A curiosidade foi o ponto de partida.
“Foi paixão à primeira vista”, afirma Cátia que desde 2018 pratica este desporto, apesar dos interregnos naturais. Quando foi mãe viu-se obrigada a parar, e, mais recentemente com a questão do COVID-19. A sua função materna, inicialmente, não a ajudou a conseguir conciliar as tarefas de casa com os treinos, porém, facilmente descobriu as suas valências como mulher.
Nesta sequência, a lousadense sempre apreciou desportos que envolviam adrenalina, combate e emoção. E, no fundo, o boxe alberga todas estas características. Quando se matriculou no clube no âmbito de experimentar o pugilismo, conheceu o pai da sua filha que também pratica artes marciais.
Sendo assim, não hesita quando questionada sobre a sua maior inspiração: o marido. A maneira dele estar, o foco e empenho que emprega, a dedicação constante, a disciplina exemplar… são particularidades do mesmo que utiliza como motivação e protótipo. “É admirável”, sublinha, com breves palavras que simbolizam muito.
“O boxe é um desporto olímpico de combate, possui uma vertente que que na ideologia das pessoas acaba por ser um bocadinho agressivo, contudo para nós que praticamos vemos o pugilismo como um jogo”, explica. Esta modalidade vai muito além do que se pensa, pois, há todo um processo que quem está de fora não se apercebe, desde o conhecimento do adversário a perceber como marcar pontos.
Existe bastante fair-play e um espírito constante de entreajuda que, em muitos desportos, não estão instigados. Cátia considera que por ser uma arte apelidada como agressiva, dentro e fora dos ringues, são todos amigos. “No final é hábito dar um aperto de mão e, sobretudo, um abraço aos rivais”, declara. Além do mais, combinam vários treinos em conjunto com outras equipas, no sentido de partilharem experiências.
Cátia treina no GUTS Club desde outubro de 2018, data da sua fundação. Este aufere de profissionais imprescindíveis no sucesso da atleta, desde o diretor ao treinador. A nível da carga de treinos, no último mês treinou duas vezes por dia, de segunda a sexta-feira, devido à Gala que ocorreu no passado dia 21 de maio em Lousada. No entanto, fora essa ocasião treina seis dias por semana.
A alimentação é também abordada ao longo da entrevista. Como em tudo na vida, a alimentação saudável é essencial e no pugilismo não é exceção. O boxe é um desporto que puxa bastante pelos atletas e só é possível estar no aus quando por trás existem regras neste aspeto. Contudo, a lousadense considera que não é necessário nada rígido. “Eu simplesmente evito ingerir alimentos com açúcar”, conta.
Outra razão importante quanto à alimentação é o facto de o pugilismo reger-se por categorias de peso. “É preciso ter atenção para não chegar ao combate e não exceder o peso estabelecido”, salienta.
Cátia realizou o seu primeiro combate em Espinho, no ano de 2019, e na altura o seu peso era de 60 kg. Segundo a própria, foi bastante equilibrado e aprendeu muito com o mesmo. Hoje em dia, a atleta considera-se mais apta fisicamente. “O facto de, entretanto, ter diminuído o peso foi benéfico para mim porque acabo por criar um equilíbrio a nível de altura com as minhas adversárias”, afirma.
Resultado desta sua condição, no dia 21 de maio do ano vigente, ocorreu o combate na Gala. De acordo com a lousadense, a sua adversária era muito boa, bem como a sua técnica. Todavia, a garra e iniciativa de Cátia fizeram-na vencer. “O primeiro e segundo assalto foram muito equilibrados e o terceiro foi determinante para a minha vitória”, sublinha. Após este, os combates vão arrancar a um nível alucinante. O próximo será na Arena de Matosinhos.
O estigma presente na sociedade de que as mulheres não devem praticar este desporto ainda se mantém, e, é abordado pela lousadense. Apesar de haver sempre o risco de alguém se magoar, com um toque falso, não é motivo de existir preconceito. Em todas as modalidades e na vida em geral, os indivíduos estão sujeitos a esse tipo de situações.
“Entre 2018 e 2019 houve um aumento do número de mulheres a praticar boxe a nível nacional, porém, com a situação pandêmica o número de meninas que continuaram a fazê-lo diminuiu”, conta. Cátia demonstra que o lugar da mulher é onde ela quiser, a fazer o que quiser, sem julgamentos. Aliás, a própria declara que, “depois de tirar as luvas pode muito bem pegar num vestido, num salto alto, na sua filha e viver a vida normalmente”.
O balanço do seu trajeto até então é bastante positivo. O pugilismo deu à lousadense uma estabilidade psicológica, uma leveza interior, um melhor controle das emoções e forças, um autocontrole e disciplina que desconhecia… entre tantas outras coisas que destaca visivelmente satisfeita. “Todos nós temos os nossos dissabores, as nossas revoltas interiores e a maior parte das pessoas usa o desporto como terapia”, sustenta.
“Foi através do boxe que me descobri a mim mesma”, conclui. Por conseguinte, conheceu o seu marido e formou família. O intuito de Cátia é, daqui a uns anos, continuar a treinar juntamente com o seu mais que tudo e, se possível, a sua filha juntar-se a eles nesta prática saudável.
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