Na Casa das Videiras, em Silvares (hoje integrada no Parque Urbano de Lousada), nasceu Manuel Videira da Cunha, a 2 de Abril 1912. Faleceu a 11 de Fevereiro 1993 e na sua campa do cemitério está desde então uma lápide onde se lê: “Senhor Cunha da Farmácia – Um homem que dedicou a sua vida ao serviço do bem, com a sua ciência e dedicação a todos”. Na farmácia Fonseca, desta vila, foi um zeloso e competentíssimo profissional. Também fora do horário de serviço dedicou-se com superior altruísmo e solidariedade a quem precisou dos seus préstimos farmacêuticos e de enfermagem.
Foi um dos nove filhos de Maria da Assunção Gonçalves Videira e Joaquim da Cunha, irmã e cunhado de António Gonçalves Videira, que na década de 1920 foi Governador Civil de Lisboa.
“Além de importantes políticos, houve um padre muito conceituado, em Lousada, que era tio do meu pai, assim como a atriz Amélia Videira, de Lisboa, é nossa prima”, assinala Manuela Maria Magalhães Videira, filha de Manuel Videira da Cunha. “O meu avô Joaquim Cunha era um fura vidas, muito ativo, desde vendedor de casas a negociante em tudo que considerasse um bom negócio, mas sempre com honestidade”, acrescenta aquela descendente.
Quiseram os pais de Manuel da Cunha que ele fosse estudar para um afamado colégio em Tui (Espanha). O primeiro emprego teve-o como chefe dos correios, em Baião. Em meados do século XX, com 30 anos, quis voltar para Lousada, onde foi analista na casa da Tapada e pouco depois foi admitido na Farmácia Fonseca, onde se manteve até ao fim da sua vida profissional.
“O meu pai tinha uma grande amizade com o Dr. Fernando (Fonseca), tendo ele e a esposa, dona Eva, sido padrinhos da minha irmã (Isabel Maria Magalhães Videira). Essa amizade permaneceu sempre e prolongou-se depois com o filho, Dr Mário, com quem em pequenino o meu pai tinha fotos“, salienta Manuela Magalhães.
A 6 de Setembro de 1956, Manuel Videira da Cunha casou com Maria Natália Magalhães, filha de Emília Nogueira da Silva Neto e António Coelho Pereira de Magalhães, importante industrial de relojoaria com estabelecimento na rua Visconde de Alentém, em Lousada. Acerca do matrimónio de seus pais, afirma Manuela Magalhães: “o meu pai apaixonou se pela minha mãe desde que ela tinha 15 anos e se como costumava dizer esperou por ela e foram um casal muito unido”.
Manuel Videira da Cunha foi profusamente considerado uma pessoa generosa e devotada à ajuda dos mais necessitados, sobretudo nas coisas da saúde. Por isso se destacou no exercício da profissão de ajudante de farmácia, no estabelecimento da família Fonseca, na rua de Santo António, em Lousada, tendo ficado conhecido como “Sr. Cunha da Farmácia”.
Assim como ajudou muitas pessoas, também ele teve que ser ajudado quando ainda era jovem. Teria vinte e poucos anos quando foi acometido de forte enfermidade: “o meu pai esteve a morrer com com o tétano, depois de se picar numa roseira. Ele tinha um roseiral em casa, que era uma predileção. Quem o salvou foi o Dr Abílio. O meu pai já estava dado como morto depois de consultado por vários médicos. O Dr Abílio, que tinha estado com um esgotamento, devido aos estudos, não estava bem mas acedeu a ver o meu pai, após o que pediu para irem urgentemente buscar umas injeções que só havia no Porto. Por coincidência, foi o irmão da minha mãe buscar isso. E o próprio médico aplicou a injeção na medula Daí o meu pai ficar com aquela lombinha que era tão característica dele. Quando o meu pai ficou bem até fizeram uma festa aqui em Lousada para comemorar a recuperação do meu pai e homenagear o Dr. Abílio”, conclui Manuela Magalhães.
Socorreu feridos do comício de 1973
A vontade de ajudar e o gosto de aprender fizeram dele um profissional altamente capacitado para produzir medicamentos e administrar injeções e outros cuidados médicos. Nesses contextos, são várias as memórias e as histórias que se contam. Certo dia, um médico de Freamunde receitou por engano um certo medicamento a uma criança e ao aperceber-se do erro ligou ao dito médico, que receitou outro medicamento. O médico veio pessoalmente agradecer-lhe o cuidado e atenção.
“Outro caso muito falado envolveu os filhos do Sr. Serafim Carneiro, da Câmara, e da professora Glória, que estavam muito mal e o Sr. Carneiro pediu ao meu pai que fizesse alguma coisa, visto que o Dr. Fernando não estava e outros médicos também não. O meu pai medicou-os e eles recuperaram bem. A partir daí, muitas vezes o Dr. Fernando e o Dr. Abílio, de quem era muito amigo, faziam fé na sabedoria do meu pai e receitavam mediante o diagnóstico que ele fazia dos casos que se lhe deparavam”, afirma Manuela.
Na noite de 24 de Outubro de 1973, realizou-se nos Bombeiros de Lousada da oposição à ditadura que governava Portugal. Perto da meia-noite as forças policiais e militares irromperam pelo salão dentro e forçaram à debandada da multidão que lá se encontrava. Houve vários feridos e dois deles apareceram na Farmácia Fonseca, pedindo a Manuel Videira da Cunha para lhes fazer o curativo. Apercebendo-se da gravidade dos ferimentos, recomendou que fossem ao Hospital, pois precisavam de ser suturados, mas um terceiro indivíduo, empunhando uma arma, exigiu que fossem feitos os curativos. “O meu pai até os cozeu e eles no fim agradeceram”, recorda a filha.
“O meu pai não recusava ajudar quem quer que fosse e muitas vezes ficou como fiador de pessoas que não tinham como pagar os medicamentos, fossem conhecidos ou não. Era muito dedicado aos outros e por isso não tinha horas para as refeições, além de se levantar a meio da noite sempre que era chamado para uma injeção ou para um medicamento, sem se importar se iria receber por isso, pois a sua generosidade e apreço pela vida eram valores superiores para ele”, acrescenta.
Gratidão por esta merecida e linda homenagem ao meu pai . Já me telefonaram pessoas que ficaram emocionadas ao recordar o meu pai .Ao Sr José Carlos Carvalheiras e ao jornal o Lousadense o meu muito obrigado e em nome de todos os que puderam recordar 🙏