Chove na maioria das lojas do Mercado Municipal. Por isso, está a decorrer a mudança do telhado. É a quarta vez em 30 anos que esse arranjo é feito. Mas os comerciantes querem mais obras. Pedem um exterior moderno e apelativo e querem casas de banho no piso de cima. Sobrevivem à avalanche de hipermercados e mantêm-se firmes na defesa do comércio tradicional. Sobre a eventual mudança de local, a esmagadora maioria é contra a deslocação.
O Mercado Municipal continua a ser um local privilegiado de encontros e contactos interpessoais no quotidiano lousadense. É um local privilegiado para se saber as novidades em primeira mão. Nas lojas instaladas na avenida General Humberto Delgado cruzam-se pessoas da Vila e arredores que preferem o comércio tradicional, onde são tratadas pelo nome e onde há confiança para uma piada, uma palavra de ânimo e conforto, ou até mesmo uma confissão ou desabafo.
Desde que as grandes superfícies comerciais chegaram à localidade, onde ocupam uma ampla fatia das transações económicas diárias do consumismo lousadense, o abalo financeiro foi fortemente sentido no Mercado Municipal. Mas este persiste, sem a vitalidade de outros tempos, é certo, mas com uma vontade intrépida de levar por diante o comércio baseado no sentimento e na relação pessoal.
À falta de uma placa identificativa da inauguração deste empreendimento, vale a memória dos comerciantes mais antigos para contabilizar os anos de existência de um local a que muitos chamam “o Bolhão de Lousada”.
Uma das lojistas mais antigas é Deolinda Barbosa, de Irivo (Penafiel): “estou cá desde que isto abriu, há quase 31 anos, e gostava de ficar cá outros tantos anos, pelo menos”. Chegou a ter duas funcionárias na peixaria, que o seu pai abriu, tinha ela 13 anos de idade. A chegada dos hipermercados “deitou o negócio muito abaixo, mas eu empenhei-me ao máximo e aqui estou de porta aberta a satisfazer os meus clientes, que preferem o peixe fresco do mar e não o peixe congelado ou de viveiros que se vende nas grandes superfícies”. A dona Linda, como é conhecida em Lousada, defende um investimento da Câmara no “aspeto do prédio, sobretudo na parte de baixo, que precisa de ser revitalizada”.

Também a peixaria de Conceição Duarte e Maria do Céu Lopes é outra loja antiga. A peixeira Conceição é nora de um antigo e famoso peixeiro de Penafiel que há décadas vendia peixe de porta em porta, nesta região. “Os hipermercados reduziram em metade o nosso rendimento” queixam-se. Mas ainda vale a pena manter o negócio e todos os dias há filas de compradores. A lousadense Maria Antónia Rocha é cliente desde a abertura da peixaria Duarte e elogia o local: “têm sempre uma palavra amiga, um comentário alegre e prestam um serviço personalizado, que é sempre bem-vindo”.

PRODUTOS DE LOUSADA
Os comerciantes Zeferino Ribeiro e a esposa Maria Generosa são os donos da loja de flores “Cláudia Cristina”, nome da filha, que entretanto seguiu a profissão de estilismo e decoração. São contra qualquer possibilidade de mudança de localização do mercado, possibilidade que foi aventada há pouco tempo: “ao fim de quase 30 anos de atividade neste sítio não queremos mudar daqui para outro lado, porque isto está bem localizado, permite fácil acesso de pessoas idosas e tem estacionamento com fartura”.
Quanto à sua atividade, referem: “deixamos de tomar conta de eventos, preferimos vender diretamente aos clientes. Vendemos sobretudo para festas e funerais, mas também para pessoas assearem altares, campas, etc.”, explica Zeferino Ribeiro. Outra prática que deixaram de ter é a compra de flores em mercado distribuidor: “agora é tudo encomendado à distância e entregue à nossa porta”.

Ao lado desta loja também existiu uma florista, mas atualmente é um espaço de produtos locais, a “VS Gourmet”, onde a venda de cabazes é a oferta mais importante, segundo a funcionária Maria Helena.
Esta jovem diz que está “muito contente com as obras no telhado”, mas salienta que “é preciso mais, porque o espaço está bastante degradado, sobretudo o gradeamento, que tem ferrugem e a parte de trás do prédio precisa de ser mais cuidada”.

A frutaria Madalena tem duas lojas seguidas e tem o nome da proprietária, que explora o espaço há 12 anos. “Antes de mim isto era na mesma uma frutaria, que se chamava Carioca e era propriedade do Sr. Pacheco. Quando ele se reformou eu tomei conta do negócio”, declara.
“O mercado precisa de obras e esperamos que se façam porque o comércio tradicional precisa de todos os tipos de melhoramentos. Eu vou-me safando apesar dos hipermercados continuarem a abrir cada vez mais em Lousada, já se fala que vão abrir mais dois nos próximos tempos”, sublinha.
“Mas os meus clientes sabem que aqui têm fruta e legumes naturais e locais, sem os conservantes dos produtos dos hipermercados”, afirma Maria Madalena, que aproveita para chamar a atenção para a “necessidade de haver horários iguais para todas as lojas, para que umas não estejam abertas e outras fechadas”.

MERCADO COM JUVENTUDE E MATURIDADE
Além da experiência e maturidade entre os comerciantes do Mercado, também há inovação na oferta de produtos e serviços. Na ponta nascente do empreendimento, onde em tempos foi um talho, está uma loja muito moderna que se destaca pela originalidade dos produtos e do nome escolhido pela proprietária Cátia Moura, de 38 anos. Chama-se “Amo-me” e vende artigos de decoração pessoal e para a casa. “Procuro aliar a originalidade do artesanato com o design e bem-estar pessoal, com produtos que são miminhos para as próprias pessoas ou para oferecerem com amor, daí o nome que escolhi para a loja”, explica a comerciante e estilista.
“Vim para o Mercado Municipal por opção e por gosto, pois aprecio muito este tipo de comércio tradicional, que se baseia na proximidade com as pessoas”, acrescenta Cátia Moura.

A loja de bombons de Elisabete Ribeiro, não é das mais antigas mas é já uma referência no Mercado Municipal. “Estou aqui há 12 anos e lamento que chova cá dentro, daí a mudança do telhado, mas concordo com todos que dizem que isto precisa de pintura e uma casa de banho”, diz.
A proprietária da “Sweet Bombom” já foi a favor da mudança do mercado: “quando a Câmara colocou essa possibilidade eu fui a favor, mas como isso não avançou decidi investir neste espaço com alargamento e mais produtos, nomeadamente artigos gourmet, e agora não quero sair daqui”.
A frutaria MSCunha, de Sandra Borges e Miguel Cunha é outra casa comercial antiga no Mercado, com frutas e legumes nacionais e internacionais, além de outros produtos de ocasião, nomeadamente a broa caseira.
“Fui das poucas pessoas a favor da mudança do mercado para um edifício mais moderno e mais espaçoso”, admite a gerente, que lamenta que o projeto não se tenha consumado. Agora, “há que pensar em melhorar este espaço com obras que são bem precisas”, conclui.

Após 21 anos como funcionária da Kispo, Celeste Pinto, de Boim, decidiu investir com a filha numa loja de costura no Mercado Municipal. “Estou aqui há 25 anos, mas só faço arranjos, já não tenho vida para confeção, a não ser que seja em caso muito especial”, revela.
Esta costureira é contra a mudança de local, embora “isto esteja a degradar-se de ano para ano e precisa de obras urgentes. Há casa de banho no piso de baixo, mas fica contra a mão.

SUGESTÃO PARA VEDAR A VARANDA
Desde a inauguração que o mercado tem um café, propriedade de Carlos Alberto Santos, de 57 anos. “Deviam fechar a varanda com acrílico ou vidro, porque de inverno faz muito vento e frio, que não convida muito as pessoas a vir até cá”, refere o comerciante. De igual modo defende a construção de casas de banho no piso de cima: “as casas de banho no piso de baixo ficam longe e nos dias de feira ficam imundas por causa da falta de civismo de certas pessoas”. Explica que “não há necessidade de uma escadaria tão grande e podia-se aproveitar o espaço a mais para fazer a casa de banho cá em cima”.
A degradação do exterior é mais visível na parte de trás. “Se o edifício fosse melhorado e alargado para o lado da feira ficávamos com um Mercado muito melhor, com mais espaço para as pessoas circularem e mais largueza para os vendedores”, afirma Carlos Alberto Santos.

Há 28 anos o antigo industrial de panificação e pastelaria de Maceira, José Silva, abriu loja de padaria e confeitaria no Mercado Municipal e ali se mantém, agora na posse do seu filho Nuno e noutro local, na ponta do lado da vila.
“Com a autorização da Câmara, fizemos uma esplanada para oferecer um serviço melhor aos nossos clientes e estamos bem assim, não somos a favor de mudar de sítio”, afirma Nuno Silva, que lidera este negócio há 17 anos.
Acerca das obras reclamadas pelos restantes comerciantes, também este entende que “é preciso remodelar a parte exterior, para dar uma imagem melhor”.

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