No passado dia 25 de Agosto faleceu um louzadense devotado às coisas políticas (vida partidária e autárquica, por exemplo) e às causas do desporto (hóquei em campo e futebol), às artes tradicionais de lazer como a caça (atividade praticada há gerações na família Magalhães) e ao dirigismo associativo (Assembleia Louzadense, etc.). Era pessoa urbana nos modos e incisiva nos dizeres; era acérrimo portador de clubismo azul e branco e politicamente estava conotado com o espectro moderado do bloco central. Até à atualidade consta como único louzadense que desempenhou funções de vereador por dois partidos diferentes.
Nado e criado no coração da Vila de Lousada, foi desde sempre um apologista da sua terra natal, que defendeu e promoveu nas mais variadas formas e ocasiões. A voz forte, de que era dotado, e o porte retilíneo, que o caracterizava, potenciavam os seus discursos e outras locuções públicas. Além disso, era incisivo e acutilante, direto e pragmático, sendo por tudo isso um tribuno por excelência tanto nos eventos amistosos e nobres dos salões, como nos plenários associativos e comícios partidários.
Essa postura, na defesa de ideais e propostas para Lousada, ficou patenteada na Assembleia Louzadense, onde foi um dinamizador de excelência em épocas difíceis, promovendo a cultura, a diversão e o ativismo cívico.
Na linha dos seus antepassados, também eles dirigentes destacados daquele entidade, Rui Manuel Fernandes Malheiro de Magalhães foi presidente daquela coletividade no biénio 1977-1978, num órgão diretivo que também integrava os amigos Joaquim Bernardo Lousada (vice-presidente), Reinaldo Alves (secretário), Jaime Nunes de Moura (tesoureiro) e o seu irmão Afonso Manuel Fernandes Malheiro de Magalhães (vogal).
Vinte anos mais tarde, quando aquela entidade atravessou fase crucial de sobrevivência, voluntariou-se para presidir a uma Comissão Administrativa que procedeu ao renascimento da vetusta Assembleia. Dessa vez, foi acompanhado por Manuel José Correia Fernandes (vice-presidente), António Alberto Vasconcelos Brito Bessa (tesoureiro) e Jorge Silva Vieira (secretário).
Nestas épocas, ficaram vincadas na memória dos seus contemporâneos os distintos eventos culturais e os populares convívios realizados nas instalações da Assembleia, sobretudo no seu salão nobre.
A apetência pela política esteve sempre patente na vida adulta de Rui Magalhães. Através do Partido Social Democrata (1983-1985) e do Partido Socialista (1998-2005) exerceu o cargo de vereador, sendo até à data o único louzadense com tal desiderato.
No PSD, foi um destacado militante, tendo desempenhado cargos de vogal e presidente do Plenário, vice-presidente e presidente da Comissão Política Concelhia, entre 1978 e 1989. Durante o terceiro mandato presidido por Amílcar Neto, foi vereador pelo PSD, com os pelouros do Desporto, da Saúde e das Atividades Recreativas.
Em 1997, foi eleito vereador na lista do PS, liderada pelo seu irmão Jorge Manuel Magalhães, desta vez ocupando-se das pastas do Ambiente, Abastecimento de Água, Saneamento e Proteção Civil.
No desporto também se destacou, de várias formas, uma delas como atleta, de futebol e de hóquei em campo. Era vereador da Câmara Municipal de Lousada, em 1983, quando promoveu a resolução de um vazio diretivo na Associação Desportiva de Lousada (ADL). Na ocasião o Jornal de Lousada de 8 de Setembro de 1983 escreveu: “Mais um ano, mais uma crise para a sucessão diretiva. A Câmara, pelo vereador do Desporto, Rui Magalhães, lidera o processo de sucessão e convida o empreiteiro José Joaquim da Cunha para formar uma lista”. Em boa hora isso aconteceu, pois tal dirigente viria a produzir um notável trabalho diretivo e resultado desportivo no clube.
Um antigo dirigente do futebol juvenil da ADL, o macieirense Carlos Magalhães, afirma que: “ainda me lembro quando estava nas camadas jovens, com mais diretores, e na inauguração do campo de treinos, por trás das piscinas, os balneários não tinham água quente; eu fui ter com o Rui Magalhães, pedir-lhe três esquentadores, e em meia hora já lá estavam. Partiu um homem bom, amigo do amigo”.
Os estudos primários e subsequentes decorreram em Lousada (escola junto aos Bombeiros e no Colégio Eça de Queirós). No Colégio de Guimarães fez o 6.º e 7.º anos de escolaridade, ingressando depois na Escola Comercial do Porto, por breve período de tempo, ingressando pouco depois na Academia Militar, onde esteve dois anos, tendo sido destacado para o Regimento de Artilharia da Serra do Pilar (Vila Nova de Gaia), com a patente de Alferes Miliciano.
Profissionalmente, teve o primeiro emprego no departamento comercial da Famo, fábrica de mobiliário metálico de Lousada, mas foi como delegado de informação médica da multinacional Pfizer que mais patenteou as suas qualidades de promotor comercial, até ao seu aposentamento.
O apreço pela família era sagrado para Rui Magalhães, que valorizava os eventos de reunião familiar e as efemérides comemorativas ligadas aos seus entes.
Casou em 6 de Junho de 1978, com a professora Maria Margarida Nunes de Moura, com quem vivia na cidade do Porto, sem deixar descendência.
A viúva enaltece no falecido marido a honestidade, o altruísmo, a eloquência, a empatia, a generosidade e descreve-o também como extrovertido. Esta antiga docente e dirigente escolar de Lousada destaca ainda o gosto pela caça e pelo tiro aos pratos, assim como o seu clubismo em relação à Associação Desportiva de Lousada (ADL) e ao Futebol Clube do Porto (FCP).Quando lhe perguntamos sobre sonhos que ficaram por realizar, a Maria Margarida Moura refere que “a doença impediu-lhe a realização de um projeto urbanístico na casa dos pais em Lousada”.
Rui Manuel Fernandes Malheiro de Magalhães era filho de Manuel José Malheiro Guedes de Sousa Magalhães e de Maria Ângela Pereira Fernandes. Teve quatro irmãos: Pedro, médico já falecido; Jorge Manuel, ex-presidente da Câmara e da Assembleia Municipal de Lousada e diretor-geral da Ambisousa; Afonso, médico nos Açores; e Cosme Magalhães, bancário aposentado.
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