A tentativa de estabelecer a universalidade em determinado campo, acaba, muitas vezes, por desembocar nos “ismos” : rotular um ponto de vista de ‘ismo’ significa, invariavelmente, generalizar demais os conceitos de uma ciência. Por exemplo: sociologismo, historicismo, etc. No fim, qualquer “ismo” desemboca em extrem-ismo.
É neste perigo, o de almejar uma certa universalidade, que incorre a Ecologia ao ser colocada no quadro das ciências naturais , favorecendo o movimento ecológico superficial – o que apenas aponta, sem nada resolver: o dos “soundbytes”. A ecologia pode ter uma grande abrangência, mas nunca deve ser considerada uma ciência universal. Ao concentrar-se nas relações entre as coisas, muitos aspetos da sua separação limitada são ignorados. O ecologismo é a universalização ou generalização excessiva de conceitos e teorias ecológicas.
Naess (filósofo) propõe todo um novo enquadramento a partir da ideia da rejeição do antropocentrismo em detrimento do nosso posicionamento na ecoesfera: é disso que dou nota agora, parafraseando algum do seu trabalho.
O estudo da ecologia indica uma abordagem, uma metodologia que pode ser sugerida pela simples máxima ‘todas as coisas andam juntas’. Isto tem aplicação e sobrepõe-se aos problemas da filosofia: a colocação da humanidade na natureza e a busca de novos tipos de explicação para isto através do uso de sistemas e perspetivas relacionais. Ao estudo destes problemas comuns à ecologia e à filosofia , Naess chamou ecofilosofia. É um estudo descritivo, apropriado, para fazer uma escolha entre prioridades de valores fundamentais, buscando, meramente, examinar um tipo particular de problema na vasta junção entre duas disciplinas bem reconhecidas. Estas prioridades de valor são essenciais em qualquer argumento pragmático. A própria palavra ‘filosofia’ pode significar duas coisas: (1) um campo de estudo, uma abordagem do conhecimento; (2) o próprio código pessoal de valores e uma visão do mundo que orienta as próprias decisões (enquanto se sente e pensa sinceramente que são as decisões corretas). Quando aplicado a questões envolvendo nós mesmos e a natureza, este significado da palavra ‘filosofia’ toma o nome de ecosofia – termo cunhado por Naess. Ao estudarmos ecofilosofia para abordar situações práticas que nos envolvem, desenvolvemos as nossas próprias ecosofias. O facto de cada um ser o detentor da sua ecosofia., não implica, de forma alguma, uma criação original. Basta, apenas, que seja uma espécie de visão global com que cada um se sinta confortável, a qual, indissociável da vida, está sempre a mudar.
Uma ecosofia é, no final de contas, uma visão do mundo ou sistema inspirado nas condições de vida da ecosfera. Serve, então, como base de aceitação, pelos indivíduos, dos princípios da ecologia profunda: (a) rejeição da imagem de homem-no-ambiente (que é dicotómica e antropocêntrica), a favor da imagem total do mundo, relacional; (b) igualitarismo biosférico.
Obrigatória, é uma mudança na nossa atitude em relação às condições de vida na ecosfera. A nova atitude pressupõe a associação a uma posição filosófica em todos os problemas essenciais de tomadas de decisão. Eu sei que a filosofia assusta, provoca desconfiança, pelo conceito gerado na opinião pública com a acusação, que lhe é imputada, de falta de objetividade: a filosofia não tem que ser objetiva , deve promover a objetividade de forma clarividente. É neste pressuposto que se deve olhar para o ambiente, tomado como ecosfera e não a partir de um “ecologismo” superficial, politicamente correto, sancionado com o rótulo de “cientifico” – sem se saber, muitas das vezes, por quem e com que interesse -, por isso, aceite numa universalidade extremista avessa à crítica reflexiva sempre tão necessária.
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