por | 7 Dez, 2022 | Espaço Cidadania, Sociedade

Artur Ferreira: O cidadão preocupado com o próximo

Com 59 anos, Artur Ferreira nasceu em Macieira, mas em tenra idade mudou-se de malas e bagagens para Nogueira onde permanece até aos dias de hoje. Trabalhar com e para o ser humano é a sua verdadeira paixão, sendo enfermeiro especialista. A saúde mental e a psiquiatria são as vertentes que mais gosta e na qual se encontra há vários anos no Hospital Padre Américo – Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Além disso, foi presidente durante 21 anos do Rancho Folclórico de Nogueira, tendo executado o cargo com bastante êxito e orgulho.

Artur Ferreira é natural de Macieira, porém, aos 13 anos de idade mudou-se para Nogueira onde se encontra há 46 anos. Nesta primeira, frequentou o primeiro e segundo ciclo. Após a mudança, foi estudar para o Seminário do Bom Pastor em Ermesinde, tendo concluído o terceiro ciclo. 

Após a saída do seminário foi estudar para o Colégio São Gonçalo em Amarante e durante este período da sua vida desempenhou funções como catequista e elemento (teclas) de um grupo de música rock: Delta 7. 

Como catequista apenas manteve-se durante 1 ano, mas como elemento do grupo manteve-se 3 anos. Este foi financiado pelo Sr. Padre Correia, na medida em que quatro integrantes tinham andado a estudar no seminário, incluindo o lousadense. Ao todo faziam parte 7 pessoas, originando a designação. Neste espaço de tempo, a banda fez diversas atuações dentro e fora do concelho. 

“A maior atuação que tivemos foi em Felgueiras na abertura do concerto dos UHF, um grupo de  grande sucesso, onde fomos a banda suporte. Sem dúvida, que a nível de público a assistir e a nível de projeção não tivemos outra igual”, conta. 

Na época, todos os constituintes iniciaram aos 16 anos de idade e quando fizeram o 12º ano começaram a perspetivar outros horizontes. “A maior parte de nós pensou em concorrer às universidades”, sublinha. Assim foi, porém, a decisão acarretou que cada um fosse para seu lado. 

Naturalmente, o grupo acabou mas ficou as boas memórias. “A experiência foi indescritível”, afirma. O hobbie de Artur não ficou apenas pela música, visto que foi atleta das camadas jovens da Associação Desportiva de Lousada, dos iniciados aos juniores. Todavia, estes terminaram e deram lugar ao curso de enfermagem. 

Em 1983, a enfermagem era um curso médio ao contrário de hoje em dia. O 1º ano fê-lo no hospital de São João, contudo ao fim deste pediu transferência para Vila Real onde terminou o 2º e 3º ano. 

Da passagem pelo São João, segundo o próprio, fica a camaradagem com os colegas pois o relacionamento com os professores estava aquém das expectativas e, por essa razão, mudou-se. “Eram professores de idade avançada, de outros tempos, com um regime muito austero”, salienta. Em Vila Real o relacionamento estabelecido entre professores e alunos era de respeito e ajuda. 

“Já enfermeiro, comecei a trabalhar no antigo Hospital Padre Américo, em Paredes, onde desempenhei funções no serviço de medicina homens”, afirma. Todavia, não gostou do ambiente e dada a possibilidade escolheu outra entidade para trabalhar. Ao fim de 1 mês foi para o Hospital de Travanca para a vertente da psiquiatria e, passado dois anos, concorreu à especialidade. 

A especialidade escolhida recaiu em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica e, durante o período da mesma, a enfermagem transitou de curso médio para curso superior e passou a ser de 4 anos. Posto isto, Artur após concluir a especialidade foi para Vila Real para completar o 4º ano. 

“Estive no Hospital de Travanca a tempo inteiro durante 15 anos até ao encerramento do mesmo”, afirma. Contudo, quando foi para este começou também a trabalhar no Hospital de Amarante em regime de acumulação no serviço de medicina, cirurgia e ortopedia – homens, tendo após uma reformulação orgânica passado só a trabalhar em medicina. 

O Hospital de Travanca fechou e ficou no internamento de agudos em Amarante. Entretanto, em 2001 o Hospital de Penafiel abriu ao público e o enfermeiro diretor deste entrou em contacto com o lousadense para solicitar-lhe ajuda. “Pediu para ajudar a colocar o serviço da psiquiatria em funcionamento, visto que já tinha experiência”, reforça. O contrato previsto de seis meses prolongou-se até aos dias de hoje, porém, durante 6 anos foi em regime de acumulação visto conciliar atividade com o Hospital de Amarante. 

Pelo meio ocorreu a junção do Hospital de Penafiel e Amarante criando o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e, desta forma, não podia permanecer em ambos e ficou em Penafiel na área da psiquiatria a tempo inteiro. 

“O serviço de psiquiatria no internamento é o que mais gosto na esfera de todas as áreas da enfermagem”, afirma. O enfermeiro prima pela boa relação com os doentes e jamais se imaginaria noutra situação a não ser a referida, embora durante 8 anos tenha desempenhado funções de chefia. 

“Eu nunca vivi para o estatuto”, sublinha. A parte burocrática nunca o cativou e, como mencionado, é a tratar dos doentes que encontra a sua felicidade. 

Relativamente à parte social, durante 2 anos foi presidente da assembleia geral da Associação de Pais da EB/2/3 de Lousada e foi também durante 21 anos presidente do Rancho Folclórico de Nogueira. “Estava a ajudar nas obras de construção da minha casa quando me apareceram dois diretores do rancho e me propuseram a função de presidente. Eu nunca tinha visto uma atuação, eu não gostava do gênero de música e interroguei o porquê de se terem lembrado de mim. Na altura, disseram-me que o falecido Sr. Silva tinha indicado o meu nome”, explica acerca do começo. 

Inicialmente, disse que não, mas a pressão dos membros foi tanta que na semana seguinte ao pedido foi a uma reunião. Nesta, após ouvir os desejos e projetos da associação, afirmou que ficaria 1 ano à experiência e ajudaria em tudo. 

“Tem que se ter consciência que para se ir é preciso ajudar e fazer com que as coisas evoluam pois, caso contrário, não vale a pena”, declara. 

Passado 15 dias, no magusto, foi apresentado como presidente na garagem do Zé Ventuzelos. Nesta, de acordo com o próprio, fazia-se tudo. No início do ano seguinte, foi cantar as janeiras como já era habitual e o dinheiro conseguido duplicou em relação ao ano anterior. “Trabalhou-se de maneira diferente”, salienta. 

Naturalmente, começou a entender a arte do folclore e envolveu-se de tal forma que o sonho da associação passou a ser o seu. O grande sonho desta era construir uma sede num terreno próprio e passado 1 ano de lá estar, Artur já tinha conseguido arranjar o terreno. 

Fizeram o projeto com a ajuda da Câmara Municipal de Lousada e, posteriormente, deram início às obras. A construção demorou 15 anos e ficou marcada por 3 fases: grosso; paredes exteriores; cobertura e acabamentos. Naturalmente, só faziam trabalho quando havia dinheiro e o lousadense enaltece a ajuda preciosa da CML, da Junta de Freguesia de Nogueira e das pessoas amigas que sempre ajudaram com o seu contributo monetário. 

“Fizemos os exteriores de vedação dos terrenos, ou seja, os muros a troco de feijoadas”, sublinha. Todos os anos, no dia 1 de maio, os diretores, os amigos e os vizinhos iam às 8h da manhã até às 13h para construir os muros. O lousadense pedia o material  necessário à CML e, durante alguns anos, a tradição manteve-se até tudo estar concluído. No final do trabalho o almoço era uma feijoada. 

Equipa na construção dos muros de vedação do terreno

Muito trabalho foi feito em regime de voluntariado pelos diretores e amigos e, de acordo com o próprio, tal é motivo de orgulho. Ao fim de alguns anos, as janeiras deixaram de render tanto devido às conjunturas econômicas e arranjaram uma outra fonte de receita. “O rancho começou a fazer jantares para grupos. Inicialmente, foi bastante complicado, mas apanhou-se o ritmo”, conta evidenciado que chegaram a fazer jantares para grupos de 400 pessoas.

Em 2017, ao fim de 21 anos, o enfermeiro decidiu sair pois considerou que era a altura certa. “As associações ficam e as pessoas passam”, afirma. Desde então, regressou à sua vida anônima e simples. 

“Voltei a estar a 100% para a minha família pois quando se está num projeto tanto tempo acaba-se por abdicar de muitas coisas”, realça. Atualmente, está totalmente dedicado ao seu núcleo familiar: filha, mãe, mulher, netos e genro. Conforme o ditado popular diz, por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher e Artur Ferreira tem a sorte de ter três junto a si.

Com a esposa, a provar as sardinhas para a desfolhada

1 Comment

  1. Daniela Ferreira

    Grande senhor e Amigo de todas as Horas.
    Tive um enorme prazer em fazer parte do rancho folclórico de Nogueira e das obras do mesmo.
    Era tudo família e sem dúvida o Sr Artur era o maior responsável por essa união.
    Um bem haja é um beijinho (só um) como o próprio pedia 😊

    Reply

Submeter Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos recentes

Da prestigiada Fazenda Pública à decadência da Repartição de Finanças

O ESTADO DOS SERVIÇOS DO ESTADO EM LOUSADA (PARTE 1) O Louzadense inicia nesta edição a...

Avenida Dr. José Paulino Freitas Neto

JOSÉ PAULINO FARIA DE FREITAS NETO, nasceu a 16 de junho de 1929, em Silvares, Lousada. Era filho...

Associação Letras 100 Cessar

César Castro, de 53 anos, e Ricardo Moreira, de 43 anos, concederam uma entrevista onde abordaram...

VENCEDORES – VII LER LOUSADA

No VII Concurso Literário LER LOUSADA participaram 7 turmas de 4.º ano do 1.º...

Mercado Histórico revive século XVIII

Nos dias 2, 3 e 4 deste mês, a Avenida do Senhor dos Aflitos recua no tempo e os visitantes vão...

A Casa Nobre no seu contexto histórico XXI: Freguesia de S. Salvador de Aveleda

A Estrutura Arquitetónica de Lousada, segundo as Memórias Paroquiais de 1758: Os Efeitos do...

Paulo Rocha: Lousadense comanda posto da GNR

O sargento-chefe António Paulo Magalhães da Rocha, de Nogueira, é o segundo lousadense a comandar...

É urgente amar!

A falta de liberdade sentida na pandemia transformou-nos, não estamos mais em perigo, mas algo em...

Maria das Dores, uma professora cega

Nasceu em Meinedo há 58 anos Chama-se Maria das Dores Soares da Cunha, tem 58 anos e nasceu em...

Maioria das 3.300 pessoas com deficiência não tem apoio institucional

UM “PROBLEMA SILENCIOSO” EM LOUSADA As respostas institucionais para a deficiência em Lousada são...

Siga-nos nas redes sociais