A cooperativa Lousavidas é um dos grandes exemplos de solidariedade e altruísmo da sociedade de Lousada. Fundada a 15 de junho de 2014, desde o começo, o seu objetivo foi dar resposta às crianças com necessidades especiais e respetivas famílias. Para mais, encetaram o desenvolvimento da modalidade de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Fátima Esteves, mentora e voluntária, com toda a sua disponibilidade falou-nos desta iniciativa bem conseguida.
Fátima Esteves, mentora e voluntária do projeto, concedeu uma entrevista ao O Louzadense com toda a sua amabilidade. E, de facto, não existiria melhor pessoa para contar a história desta organização pois a sua solidariedade e altruísmo estão presentes desde o primeiro instante.

A sua atividade profissional baseia-se em ser professora do 1º ciclo com variante de Educação Física e, na sequência desta profissão, mudou-se para Lousada há 14 anos. Natural de Vila Real, reside hoje em Cristelos junto da sua família. “O facto de o nosso trabalho obrigar-nos a andar sempre de ponto em ponto fez com que escolhesse esta vila para habitar devido às excelentes acessibilidades”, conta.
Como surgiu a Lousavidas? Pergunta colocada no início da entrevista que, de imediato, foi respondida pela cidadã, que mostrou uma certa emoção ao recordar certos intervenientes. Fátima encontrava-se a dar aulas em Vizela e, consequentemente, realizou algumas atividades de articulação com meninos com necessidades especiais. Após este feito, o presidente da AIREV, Sr. Alfredo Ribeiro, lançou um desafio a esta que consistia na fundação de uma instituição semelhante. “É uma pessoa por quem nutro uma estima gigantesca. Aliás, graças a ele demos os primeiros passos”, afirma.
Este desafio surgiu da necessidade de responder à imensa procura de indivíduos com necessidades especiais que existiam em Lousada. A cidadã mostrou a sua intenção em corresponder e em conjunto com mais onze fundadores, nasceu a Lousavidas no dia 15 de junho de 2014. Porém, legalmente constituída no dia 31 de julho de 2014. O percurso de oito anos, até então, foi marcado por saídas e entradas de novos membros. “Atualmente, permanecem apenas cinco fundadores”, sublinha.
A Lousavidas é uma cooperativa de solidariedade social, sem fins lucrativos, sedeada em Lousada, que pretende melhorar a qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais e das suas famílias através do desenvolvimento de várias atividades. Naturalmente, a missão é dar resposta às famílias com pessoas com deficiência, no sentido de as libertar um pouco do quotidiano. Contudo, segundo a própria, há uma certa dificuldade em chegar às mesmas.
Na época já era uma necessidade premente e, nos dias de hoje, continua a ser. “Sinto, cada vez mais, a emergência do projeto”, evidencia. Para mais, considera que a resposta pós-escola é o maior problema devido ao número de necessitados.
Atualmente, a cooperativa encontra-se direcionada para crianças com deficiência de duas formas: atividades desenvolvidas em horário pós letivos e durante as férias (natal, páscoa e com maior expressão nas de verão). Inicialmente, apenas possuíam a primeira resposta, porém, a procura de uma resposta social a tempo inteiro e com outras valências revelou-se uma necessidade maior. Posto isto, em 2017 surgiram as atividades no período de férias escolares que abrange cerca de três meses. “Quando se fala em crianças com necessidades o interregno do ano letivo causa quebras muito grandes nas suas rotinas”, salienta.
De 2015 a 2016 iniciaram as atividades no rés do chão da Junta de Freguesia de Boim e, ainda hoje, é o único espaço físico que dispõem. Fátima agradece o apoio da Câmara Municipal de Lousada, por exemplo: a nível financeiro e a nível do fornecimento das refeições. Ademais, menciona a Junta de Freguesia de Boim pelo espaço cedido. “São o nosso maior suporte”, refere.
Ao final do dia surgem as atividades de acolhimento e caso haja necessidade vão buscar as crianças com o seu meio de transporte. De segunda-feira a sexta-feira, das 17h às 19h30m, são realizadas várias práticas: hipoterapia à terça-feira; musicoterapia à quarta-feira; e psicomotricidade à sexta-feira. “Acreditamos que a inclusão faz-se incluindo, logo no ano transato iniciamos atividades de apoio ao estudo com crianças sem necessidades”, conta.
Quanto às atividades das férias, estas são feitas no horário da escola para não quebrar a rotina. Devido aos horários e tarefas, contratam pessoas para prestação de serviços ou com contrato de trabalho temporário. Este último, respetivamente, surge para assegurar mais facilmente a/o funcionária/o pois a organização reconhece a dificuldade do trabalho. “São crianças com necessidades especiais, isto é, com particularidades muito específicas das suas condições. É preciso dar banhos, mudar fraldas, alimentar à boca, entre outras ocupações que derivam da falta de autonomia”, explica.

Fátima considera necessário um adulto por criança, dependendo do grau de incapacidade às vezes dois. Sendo assim, este ano acolheram dez crianças e quatro funcionárias que faziam horário rotativo. “Nas horas de maior afluência, às refeições, os recursos humanos estavam concentrados. No entanto, à entrada e saída apenas estavam duas pessoas”, sublinha.
As crianças pagam um valor simbólico que ajuda no pagamento dos recursos humanos, porém, não é suficiente. Como referido anteriormente, a Câmara Municipal de Lousada ajuda financeiramente e em 2021 no âmbito do desenvolvimento do projeto “Inclui+Vidas” a Lousavidas foi premiada com o Prémio BPI Capacitar Fundação La Caixa. “Permitiu ter uma almofadinha financeira confortável e, sobretudo, dar continuidade ao projeto de forma mais consolidada”, declara.
No ano de 2017, a 7 de abril, a cooperativa recebeu o reconhecimento de Equiparação a IPSS. Desta forma, beneficiam da consignação de IRS. Todavia, não possuem qualquer acordo com a Segurança Social. “Independentemente desta situação, é nos enviado jovens da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens e do Tribunal de Menores”, conta.
Em 2019, criaram a modalidade de Basquetebol em Cadeira de Rodas (BCR) em competição na 2ª Divisão do Campeonato Nacional de BCR. Esta iniciativa surgiu no final de 2018, no seguimento de uma semana temática promovida pelo Município de Lousada, em que este convidou a Lousavidas a divulgar o BCR. Após a demonstração da prática, foi lançado o mote por parte do gabinete do desporto para que a cooperativa iniciasse atividade neste âmbito.
Assim foi. Houve um processo de captação de atletas pela abordagem de algumas instituições, da angariação de cadeiras de rodas e da APD Paredes. Desta forma, estes apenas treinavam pois não dava para constituir equipa. Entretanto, a Federação cedeu-lhes cinco cadeiras.
Na época 2019/2020 inscreveram a equipa na 2º Divisão e, no final desta, a Federação de Basquetebol perguntou se queriam subir à 1º Divisão. “A Lousavidas cumpria os requisitos para subir e eles queriam aumentar o número de equipas a jogar na 1º Divisão. No entanto, não aceitamos pois tínhamos acabado de formar equipa e não queríamos dar um passo maior que a perna”, conta.

Porém, o inevitável aconteceu. Um ano depois foi feita a mesma proposta e a cooperativa acedeu, logo, esta é a segunda época na 1º Divisão. “No ano passado a Diatosta patrocinou-nos a compra de 3 cadeiras usadas o que permitiu a vinda de mais atletas. Cada cadeira nova, ronda os 3000 euros e não é das melhores. São valores muito elevados”, conta. .No primeiro ano ficaram em último lugar, porém, esta época pretendem evoluir como equipa e estão prontos para a maior competição.
Quanto às dificuldades, conforme a presidente da direção, prendem-se com a parte financeira e a parte dos recursos humanos. “As pessoas vêm cheias de expectativas, mas há toda uma logística que é preciso respeitar”, reforça. Ademais, a não existência de uma ligação com a Segurança Social também dificulta.
Em jeito de finalização, Fátima Esteves conta que a Lousavidas irá voltar a fazer algum merchandising para angariar dinheiro. São várias as iniciativas realizadas neste âmbito, porém, quem quiser ajudar basta contactar a cooperativa. “O altruísmo é o gesto mais bonito e cheio de simbolismo”, conclui. Desta forma, coloca-se ao dispor o contacto telefónico: 910808437 e o IBAN: 003604899910600562762.
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