“Senti, ao longo dos anos de licenciatura, que era naquilo que me via a trabalhar a vida toda”
Rute Cunha, de 41 anos, é uma cidadã que se preocupa em dinamizar socialmente e culturalmente a sua terra. Fá-lo na sua atividade profissional e nas suas restantes envolvências associativas que, consequentemente, a encaminham a lugares plausíveis à mudança. A Biblioteca Municipal de Lousada, a Associação Vidas em Cena, a LADEC, a União de Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga … são entidades que merecem o seu melhor contributo.
Rute Cunha é natural de Silvares e, nos dias de hoje, ainda se mantém nesta freguesia. Inicialmente, recorda a sua infância, apesar de não ter grandes memórias dessa época. No entanto, detém a certeza que foi muito feliz. A casa do seu avô materno, dotado de um enorme coração, e a casa da sua avó materna são ressaltadas como circunstâncias e/ou pessoas que jamais esquecerá.
O seu avô materno, segundo a própria, era de poucas conversas e afetos mas a sua grandeza estava sempre presente nas mais variadas ações. Hoje, de forma inata ou adquirida, reproduz o que aprendeu com os seus avós e tenta ser o melhor possível no dia-a-dia.
Frequentou o ensino obrigatório em Lousada e, no final do 12º ano de escolaridade, decidiu concorrer ao ensino superior para prosseguir estudos avançados. O seu desejo era ser professora de português/francês, porém, os poucos anos que estudou francês não foram suficientes para entrar na área. “Preenchi a minha candidatura e na última opção coloquei animação sociocultural. Bem, por incrível que pareça, entrei nessa”, conta.
Havia pouca lucidez sobre o que o curso tratava, mas de malas e bagagens foi para o Instituto Politécnico – Escola Superior de Educação em Santarém. Aos 17 anos, com escassa experiência de vida, viu-se numa realidade totalmente desconhecida. A pronúncia, a gastronomia, o estado meteorológico … são particularidades que realça para denotar a diferença existente.
Hoje, com avultada experiência de vida, sente que podia ter aproveitado mais a vida académica pois reconhece que esta permite adquirir outro género de competências. Contudo, viveu a aventura e descobriu a sua verdadeira paixão.
“Senti, ao longo dos anos de licenciatura, que era naquilo que me via a trabalhar a vida toda”, sublinha. Super abrangente, nada monótono e rotineiro, virado para pessoas … é assim que descreve o curso que mudou a sua perspetiva. A sua personalidade assenta com a sua atividade profissional que, segundo a própria, gosta da dinâmica das partilhas e dos conhecimentos que se adquire ao levar o outro a fazer e criar.
O seu curso englobou vários estágios e, praticamente, todos os anos estagiou em bibliotecas. Nada é por acaso e, nesta situação, não foi exceção. Desde 2003, aquando do estágio curricular, encontra-se na Biblioteca Municipal de Lousada. Esteve a vários termos, seja em estágio como em contrato, até que em 2011 passou a efetiva.
Já desempenhou diversas tarefas: trabalho com os movimentos seniores, centro prisional de Paços de Ferreira com atividades de promoção da leitura e do livro, projetos em escolas no âmbito da leitura e literacias, entre outras. Além destas, a nível profissional, esteve ligada ao serviço do pelouro da ação social/juventude durante 4 anos. Atualmente, realiza atividades de promoção do livro e da leitura em contexto de prolongamento nos jardins de infância e, ainda, está a colaborar no serviço educativo do Núcleo de Imprensa de Lousada.
“Amo aquilo que faço”, conclui acerca da sua atividade profissional. A par desta, faz parte de duas associações de extrema importância a nível cultural e social no concelho: Vidas em Cena e LADEC. Quanto à primeira, é uma entidade que promove a cultura e a lousadense por gosto pessoal e também graças à sua área gosta de contribuir no seu plano de atividades.

“Anteriormente, dedicava-se ao teatro que referia a identidade da terra nas várias conjunturas e, hoje, dedica-se a uma vertente direcionada aos jovens”, explica. Existe um ciclo de conferências que aborda determinadas questões de relevância para a sociedade e o intuito é fazer os jovens pensar e intervir. De acordo com a própria, é uma referência em Lousada e faz a diferença na sua vida e na vida de quem acompanha de perto.
A LADEC é também uma referência no panorama cultural e tem bastante presença no concelho. A lousadense é vice-presidente e está mais ligada às atividades culturais, nomeadamente, desfile de carnaval e festa da francesinha.
A nível político tem também um papel crucial. “Em 2017 recebi um convite para integrar o executivo da União de Freguesias de Silvares, Pias, Nogueira e Alvarenga, mas recusei. No entanto, fiquei agradavelmente surpreendida”, salienta. Rute não aceitou por considerar que não estava preparada e, ainda, por considerar não ser o momento ideal para assumir o papel. No entanto, desde pequena frisava que gostava de ser presidente de junta.
Curiosamente, nas últimas eleições voltou a ser convidada e já não conseguiu recusar. “A política, para mim, é serviço público e através dela tenho a oportunidade de mudar alguma coisa”, realça. Neste momento, é secretária.
O seu papel em prol de Lousada não termina por aqui … Como lousadense ferrenha, foi convidada pelo Presidente da LADEC a encabeçar a lista para as Festas Grandes em 2012. Naturalmente, aceitou sem hesitar porque confiava na sua equipa e também para fazer jus ao trabalho das mulheres que um dia estiveram naquele papel. “Foi uma espécie de homenagem e, ainda, para demonstrar que as mulheres também são capazes de assumir os maiores cargos”, declara.

Houve alguns contratempos, principalmente, pela época de crise económica que se vivia. Contudo, apesar de reconhecer que não é fácil, não tem dúvidas da experiência única que é. “Foi uma sensação de orgulho e dever cumprido”, reforça.
Em jeito de finalização do tema, a lousadense acredita que é de extrema importância os cidadãos cumprirem o seu dever cívico para uma sociedade melhor e mais justa. “Acho necessário que se abordem questões da cidadania, que se desmitifiquem conceitos, que se combata preconceitos, que as pessoas não se acomodem …”, salienta bastante convicta e assertiva, características intrínsecas à sua forma de estar.
Por último, mas de todo o menos importante, aborda a sua família que é tudo para si. Segundo a própria, sempre teve a certeza que não queria ter filhos derivado ao facto de considerar muitas crianças como “suas”. Ademais, por ser madrinha e tia de dois seres incríveis que a preenchem na totalidade. “O nascimento do meu afilhado mudou a minha vida e passei a ter outra visão do que é realmente importante, bem como o nascimento da minha sobrinha. Aliás, se tivesse filhos queria que fossem como eles”, revela.
Escrever é uma das suas paixões e, neste âmbito, Rute Cunha prepara-se para lançar o seu primeiro livro este ano. “É um livro infantil que se estende ao meu contexto profissional”, conclui Rute Cunha.

Nota: Por erro da redação, a frase (“A nível político tem também um papel crucial, tendo estado ligada ao serviço do pelouro da ação social/juventude) saiu mal na edição impressa e que pelo facto O LOUZADENSE apresenta desculpas à visada e aos leitores.
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