Simão Ribeiro, de 35 anos, e Fábio Ferreira, de 32 anos, ambos naturais de Lustosa, prestaram em conjunto uma entrevista ao O Louzadense. Mais completa era impossível, o atleta e o preparador. Um pouco do mundo do fisiculturismo será abordado, para que todos aprendam mais sobre esta prática.
Simão é empresário de restauração e Fábio é proprietário de um ginásio. Este último começou no mundo do fisiculturismo antes de Simão onde é detentor de vários troféus. A história de Simão começa derivado de um ultimato, diga-se, da sua esposa. O lousadense é dono de um café há 13 anos e o conceito deste obrigava-o a andar bastante à noite com os amigos. No fundo, viveu a sua juventude em paralelo com o negócio. “Tinha de acompanhar o ritmo para as pessoas virem cá”, afirma.

Há 7 anos atrás, após ser pai, a sua companheira confidenciou-lhe que a forma como levava a sua vida tinha que abrandar bastante o ritmo. Desde então, o desporto aparece, sobretudo, o fisiculturismo. Simão viu nesta prática a obrigatoriedade de deixar o álcool, as saídas, ou seja, a vida noturna. “Falei com o Fábio Ferreira, que já era meu amigo e ainda mais amigos nos tornamos, e comecei a treinar com ele”, sublinha.
No ano de 2015 enveredou por este caminho e 1 ano e meio depois deu-se a primeira competição. Nunca foi de um dia para o outro, em razão disso está o tempo que demorou a começar a competir. Os treinos, o ritmo, a alimentação… são processos fundamentais de assimilar com o maior profissionalismo. Segundo os entrevistados, para se ser atleta deste desporto é primordial mudar o propósito de vida e, consequentemente, a vida social.
O treino de Simão é dividido dependendo da fase que se encontra, isto é, se está em off-season (período de preparação) ou on-season (pós temporada). Nesta primeira fase, o atleta concentra-se em ganhar massa muscular. Existe sempre uma componente de musculação, conforme Fábio, onde é facultado um estímulo aos músculos. Mas, tudo depende do período. Naturalmente, se for pré-competição é exigido mais tempo de treino e um aumento da intensidade de cardio.
Relativamente ao Simão, treina 5 dias por semana e as pausas são ao fim de semana que é quando se concentra a maior parte da atividade profissional deste. Nos dias em que treina, trabalha uma parte do corpo e realiza a componente de cardio, desde correr no final ou noutra parte referenciada da preparação. Em períodos de pré-competição os treinos tornam-se mais intensos.
A parte do corpo que Simão tem maior dificuldade em desenvolver são os peitorais, posto isto, trabalha mais essa parte a nível de exercício e métodos. Por exemplo, em vez de treinar só à segunda-feira este elemento também treina à quarta-feira e sexta-feira. Maior foco e estímulos diferentes nos três dias.
“No entanto, os treinos não são a componente mais difícil pois a alimentação é mais”, declara Fábio. A alimentação de um atleta de fisiculturismo é diferente da alimentação de um atleta de outra modalidade. De acordo com Simão, as suas refeições pré e pós treino são o mais básico possível, isto é, arroz e frango duas vezes. O Fábio, preparador, personaliza o plano todos os meses ou de dois em dois meses em período on-season. Na época off-season muda semana a semana ou todos os dias.
Essencialmente, não pode faltar hidratos, proteína, legumes e gorduras boas (insaturadas). “O plano é feito dependendo das necessidades do Simão e na altura da competição é quando alteramos mais a alimentação de dia para dia, nas quantidades”, evidencia Fábio. Para o corpo ficar exatamente como pretendido, altera-se determinada coisa e em 24h faz-se uma grande mudança no corpo do atleta.
Questionado sobre a parte mental, Simão afirma que quando decide juntamente com o preparador as provas que irá fazer, a sua mente concentra-se de imediato no necessário. A força de vontade, o rigor e o foco… são mencionados regularmente. “Toda a gente é capaz, mas nem toda a gente nasce para isto”, afirma. O facto do lousadense trabalhar na área da restauração, considera complicado quando a prova se aproxima pois fica mais restrito a nível de alimentação. Exemplo disso, é adorar fruta e dois meses antes ter de deixar de comer. “Não é que uma vez fizesse mal, mas o compromisso e a mente não deixam”, reforça.
Como referido inicialmente, Fábio começou a competir primeiro que Simão e, desta forma, acaba por ajudar ainda mais pois passou pela experiência. Simão confidencia que olha para este, o seu preparador, como uma fonte de inspiração e exemplo a seguir no mundo do fisiculturismo.
Apesar de todo o rigor, ambos fazem esta prática como um hobbie. Cada um tem o seu trabalho e nos tempos livres é que se dedicam ao fisiculturismo. Assim sendo, quando decidem preparar uma competição, o compromisso é com os próprios, isto é, apresentarem-se melhor que na prova anterior. Ninguém controla os outros atletas, logo não se pode ter expectativas. “As coisas vão acontecendo porque nós desfrutamos do desporto e não andamos obcecados com os resultados”, afirma Fábio.
Simão aborda os prémios alcançados, “o Fábio tem um palmarés melhor que o meu, a nível de provas e lugares é mais conhecido porque teve mais pódios”. Em novembro do ano transato, participaram na qualidade de atleta e preparador, no Campeonato do Mundo de Culturismo na categoria de Mens Physique, em Barcelona. Este contou com a presença de cerca de 200 atletas distribuídos pelas várias categorias existentes. Simão alcançou a medalha de bronze, o 3º lugar.

Também em novembro de 2021, dia 20, Simão ganhou o Pro Card (cartão profissional) que é o ponto mais alto deste desporto a nível amador. O mesmo dá acesso à liga profissional. Na medida que ganhou este, pretende experimentar a liga, porém, ambos sabem que é outro patamar mais exigente. Naturalmente, exigirá mais dedicação, esforço e disponibilidade financeira, pois os custos são elevados.

Além do mais, quanto ao futuro, pretende ganhar massa muscular paulatinamente, mantendo sempre um corpo estético e bonito. “Procuramos um corpo estético ao invés de abusado”, afirma Fábio.
Simão aconselha os futuros atletas que queiram entrar no desporto a treinar duro e, sobretudo, alinharem a mente à rotina de treino. Por sua vez, Fábio reforça que a alimentação é mais importante que os treinos. “Exige um rigor muito grande, no entanto se uma pessoa for capaz de ter um rigor desses está preparado para competir e também para a vida porque vai buscar outras competências que a vão ajudar a nível profissional”, conclui Fábio.
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