por | 19 Jan, 2023 | Grandes Louzadenses

Joaquim Sousa Teixeira: O Cavaleiro Nobre

“Se me perguntassem se gosto mais de montar ou de ensinar, sem dúvida, que a minha resposta é ensinar”

Joaquim Sousa Teixeira, nascido em 1962 em Nogueira, é um verdadeiro apaixonado pelos automóveis e pelos cavalos. Desde os 10 anos de idade que reside em Alvarenga, precisamente, na Rua de Montegilde onde localiza-se a sua oficina “Auto Rola” que constitui um dos seus sonhos concretizados. Além desta sua atividade profissional, desempenha um papel notável no ensino equestre a jovens e crianças, encaminhando-as a várias conquistas. Conheça mais deste lousadense que, todos os anos, é consagrado neste meio. 

Com 60 anos, Joaquim concedeu uma entrevista onde com todo seu carisma e amabilidade abordou a história da sua vida. Natural de Nogueira, porém, desde miúdo que habita em Alvarenga. Frequentou o ciclo preparatório que equivale ao 4º ano de escolaridade em Lousada, no local da atual Câmara Municipal de Lousada. 

Antigamente, segundo o próprio, existiam poucas possibilidades e começou logo a trabalhar. Aliás, antes de terminar os estudos já ajudava os seus pais na terra. “Desde pequenino que fui habituado, mas eu não gostava pois achava que era um trabalho sem futuro”, afirma. Neste seguimento, conta que sempre possuiu 3 sonhos de criança: ter uma casa, uma oficina e um BMW 2002. 

Aos 12 anos começou a trabalhar na sua verdadeira paixão, os automóveis. Contudo, chegar até aqui não foi fácil. Filho de pais lavradores que desejavam que seguisse o caminho da família materna, isto é, ser marceneiro, mas Joaquim sempre pediu para lhe arranjarem uma oficina. Apesar de não ser a vontade inicial dos progenitores, acabaram por aceder ao pedido e com todo o carinho apoiaram-no. 

O facto curioso é que trabalhou na oficina que, todos os dias a caminho da escola, observava com atenção e devido a isto o bichinho começou a fomentar-se. Manteve-se em esta até ser chamado para a Tropa, ou seja, até aos 28 anos. O porquê de só ter ido anos mais tarde? Aos 17 anos pediu ao seu pai para ir como voluntário, porém, este disse-lhe que nesta condição não chegaria muito longe. Passado pouco tempo, chegou a altura de cumprir serviço militar obrigatório mas como estava a receber um salário bom e uma senhora tinha-lhe dito que o retirava da lista, não compareceu. 

Desta forma, prosseguiu o seu caminho. Aos 23 anos casou com a mulher da sua vida, aos 25 anos tornou-se pai de um menino e, chegado aos 28 anos, é surpreendido com uma chamada para ir para a Tropa. “Não estava nada à espera, achava que o assunto já estava arrumado”, sublinha. 

Joaquim evidencia que não se arrepende de não ter ido logo, na medida em que se fosse iria fazer asneiras e cumprir vários castigos. O facto de ter ido mais tarde fez com que exercesse tudo com o máximo cuidado pois tinha responsabilidades e ansiava vir a casa todos os fins de semana para ver a família. Todavia, realça que custou muito mais pela questão familiar. No dia 19 de março faz o Juramento de Bandeira e despede-se desta após 3 meses, uma vez que o seu pai havia falecido e por amparo de mãe saiu antes do tempo estipulado. 

Chegado da Tropa decide despedir-se da oficina na qual trabalhava e começar a trabalhar por conta própria. “Já tinha essa ideia há muito tempo, mas faltava coragem para abrir pois o receio de ser chamado era algum”, salienta. Abriu uma oficina por debaixo de sua casa, a “Auto Paralelo”, e, passado uns anos, abriu a sua atual oficina, a “Auto Rola”. 

“Os automóveis foram sempre o meu fascínio enquanto modo de vida, pois enquanto desporto não aprecio, ao contrário do meu filho”, conta. Na atualidade, o seu filho trabalha consigo na oficina após tirar uma licenciatura em Engenharia Mecânica. Joaquim refere que nunca o influenciou a seguir o mesmo caminho, mas que fica extremamente contente pois deseja um dia passar a mesma. 

No meio do seu percurso, surge a paixão por cavalos. Quando era criança fugia de casa dos pais e ia até uma quinta junto à sua habitação que possuía um cavalo. “Ele estava preso e eu saltava para cima dele até que caía pois ele só andava à roda”, explica. Desde então, começou a ganhar bastante curiosidade e carinho por esta prática que foi para o Ribatejo aprender mais.

Na época da abertura da “Auto Rolas” comprou o seu primeiro “Cavalo Puro Sangue Lusitano”, embora já tivesse outro de diferente raça. Colocou-o debaixo de sua casa e, ainda, a aprender alta escola. 

Joaquim com o seu Cavalo Lusitano

“Se me perguntassem se gosto mais de montar ou de ensinar, sem dúvida, que a minha resposta é ensinar”, afirma bastante convicto. Há mais de 20 anos construiu um picadeiro na sua residência e começou a dar aulas.

Começaram a aparecer várias crianças para aprender e, conforme o próprio, o maior gosto é vê-los chegar pequenos e saírem uns adolescentes a montar bem, sem vícios e a gostar verdadeiramente da prática. “Tive 2 meninas que, hoje em dia, já são mulheres a consagrarem-se campeãs do seu nível. Aliás, também tive um menino com problemas e o cavalo foi uma ajuda fulcral no seu desenvolvimento”, conta recordando a passagem de alguns alunos. 

“O cavalo é um animal nobre, na minha opinião, vai até à morte para dar-nos tudo. Ninguém imagina os benefícios que traz à saúde mental e física de toda a gente pois ajuda a estabelecer autoconfiança e autoestima. Além disso, os benefícios da hipoterapia são tremendos para pessoas com algum tipo de incapacidade”, realça. Nesta sequência, acredita que o Estado deveria comparticipar com alguma ajuda. 

Joaquim a montar o seu Cavalo Lusitano

Joaquim refere o orgulho que sente ao ver as suas “crias” a evoluir. Atualmente, é professor de 2 meninas e 2 meninos, sendo que no início do próximo ano mais um aluno se irá juntar a estes. “Encontro-me a prepará-los para a competição e, quando ficarem prontos, irão praticar equitação de trabalho que é uma modalidade em que os obstáculos recriam o trabalho de campo de outrora”, sublinha. 

Existe um Campeonato Nacional e, ainda, um Campeonato do Norte por tratar-se de uma modalidade dispendiosa. O lousadense, juntamente, com mais 2 amigos apaixonados pela prática equestre conseguiram trazer para a zona do Norte um Campeonato que é realizado em diversos locais: Lousada, Felgueiras, Ponte de Lima, Golegã, Barcelos, entre outros. 

“Conversámos com o Engenheiro João Ralão e conseguimos convencê-lo a deixar fazer um Campeonato na zona do Norte”, reforça. Este pertence à Associação Portuguesa do Cavalo Lusitano. 

Atualmente, Joaquim tem 2 cavalos a competir e encontra-se a preparar outro. Na época em que começou a ensinar também começou a criar cavalos lusitanos. “É uma parte que gosto bastante, tirando o estrume, mas faz parte”, sublinha entre sorrisos. 

A sua envolvência neste meio cresceu de há 20 anos para cá, na medida em que iniciou a competição no Campeonato do Norte. No 1º em que participou foi Campeão de Cavaleiros Debutantes e, no presente ano, foi Campeão nos Consagrados A e Campeão nos Debutantes. “É um sentimento bom e ajudo sempre os outros, inclusive os meus concorrentes diretos, pois a partir do momento em que veja que existe rivalidade, saio”, declara. 

Os seus tempos livres são passados em torno dos cavalos, uma vez que estes permitem-lhe abstrair de todo o stress do trabalho. Segundo o próprio, é uma maneira de tomar a medicação sem a comprar. 

Joaquim Sousa Teixeira preza por ser uma pessoa de bem, de verdade, honesto e amigo do amigo. “Não trocava Lousada por nada, porém, magoa-me que a autarquia não aposte na prática equestre como faz nas outras modalidades”,  finaliza com uma observação. 

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