Canto do saber 50
Este é o artigo número 50, da rubrica “Canto do Saber”, portanto o meu quinquagésimo para o jornal “O Louzadense”. Trata-se de um número bonito e importante. Todavia, a beleza e importância são características do projeto que acompanho, com o meu contributo, desde o início.
Estas, não são palavras de circunstância, mas de constatação da força de um empreendimento que, no geral, tem mostrado muito daquilo que existe ou é produzido de bom a partir deste belo concelho que é Lousada: o bairrismo é não só uma das especificidades do jornal, é um objetivo. O tom utilizado, tem sido, esmagadoramente, pela positiva, algo que na imprensa, dita regional, não é propriamente uma originalidade, de todo o modo, no que toca ao “ O Louzadense” há que registar a peculiaridade do sublinhar e, dessa maneira, contribuir para o aumento da estima de quem tem qualquer ligação esta terra.
Não é tarefa fácil, o acesso a recursos por parte da imprensa local, implica dedicação a vários níveis e, sobretudo, uma enorme dificuldade de independência face aos poderes instalados – não falo apenas do político, incluo todo e qualquer foco de poder por pequeno que seja -, mas poder-se-á admitir, sem grande esforço, que este jornal persegue, com perseverança, esse desiderato. Isto implica sabedoria, que assim se junta à beleza e à importância que se traduz em força. Se refletirmos um pouco, é a trilogia que comanda o mundo, que determina a vida de cada ser humano: a sabedoria, a força e a beleza.
No que me diz respeito, a intenção com o canto do saber foi e continua a ser a de acrescentar ou, pelo menos, relembrar algum conhecimento destinado a espicaçar a capacidade crítica que qualquer indivíduo possui, entretanto, muitas vezes, adormecida mercê de todo o conjunto de estímulos proporcionados, precisamente, com este propósito. Não é a rubrica mais lida, não tem fotografias, raramente fala especificamente de Lousada e pensar é sempre uma chatice – não o afirmo com ironia: não se destina a esta franja da população – seja qual for a compartimentação -, afirma-se como um dos redutos do saber.
Afirmar uma coluna como reduto, pode parecer presunçoso, no entanto, a conjetura atual lança-nos desafios que, na minha perspetiva, só podem ser abraçados a partir de um combate cerrado à ignorância e pela igualdade de direitos, pondo de parte a tolerância – na sua essência inimiga da igualdade, pois pressupõe superioridade para se possa ser tolerante. O engajamento é, portanto, neste combate: para qualquer jornal a audiência é primordial – dela depende a sua subsistência, para a luta: um só leitor já é uma vitória, um leitor que reflita no que leu: um impulso no sentido de vencer a guerra pelos valores que vemos ser colocados em perigo nos dias que vivemos.
Este artigo cinquenta, reforça essa trindade tão essencial e maravilhosa da sabedoria , beleza e força. Sabedoria, conhecimento que todos os dias reforço e tento colocar nos artigos de modo a adicionar valor. Beleza, numa certa forma de escrever, de explicitar as ideias, por vezes, de forma densa, na essencialidade de dar cor e afastar a dicotomia da visão do preto e branco: o mundo é complexo, os matizes enchem-no de intensidade, dando à humanidade uma perceção, sem par, naquilo que a rodeia. Força, porque as palavras escritas em cada artigo propõem um impulso, ampliado pelo fluxo alimentado pelo “O Louzadense”: a força do inconformismo perante uma realidade, a momentos, tão serenamente opressora num dia-a-dia que se processa cada vez mais rapidamente.
Parabéns amigo pela beleza do texto e, sobretudo, pela força que dás à ideia de ser local mas pensar global. É preciso muita sabedoria. Abraço fraterno