por | 20 Jan, 2023 | Uncategorized

Romeu Silva: O maestro e sua música

Romeu Silva nasceu em São Pedro da Cova, freguesia portuguesa do concelho de Gondomar, mas há 17 anos que sente Lousada como a sua verdadeira morada. Cresceu a gostar de música e, por tal facto, o seu percurso é realizado dentro do meio. Professor Titular de música na Universidade do Minho e na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto, antigo maestro da Banda Musical de Lousada … entre outras funções que o preenchem na totalidade. 

Com 46 anos, Romeu Silva concedeu uma entrevista onde abordou o seu percurso de vida. Desde 2005 que reside em Boim, porém, nasceu e cresceu em São Pedro da Cova onde iniciou o seu ensino regular. A par do estudo também tocava na banda da sua terra. 

Com 12 anos ingressou no Conservatório de Música no Porto para o curso que, segundo o próprio, é apelidado como o curso secundário de música. Não o terminou na 1º fase porque foi cumprir serviço militar obrigatório, tendo-o terminado durante o seu percurso no exército. 

O seu trajeto foi cumprido na qualidade de músico da Banda de Música Militar do Norte, onde permaneceu durante 9 anos. “Na época havia dois regimes de ingresso, o regime contratado e o regime a tempo inteiro, neste sentido, fiquei no primeiro porque apesar de gostar muito, não tinha ambição de seguir a carreira militar”, afirma. 

A ambição não passou por continuar, porém, foram anos fulcrais para perceber o que queria fazer e também para continuar os estudos. Romeu decidiu terminar o contrato com o exército e, no mesmo ano, decidiu concorrer à Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo no Porto para a Licenciatura de Instrumento Tuba. 

Iniciou esse curso em 2005 e concluiu em 2009, na medida em que quando entrou ainda era uma licenciatura de 4 anos. Entretanto, a meio da licenciatura, o processo de Bolonha entrou em atividade. No final, foi convidado a lecionar na ESMAE enquanto professor assistente. Este facto fez com que prosseguisse estudos mais avançados,  mas não só, pois a vontade aliou-se à necessidade. “Com a entrada do processo de Bolonha, a obtenção de habilitação própria exige o grau de mestre”, sublinha. 

De 2009 a 2012 manteve-se como professor assistente da ESMAE e em 2014 ingressou no Mestrado em Ensino de Música, Instrumento – Tuba e Música de Câmara na Universidade do Minho. Mais uma vez, foi convidado a lecionar como professor titular nesta instituição de ensino, mas ao contrário do que aconteceu na licenciatura, nesta fase, começa a dar aulas antes de ter terminado o mestrado. 

Como um bom filho à casa torna, em 2019, voltou a ser convidado pela ESMAE na qualidade de professor titular. Atualmente, mantém-se como docente na ESMAE, na Universidade do Minho, no Conservatório do Vale do Sousa, Academia de Música de Castelo de Paiva e Escola Profissional Artística do Alto Minho – Viana do Castelo. 

“Nunca pensei que um dia seria professor do ensino superior, uma vez que sempre gostei imenso de tocar instrumento”, conta. 

Começou no trompete, tendo estudado o mesmo no Conservatório de Música no Porto, mas aquando da sua passagem na Banda de Música Militar mudou para a Tuba. No seu caminho enquanto músico sofreu um episódio peculiar, uma mudança de trompete para tuba. 

A mudança dá-se devido a um episódio numa partida de futebol que afetou gravemente a dentição e alterou bastante a forma de tocar. Conforme o próprio, o trompete é um instrumento que exige um nível de pressão facial elevado, e o facto de começar a sentir dificuldades fez com que deixasse de ser feliz enquanto instrumentista. Hoje em dia, reconhece que a tuba lhe trouxe imenso êxito e nunca pensou que tantas portas se abrissem.

Foi uma vida a tocar um instrumento e, de um momento para o outro, abandonar e rumar para outro instrumento, originou algumas inseguranças. “Na altura pensei em desistir caso a mudança não corresse bem”, evidencia. Contudo, passado pouco tempo, apercebeu-se que os resultados estavam a ser positivos e esse género de pensamento nunca mais surgiu. 

Romeu tem variadas atividades dentro do setor  musical. Além de ser professor do ensino superior e do ensino artístico, foi fundador em 2010 em conjunto com mais 9 elementos de um projeto chamado Portuguese Brass – Decateto de Metais. Além disso, quando dispõe de algum tempo disponível colabora com algumas orquestras enquanto músico: orquestra do Norte e orquestra da Casa da Música. 

“Não é nada fácil conciliar tudo, na medida em que a atividade de docente exige bastante trabalho de preparação, investigação e burocracias associadas à atividade, que consome imenso tempo”, declara. Romeu gosta de sentar-se a tocar, porém, é confrontado com situações que o obrigam a tomar decisões. 

Relativamente à Banda Musical de Lousada, o músico ingressou nesta em 1992 nessa qualidade. De acordo com o próprio, a sua experiência foi muito boa pois o facto de já ter tocado antes em algumas bandas musicais fez com que percebesse que esta tinha um nível musical mais elevado do que a maioria das bandas. Ademais, os diretores e o maestro destacavam-se pela forma como tratavam todos os músicos. 

Manteve-se enquanto músico no trompete até 2003, ano em que iniciou funções como diretor artístico/maestro da BML. “O maestro anterior, Sr. Alberto Vieira, estava a completar 25 anos à frente da banda e achou que deveria nessa altura terminar o seu ciclo e cessar funções. Assim sendo, a direção começou a tomar medidas para que a sua sucessão fosse o menos complicada possível”, explica. 

Neste sentido, Romeu recebeu o convite e não hesitou pois sabia o valor da banda e também o facto de ter uma excelente relação de proximidade com todos os músicos ajudou a que não houvesse qualquer tipo de dúvida em aceitar o convite. Naturalmente, a sua experiência foi diferente em relação à anterior, pois o início passou pela adaptação. “A banda já tinha a prática de tocar bem, mas eu não tinha a prática de ser maestro. No entanto, correu tudo muito bem e esta manteve o seu nível de excelência”, salienta. 

No seu percurso na Banda Musical de Lousada teve várias referências, realçando o Sr. Alberto Vieira e o Professor Saúl Silva. Em novembro de 2022, decide cessar as suas funções. “Não tinha vontade de sair, mas não tinha outra opção senão essa”, reforça. A sua vida profissional não lhe permitia estar de corpo e alma à frente desta e o músico entende que para que a banda continue a evoluir é preciso alguém com total disponibilidade. 

Esta decisão foi adiada, visto que antes da pandemia já tinha abordado os seus diretores para expor a situação. Entretanto, veio o covid-19 e a banda esteve sem atividade e, este ano, após regressar à normalidade confirmou o que já havia dito e pensado há 2 anos. 

Casado e pai de dois filhos, já pouco tempo sobrava para estes. Desta forma, agora, as suas decisões são completamente viradas no sentido de estar mais focado no ensino e na família.

“Gosto imenso de dar aulas, mas gosto mais ainda de tocar”, afirma. Enquanto músico prepara-se imenso e dá o melhor possível, sendo que enquanto professor tem a preocupação de tornar os seus alunos bons músicos e, ainda, boas pessoas e com valores.

“Quando me perguntam se sou de Lousada e tenho que dizer que não, soa-me estranho. Hoje em dia, identifico-me mais com Lousada do que com Gondomar”, finaliza Romeu Silva. 

Romeu Silva

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