Quem chega ao centro da Vila de Lousada e ruma a Felgueiras, percorre pouco mais de mil metros e vira direita, em direção a Nogueira. Anda pouco mais de cinquenta metros, toma novamente a direita e em poucos minutos encontra a casa do Outeiro. Depara-se com a capela de S. Francisco adossada à fachada Oeste e à esquerda o portal de acesso ao largo terreiro da casa. A entrada faz-se por este portal, do séc. XVI, de granito, em que a técnica utilizada foi a de silharia, de fiadas regulares. O portão é de madeira, com moldura de granito, em cantaria, e termina com um frontão encimado por dois pináculos pontiagudos.
Na genealogia desta casa, recordamos Casimiro de Castro Neves, bacharel e doutor em direito pela Universidade de Coimbra, onde lecionou a cadeira de Direito Público Universal nos anos de 1848 e 1849, redator dos jornais: «A Pátria», «O Portugal» e «A Nação», foi ainda fundador do Club Portuense, tendo ocupado em Lousada a presidência da Câmara, nos anos de 1846 a 1847, 1859 a 1861 e 1862 a 1863. Era filho do Capitão António João de Castro e Araújo, e neto de Bernardo José de Castro Freire de Meireles, senhor desta casa, em 1768, e Depositário do Cofre dos Órfãos do Concelho de Unhão, no ano de 17791, e sobrinho de Frei José de Sam Joaquim de Castro Freire de Meireles, o último Abade do Mosteiro de Bustelo.
Trata-se de uma casa que sofreu acrescentos, e se olharmos para a sua planta verificamos que a primitiva construção se situava na zona do pátio interior, a Norte. A capela foi mandada edificar, separada da casa, em 1768, por Bernardo José de Castro Freire de Meireles; a fachada Sul foi erguida por Frei José de Sam Joaquim de Castro Freire de Meireles2 nas primeiras décadas do século XIX. No segundo decénio da centúria de novecentos3 foi construída a fachada Este e a torre adossada à fachada Sul, no seu topo esquerdo, constituindo, assim, a atual fachada principal, ligando a fachada Este à capela de S. Francisco.4 Data desta época, portanto, a configuração em L.
Arquitetonicamente é uma casa de planta em L com capela adossada à esquerda da fachada Oeste, torre ao centro da fachada Sul, e pátio interior a Norte.
A fachada principal, virada a Sul, apresenta no rés-do-chão, duas janelas de peitoril, quatro portas molduradas e uma porta de cocheira, três aberturas retangulares gradeadas, uma abertura na vertical e uma portada; ao centro, uma escadaria de quatro lanços e dois braços, sendo os primeiros degraus semicirculares. No andar nobre, um portal moldurado com lintel curvilíneo e chave ao centro, é coroado por um frontão e duas janelas de sacada, uma à esquerda e outra à direita, que por sua vez são ladeadas, cada uma, por duas janelas de peitoril. Na torre, existem duas janelas de peitoril e a pedra de armas de S. Francisco.

A fachada principal, virada a Este (interior), no rés-do-chão, ostenta três portas e duas janelas de peitoril, com grade à espanhola (Grade de ferro artisticamente trabalhado, em forma de cesto, anteposta às janelas no Renascimento. Também denominada por papo de rola.); no primeiro andar, vêem-se três janelas de peitoril e duas janelas de sacada molduradas.
Na fachada Este (exterior), da casa, na ala construída nas primeiras décadas do século XIX, no rés-do-chão, há duas janelas molduradas com lintel curvilíneo, enquanto as fachadas Oeste e Sul, exibem janelas de peitoris, também molduradas e com lintéis curvilíneos.
A fachada Este, da primitiva construção, é rasgada, no rés-do-chão, por uma portada moldurada com chave ao centro; e esta é ladeada por seis janelas molduradas, com grade à espanhola, apresentando no primeiro andar duas janelas de sacada molduradas, flanqueadas por quatro janelas de peitoril (1 janela de sacada/2 janelas de peitoril; 1 janela de sacada/2 janelas de peitoril), também molduradas.

A capela de S. Francisco está adossada à fachada Este, no topo esquerdo; na fachada principal, virada a Oeste, apresenta uma portada moldurada com frontão interrompido; ao centro da empena, patenteia um óculo em forma de quadrifólio, e a empena é coroada por uma cruz octogonal, sendo as pilastras coroadas por pirâmides quadrangulares. Nas fachadas Norte e Sul, há pequenas janelas molduradas e gradeadas, e existem vários painéis de azulejos com as imagens de S. Francisco, nas fachadas Sul, Norte e Este. Na fachada Este, ao centro, vê-se uma edícula também com a imagem de S. Francisco, que sobrepuja um ornato retangular, moldurado, com a seguinte inscrição: “PAY ET BONUM”. A empena é encimada por uma cruz latina.
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1 – “Não há duvida que o suplicante Bernardo Joze de Castro he depositario do Cofre dos orfaons deste concelho a mais de tres annos por elleição da camera, he o que consta dos libros. O Escrivão Joaõ Esteves da Silva, Escrivaõ da Camera.” A. M. F. – Livro de registo dos actos da correição da câmara do concelho de Unhão, 1779, fl. 52.
2 – A. D. P., Secção Notarial, Po-1, 1ª série, Livro n.º 32, 1768, fl. 25. Cf. A. D. B. – Registo Geral, Livro n.º 188, 1768, fl.295.
3 – Segundo o Senhor desta Casa, Carlos da Costa Lima de Sousa Guedes.
4 – A.D.P., Secção Notarial, Po -1,1ª série, Livro nº 32, 1768, fl. 25, Cf. A.D.B., Registo Geral, Livro nº188, 1768, fl. 295.
Obras consultadas e seus autores:
– SOUSA, D. Gonçalo de Vasconcelos e FERREIRA, Damião Vellozo – Os Fundadores do Club Portuense e a sua Descendência, vol. II, Porto: Lello & Irmãos-Artes Gráficas, 1995, p. 125.
– Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 44
– KOCH, Wilfried – Dicionário dos Estilos Arquitetónicos, Edição Martins Fontes, São Paulo: 2001, p. 155.
– TEIXEIRA, Luís Manuel – Dicionário Ilustrado de Belas-Artes, Lisboa: Editorial Presença, 1985; p. 174.
– OLIVEIRA, Rosa Maria – o. c. p. 117.
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