Embora tendo vivido fora de Lousada na maior parte dos seus 75 anos, Joaquim Antero Dias de Magalhães Barros foi um louzadense de gema e alegrava-se efusivamente quando encontrava algum conterrâneo ou se deparava longe daqui com algo da sua terra natal. Mais ainda o alegrava e extasiava quando visitava a sua Lousada.
Nasceu na freguesia de Cristelos, Lousada, em 13 de Setembro de 1946 e faleceu, no Porto, em 27 de Junho de 2022. Era filho de Rogério Ângelo de Magalhães Barros e de Maria Júlia Dias, que também foram pais de Agostinho Belmiro e de Paulo Natalino Dias de Magalhães Barros. É das suas filhas e do seu irmão o texto biográfico que se segue:
Viveu em Cristelos, Lousada, Vila de que muito se orgulhava, até aos 10 anos de idade, altura em que ingressou, após conclusão da instrução primária, na Escola Claustral de Singeverga, situado na freguesia de Roriz, concelho de Santo Tirso, no Mosteiro de São Bento de Singeverga.
Permaneceu durante vários anos, no Mosteiro de São Bento de Singeverga, pertencente à ordem religiosa beneditina, onde se familiarizou com o Princípio da Regra de São Bento, seguido pelos monges beneditinos e com o lema beneditino “Ora et Labora” – “Reza e Trabalha“, e aprendeu, no dia-a-dia em Singeverga, a importância da disciplina, do trabalho, da reflexão e da oração.
Trouxe consigo o espírito de equilíbrio entre a oração e o estudo, vivido pela comunidade religiosa do Mosteiro de São Bento de Singeverga, quando decidiu abandonar a vida claustral. Não seguiu a profissão monástica mas o rigor e a disciplina ali vividos iriam influenciar a sua vida pessoal e profissional.
Cedo ingressou na prática judiciária, iniciando a carreira nos Tribunais, na via judicial, como Escriturário, no Tribunal Judicial da Comarca de Mangualde, aos 18 anos, em 11 de Fevereiro de 1965. No mesmo ano, transitou para o 5.º Juízo Cível no Porto e, alguns anos mais tarde, em 16 de Junho de 1966, é alistado para o serviço militar e incorporado, em 15 de Janeiro de 1968, altura em que iniciou o Curso de Sargentos Milicianos.
Terminou com aproveitamento, o segundo ciclo do Curso de Sargentos Milicianos, em 22 de Junho de 1968 e foi promovido ao posto de primeiro-cabo miliciano, posto que mais tarde foi extinto e substituído pelo de Furriel Miliciano, integrado na classe dos Sargentos.
É nomeado para servir no Ultramar, na ex-colónia da Guiné-Bissau, forma batalhão em Vila Nova de Gaia e, antes do embarque, frequenta em Viana do Castelo, o I.A.O. – Instrução de Aperfeiçoamento operacional – que lhe confere a especialidade de atirador.
Foi graduado ao posto de Furriel Miliciano, em 05 de Fevereiro de 1969, data de embarque para a Guiné-Bissau, e viaja a bordo do “UIGE” para o ex-CTI da Guiné, integrado na Companhia de Artilharia Pesada – CART 2478 e no Batalhão de Artilharia BART – 2865.
Em 11 de Fevereiro de 1969, desembarcou na Guiné-Bissau e instalou-se num dos mais importantes aquartelamentos das tropas portuguesas durante a Guerra Colonial, situado entre Guilege e Gadamael.
O Batalhão de Artilharia Pesada que integrava operou no Sul da Guiné-Bissau, mais precisamente no chamado “Corredor da morte” entre Guileje e Gadamael-Porto. Guileje era um dos três Gês que formavam o inferno da Guiné- Bissau – Guidaje (ao norte, junto ao Senegal), Guileje e Gadamel (a sul e junto a Conacri). A Base onde esteve, quase sempre, durante a guerra, foi um ponto a cinco quilómetros da Guiné-Conacri que já quase só se encontra nos mapas antigos. De vez em quando, a CART 2478 era destacada para postos avançados de defesa, como aquele em que estiveram, durante sete meses, a Norte da Guiné- Bissau, junto à fronteira com o Senegal, em Jumbembem.
Durante a permanência na Guiné- Bissau, desenvolveu um projeto humanitário e educacional que, ainda hoje é lembrado por todos os que pertenciam à Companhia: a promoção da educação das crianças naquela região inóspita onde se situava o aquartelamento, no Sul da Guiné.
Participou, ativamente, na construção de uma escola, de tijolo e terra batida, para dar aulas às crianças e dedicou grande parte do seu tempo, no Ultramar, a esta escola.
O Furriel Barros, como era tratado, foi nomeado pelo Comandante da Companhia para ser o professor das crianças, por ser o militar com mais habilitações.
Deu aulas às crianças locais e, ainda, a alguns dos militares da Companhia, que aprenderam, com aquele a quem chamavam professor, as matérias de Ditado, Redação, Aritmética e Geometria e Desenho, o que lhes permitiu apresentar-se a exame da (antiga) 4.ª classe quando regressaram a Portugal e ter hoje essas habilitação no seu Curriculum.
De destacar é, ainda, a sua participação na chamada Operação Mar Verde, operação militar planeada pelas Forças Armadas Portuguesas e realizada em 22 de Novembro de 1970. Foi concebida e executada pelo fuzileiro capitão-tenente Alpoim Calvão, responsável pelo Centro de Operações Especiais da Guiné-Bissau com o apoio do brigadeiro António de Spínola que era o governante militar deste território.
Esta operação era extremamente audaciosa e secreta porque envolvia o ataque, com um pequeno número de homens (grupo em que estava incluído), à capital de um estado soberano, a República da Guiné que servia de santuário aos rebeldes do PAIGC.
Cumprido o tempo no Ultramar, desembarca em Lisboa em 28 de Dezembro de 1970, regressando à Vila de Lousada, Pocinhas, Silvares.
Prosseguiu, então, a carreira no Tribunal, no Porto, no 5.º Juízo Cível, no Palácio da Justiça, no Campo dos Mártires da Pátria, junto aos jardins da Cordoaria.
Foi neste Tribunal que desenvolveu a (quase) totalidade da sua carreira, com exceção de duas missões que lhe foram entregues: a integração de uma equipa do Ministério da Justiça que transita, em regime de comissão de serviço, para o ex-Tribunal Municipal do Porto para formar os funcionários da Câmara Municipal do Porto, de 26 de Março de 1974 até 24 de Maio de 1979 e a criação e instalação dos 3.º e 4.º Juízos Cíveis do Porto, em 04 de Setembro de 2000.
Finda a comissão de serviço, em 1979, regressa, como Escrivão de Direito, que corresponde a um lugar de chefia, ao 5.º Juízo Cível, no Porto, aí permanecendo até à sua nomeação, em 27 de Dezembro de 1990, como Secretário de Justiça.
Quando foi nomeado Secretário de Justiça está entre os mais novos do País, senão mesmo o mais novo, a assumir esta categoria profissional, tomando posse para assumir funções no 6.º Juízo Cível no Porto.
Em 4 de Setembro de 2000, aceitou a missão de criação e instalação dos 3.º e 4.º Juízos Cíveis do Porto, sendo nomeado Secretário de Justiça de ambos os Juízos, sitos na Rua Gonçalo Cristóvão.
No movimento judicial de 2003, mais precisamente em 6 de Maio de 2003, com a classificação de Muito Bom, que foi mantendo ao longo dos anos, tomou posse como Secretário de Justiça de Tribunal superior no Tribunal Judicial de Barcelos – Secretaria-geral até à sua aposentação, tendo alcançado nesse mesmo ano o tempo máximo de permanência ao serviço, seguindo-se a aposentação.
Ao longo da carreira, ministrou formação aos Funcionários Judiciais, em vários Tribunais do País, em diversas matérias, incluindo, as relativas à Reforma das Custas Judiciais, por convite da Direção Geral da Administração da Justiça.
Casou, em 4 de Setembro de 1976, com a mulher da sua vida, Maria Fernanda, funcionária da Câmara Municipal do Porto, que conheceu no âmbito da comissão de serviço no Tribunal Municipal. Teve duas filhas, Sara, em 1980, e Joana, em 1985, e dois netos, Inês, em 2016, e Pedro, em 2019. Faleceu, no Porto, em 27 de Junho de 2022.
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Linda homenagem que suas filhas e um dos irmãos fez a este meu grande amigo e jamais esquecido Joaquim Antero Barros. Parabéns.
Resumidamente está uma grande parte de seu percurso de vida, nomeadamente profissional e militar.
Bem hajam pelo amor que lhe têm o qual por Ele é bem merecido.