Natural da Aparecida, o desportista desta edição nasceu dentro do ambiente das motos. Contudo, apesar do motociclismo estar tão enraizado na família, contrariou todas as expectativas ao se tornar piloto aos 20 anos de idade. Hoje, com 38 anos, carrega na bagagem inúmeros troféus, sobretudo, a taça de Campeão Nacional da classe Superbike. Conheça a história deste lousadense que eleva o nome da terra por cada pista que corre.
Com 38 anos de idade, Romeu Leite é licenciado em Sociologia e atua na área da educação e formação de adultos. No entanto, abordar este cidadão obriga a que se fale da sua carreira enquanto piloto de motociclismo. Hoje, será o tema principal.
Como é que tudo começou? Eis a questão. O lousadense pertence a uma família que se encontra ligada ao motociclismo há muitos anos, na medida em que o seu pai e o seu tio são sócios de uma empresa de motos e bicicletas. Aliás, este negócio remonta à época do seu avô. O progenitor chegou, durante um ano, a vivenciar a experiência de piloto. Mas decidiu abandonar pois o gosto era mais pela mecânica. Entretanto, o seu primo mais velho foi também piloto e nessa qualidade conquistou vários prémios.
“Nunca fui incentivado a correr”, confessa. O seu pai detinha bastante medo que algo acontecesse por se tratar de um desporto de risco que, por conseguinte, sempre o encaminhou para o futebol. Porém, a paixão pelas motos prevaleceu face a todos os contratempos. Posto isto, começou um pouco tarde que o habitual, aos 20 anos de idade.
Romeu encontrava-se a estudar e não possuía meios financeiros para iniciar este desporto devido a ser bastante dispendioso. Este motivo e o receio do seu progenitor adiaram o inevitável. “Lembro-me que disse ao meu pai que gostava de correr e que o tempo estava a passar, ou seja, tinha de atuar já. Sugeri fazer um treino para ver se gostava e se tinha jeito”, conta.
Assim foi. O treino correu bem e foi o ponto de partida para uma carreira que já leva 17 anos. Iniciou em 2005 e nessa época ganhou logo algumas corridas nas 50, a classe de iniciação. O ambiente encontra-se tão enraizado na família que, inicialmente, foi o seu pai e, de seguida, o seu primo mais velho. Entretanto, começou a correr e também outro primo começou. “Uns vendo os outros acabam por ter mais motivação”, declara.
Desde que iniciou neste mundo que foi sempre subindo de categoria. Ora então, foi campeão na classe 600, duas vezes vice-campeão na classe 85 e, no ano transato, campeão nacional na classe Superbike. Este desporto possui várias categorias, bem como o futebol. Neste momento, o lousadense atua na classe Superbike, apelidada de classe rainha pois não existe nenhuma superior a esta.


Quando interrogado sobre se o receio do seu pai ainda perdura, de imediato, refere que o mesmo continua. “A moto no final de uma reta no Estoril dá 300km/h, por exemplo”, sublinha. É de facto um desporto de alto risco, mas o facto de ainda não ter tido um acidente acaba por tranquilizar o seu progenitor. O desportista acredita no destino e não tem dúvidas que se tiver de acontecer alguma coisa tanto pode ser fora como dentro de pista. Apesar do friozinho na barriga, o orgulho é gigante.

“Eu tenho a felicidade de ter uma equipa da Aparecida, a A Faria Leite Racing Team, que sempre foi habituada a ter bons resultados”, salienta. Devido a este motivo, Romeu sempre sentiu a necessidade de estar ao mais alto nível, porém, por vontade própria e não por lhe exigirem tal situação. Desde 2005 que é acompanhado pela mesma equipa e sempre competiu pelos primeiros lugares em todas as competições.

Em 2016 transitou para a categoria máxima, a Superbike. “A equipa sofreu quando passei de motos de dois tempos para motos de quatro tempos”, conta. A inexperiência desta e do piloto fez com que demorasse alguns anos até serem aprendidos os truques e não só. Porém, tudo correu bem.

Um dos sinónimos de correr bem é em 2021 ter-se tornado Campeão Nacional na classe Superbike que, segundo o próprio, é a página mais bonita da sua carreira desportiva. Aliás, foi um sonho de uma vida tornado realidade. “Certas pessoas não compreendem esta sensação e afirmam que ganho pouco ou nada com o desporto, mas é preciso contextualizar toda a envolvência. Eu nasci no meio e sempre quis lá chegar, embora alguns contratempos pelo caminho”, explica.
Além do Campeonato Nacional, Romeu vai realizando algumas corridas citadinas. Estas tratam de juntar os aspetos culturais da freguesia ao desporto, isto é, são feitas no meio da cidade com motos menos potentes. O piloto acabou por abandoná-las com a COVID-19, contudo conseguiu bastantes vitórias. “A minha mãe, em jeito de brincadeira, afirma que já não tem onde colocar mais troféus em casa”, conta com sorriso no rosto.
Nesta altura, o lousadense encontra-se a meio do campeonato. Este é ano civil, isto é, começa em abril e termina em novembro. Ademais, é constituído por 6 rondas que equivalem a 12 corridas. “Estou em primeiro lugar a 17 pontos de vantagem sobre o segundo lugar”, afirma.
São alguns os desafios e dificuldades que tem ultrapassado ao longo da carreira, em conjunto com a sua equipa. A maior dificuldade, de acordo com o próprio, é a nível financeiro. Por exemplo, um pneu de trás custa 250€ e apenas dá para uma corrida. Além disso, uma pequena queda estraga bastante a moto e os custos de deslocação são elevadíssimos pois os circuitos realizam-se no Estoril e em Portimão.
“É muito difícil, mas o sabor é outro”, afirma. O piloto treina todos os dias a nível físico para compensar os treinos que não pode realizar nos circuitos.
Além do referido, disponibiliza bastante tempo diário para este hobbie. Sim, um hobbie, porque Romeu tem o seu trabalho à parte o que não acontece com alguns dos seus adversários. “O facto de alguns pilotos serem profissionais faz com que para andar na frente tenha de acompanhar o ritmo deles”, afirma demonstrando o quão difícil é em termos de organização e planejamento.
“Eu posso demorar mais um bocado, mas gosto de perceber o porquê de as coisas acontecerem de tal forma”, declara. Esta característica faz com que mantenha uma certa diferença para os outros e, desta forma, vai evoluindo. A concentração e o gosto por ganhar fazem parte da sua essência enquanto piloto.
Apesar de já não ter muitas expectativas, conforme o próprio, pretende continuar a lutar para permanecer no mesmo nível de então. Para mais, gostava de realizar algumas corridas em Espanha para experienciar um grau mais elevado. Porém, todas as pretensões acarretam de apoios.
O lousadense acredita que com uma percentagem de talento e outra percentagem de trabalho tudo se consegue. Para finalizar, Romeu Leite deixa umas palavras: “Quero agradecer a todos os meus patrocinadores por confiarem em nós e no nosso projeto. E, obviamente, se houver alguém que queira apoiar estamos dispostos a ouvir novas propostas”.

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