Quando ainda era aluno de mestrado, tive o privilégio de conhecer o professor Adriano Moreira em 2017 numa palestra que deu na Universidade de Coimbra a propósito de Direito do Ambiente no contexto das Relações Internacionais.
A sua idade avançada não lhe diminuiu o dom de cativar plateias que lhe era característico, tal como as suas notórias inteligência e eloquência, não feriram a sua capacidade de interagir com quem o ouvia, falando com todos os que acabara de conhecer, como se os conhecesse desde sempre.
Todos sabíamos que estávamos perante um antigo ministro do Estado-Novo, todos sabíamos que estávamos perante um antigo presidente do CDS, todos sabíamos que estávamos perante alguém com profundas convicções enraizadas na democracia-cristã e, nem por isso, consideramos estar perante alguém que se entrincheirasse nas suas próprias pré-concepções ou que promovesse qualquer tipo de polarização além do estrito confronto de ideias.
Apesar disso, foi com brilho no olhar que vimos o professor relatar o episódio em que perante Salazar se recusou abdicar das reformas que vinha implementando, tendo-se demitido. E continuava com o mesmo brilho contando: “O presidente do Conselho veio ao topo das escadas e exclamou: – Não podemos falar melhor sobre isto segunda-feira em Lisboa? Ao que o professor terá respondido: – O Sr. Presidente pode falar, mas quem o irá ouvir será o novo ministro do Ultramar!”
Dizem que os grandes acontecimentos colectivos não são, nem mais, nem menos do que uma colectânea das experiências pessoais de nada um de nós. O momento em que Adriano Moreira se recusou vergar perante o poder instalado em plena ditadura terá sido um desses pequenos momentos que ficará para sempre na nossa memória colectiva.
Uma das coisas que mais aprecio numa pessoa é a humildade da sua própria inteligência e uma das coisas que mais me comove são os actos de coragem perante a ignomínia de outros. Adriano Moreira, durante a sua longa vida pública personificou na perfeição a essência de ambas.
E por isso esta semana uso deste meu espaço de pensamento para prestar homenagem a um vultos da vida intelectual e política do país que mais marca a minha vida pessoal, o meu pensamento político e a forma como encaro o serviço público.
Por coincidência, ou talvez não, nos últimos tempos várias têm sido as circunstâncias que me fazem reflectir sobre a importância da moderação na vida política e, por inerência, a falta que os ideais do CDS-PP fazem ao país.
Da discussão do orçamento do Estado às eleições brasileiras, da polarização política ao ódio social instigado pelos extremos.
O mundo precisa de mais pessoas como Adriano Moreira, representantes de uma classe de estadistas como já não estamos habituados a ver. Homens de convicções profundas e sagazes na luta contra a injustiça, mas moderados no debate de ideias com quem com eles se confronte de igual para igual.
Pedro Amaral escreve segundo a antiga ortografia
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