O Capitão André Borges do Couto foi proprietário da casa de Ronfe, Familiar do Santo Ofício e portador Carta de Brasão de Armas para Borges e Coutos em 1696. Casou com Ângela Bernardes da Fonseca. Seu filho, André Borges do Couto, Familiar do Santo Ofício, Capitão e Escrivão da Honra de Meinedo e senhor desta casa, contraiu matrimónio com D. Josefa Teresa da Cunha de Macedo, do lugar de Ortozelo, freguesia de Caíde, em 1721. Era neto paterno do Capitão André Borges, também Escrivão da mesma Honra de Meinedo, filho de André Borges Barreto, Capitão de Ordenanças e Escrivão da mesma Honra, e neto materno do Capitão Gonçalo Fonseca Coutinho. Em 1756 o Dr. António da Cunha de Macedo Borges Barreto casou com D. Inácia Flávia de Mesquita Pinto de Magalhães. Em 1757 nasce José Barreto da Cunha Macedo, que lhe vai suceder. Sua filha, D. Emília Eduarda Barreto, viria a casar com Joaquim Artur Archer, em 1819, futuro presidente de Câmara do concelho de Lousada (entre 1838 e junho de 1841). Em 1846, era presidente de Eleição dos Juízes de Paz para o Círculo de Meinedo, e em 1840 Conselheiro Municipal. Formado em Estudos Latinos, foi considerado em 1864 o homem mais abastado da freguesia de Meinedo. Vivia do arrendamento de “vários prédios rústicos e urbanos, possuindo outros não arrendados.” A Casa de Ronfe pertencia a D. Emília Ana, em 1834, por herança do seu irmão José Archer, e Eduardo Barreto Archer vai herdá-la, por sua vez, em 1840. Sucedeu-lhe D. Maria Augusta Barreto Archer, nascida nesta casa em 1889, e que a viria a vender a José Rosas
É uma típica moradia “do século XVIII, de feição italiana (datada de 1775 e na qual se nota a influência de Nasoni) com um belo roseiral-casa de campo dos herdeiros de José Rosas, que a restaurou.”1 Apesar de não possuirmos documento algum que prove a afirmação anterior, não resistimos a lembrar nesta dissertação de mestrado o pouco que se foi escrevendo sobre esta casa de Ronfe. E assim, há quem publicite que foi o “ arquitecto Nicolau Nazoni”2 que a projectou ou “arquitectos da sua escola”. Como também existem aqueles que cogitam para tentar saber quem foram os arquitectos das casas nobres de Lousada, muito embora esse seja “trabalho em vão, pois não se encontram menções ao nome dos seus projectistas, o que aliás explica a pequena variedade de esquemas construtivos.”

Em termos arquitetónicos é uma casa de planta quadrangular com torre adossada no topo esquerdo da fachada Oeste, e com pátio interior. A fachada principal, virada a Sul, foi dividida, verticalmente, por pilastras, em três zonas, criando dois panos de parede simétricos; estes flanqueiam um pano central, o frontispício, rasgado por um portal arquitravado, com colunas embebidas e chave ao centro, tendo a sobrepuja-lo um janelão de sacada e lintel curvilíneo, com colunas embebidas, e chave ao centro, ladeado por duas janelas de sacada e lintel curvilíneo.

No frontão, está cravada a pedra de armas dos “Borges; Barreto; Cunha; Macedo,” rematada por uma pirâmide quadrangular; as pilastras são coroadas por pináculos; uma barra, em pedra, divide o rés-do-chão do andar nobre. No rés-do-chão, ao lado do portal arquitravado, abrem-se quatro janelas de peitoril, molduradas, com lintel curvilíneo e painel, duas em cada pano. A ladear o pano central, também quatro janelas de sacada, de lintel curvilíneo e painel, molduradas, duas em cada pano.
A fachada Oeste apresenta, no rés-do-chão, três janelas com portadas, molduradas, de batente, com lintel curvilíneo. Exibe um óculo, do lado direito, oval e de lintel curvilíneo e outro mais pequeno com as mesmas características, só que do lado esquerdo, são os dois moldurados. Ostenta, ainda, uma janela dupla, envidraçada, fixa, e moldurada com cornija de ressalto e painel. Do lado esquerdo desta janela há outro óculo moldurado de lintel curvilíneo envidraçado e janela de peitoril moldurada de lintel curvilíneo, quase junto à torre. Existe ainda uma janela moldurada e envidraçada, em ferro, aos quadrados, com lintel curvilíneo.No primeiro andar, vislumbram-se três janelas de sacada, a sobrepujarem cachorrada,3 sendo uma dupla e em granito, com lintel curvilíneo; e junto à cornija existem quatro óculos ovais moldurados.

A torre é quadrangular, em cantaria, de fiadas sem igual proporção e suficientemente polidas; as juntas das pedras, comidas do tempo, mostram maior abertura do que nos seus princípios deveria ter, indício da sua muita antiguidade. Na fachada Este, uma escadaria em meia-volta dá acesso à torre. A portada da capela é arquitravada e de cornija de ressalto.
A fachada Norte, no rés-do-chão, patenteia três janelas de peitoril, enquanto o primeiro andar conta três janelas e uma portada, sendo duas de peitoril e uma de sacada, todas com lintel curvilíneo. Junto à cornija, mostra duas janelas de peitoril. Na fachada Este, no rés-do-chão, do lado esquerdo, podem ver-se quatro portadas com lintel curvilíneo, e à direita do pano, uma janela de peitoril com lintel curvilíneo; no primeiro andar, apresenta quatro janelas de peitoril com lintel curvilíneo, com portadas.
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1- 414 – Conceituado joalheiro do Porto, que foi “Lavrante de algumas peças adquiridas pelo Vaticano.” Guia de Portugal – o. c., p. 561. Cf. Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 12; FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 425- 428.
2 – O conteúdo da anterior citação tem vindo a ser glosado por quase todos aqueles que têm escrito sobre a casa de Ronfe, e como já afirmámos não encontrámos documento algum que nos prove que este ou aquele arquiteto ou mestre-de-obras edificou a casa de Ronfe. Guia de Portugal– o. c., p. 563. Cf. Revista de Lousada. 2. In Suplemento do Jornal Terras do Vale de Sousa (24 de janeiro de 1981), p. 25; À Descoberta de Lousada. – o. c., p. 105; Jornadas Europeias de Património, p. 23; À Descoberta do Vale de Sousa. Rotas do Património Edificado e Cultural… – p. 103.
3 – “Estreitos e altos, em espiral igualmente virada para baixo, mas voltada para dentro.” GALHANO, Fernando e OLIVEIRA, Ernesto Veiga de Oliveira – o. c., p. 45.
Consultar: Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 10 e 11; Revista de Lousada. 2. In Suplemento do Jornal Terras do Vale de Sousa (24 de janeiro de 1981), p. 25; NÓBREGA, Artur Vaz-Osório- o. c., p. 19.
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