por | 5 Mar, 2023 | Região

Turismo em Lousada

Em ocasião da realização da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) 2023, um evento internacional, procedeu-se a algumas entrevistas em várias áreas que compõem o Turismo em Lousada. Foi discutido o setor e suas particularidades nestes últimos anos críticos, desde a restauração até ao alojamento local. Naturalmente, ouviu-se também o Centro de Interpretação do Românico, sendo um dos maiores cartões de visita do concelho.

Centro de Interpretação do Românico

Joaquim Costa, de 46 anos, enquanto Técnico Superior da VALSOUSA – Rota do Românico concedeu uma entrevista. O Centro de Interpretação do Românico (CIR) abriu ao público no dia 27 de setembro de 2018, coincidindo com o Dia Mundial do Turismo. O grande objetivo é dar a conhecer o território do Tâmega e Sousa, composto por 12 Municípios, e ser uma porta de entrada à arte românica. 

O projeto baseia-se na arte medieval e, de certa forma, poderia haver a ideia que a estrutura iria imitar o antigo. No entanto, a Rota do Românico gosta de diferenciar as épocas e o edifício foi concebido de forma moderna e diferenciada, apesar de respirar um pouco o simbolismo românico. 

O Centro de Interpretação do Românico está estruturado em 6 salas temáticas, iniciando de uma forma geral e à medida do percurso afunilando. A primeira sala mostra a panorâmica geral do Tâmega e Sousa do ponto de vista histórico e artístico. A segunda sala ressalta a Sociedade Medieval, entrando na Idade Média com as classes: Povo, Clero e Nobreza. De seguida, a terceira sala, é a do Românico, onde se aborda a arte românica e tudo o que a envolve. A quarta sala é a dos Construtores, mediante a reprodução de um estaleiro para a construção de uma igreja românica. Depois, a quinta sala, é a da Simbologia e da Cor, pois o grande propósito é demonstrar que a arte românica também possui cor. Por fim, a última sala, mostra a evolução dos Monumentos ao longo do tempo, evidenciando as suas transformações.

O CIR pretende proporcionar uma viagem pelo património, gastronomia e cultura. De acordo com Joaquim, sempre que se visita os monumentos entra-se no território em si. Assim sendo, o objetivo do projeto é dar a conhecer a arte românica e a história e a cultura dos vales do Sousa, Douro e Tâmega e, consequentemente, fazer com que se pernoite e se prove os pratos típicos e o bom vinho verde da região. 

Todos os monumentos são diversificados e pode observar-se particularidades da arte românica, conforme se salienta nos 6 monumentos de Lousada que integram o projeto.

Torre de Vilar

Joaquim não sabe qual será a perceção de quem vê a Torre de Vilar, mas, por norma dizem que é uma torre militar pois não conhecem as origens. A particularidade desta é ser uma Domus Fortis, isto é, uma casa fortificada. Esta representa o exemplo de que, naquela época, existiu uma família que construiu uma casa diferente. 

Torre de Vilar

Igreja de Santa Maria de Meinedo e Igreja do Salvador de Aveleda 

Em todos os monumentos é possível observar a evolução destes ao longo dos tempos pois os edifícios românicos não são elementos estáticos, visto que em termos simbólicos estão sempre a evoluir. Por exemplo, constata-se que onde agora temos a Igreja de Santa Maria de Meinedo, no século VI existira uma basílica que, posteriormente, deu lugar a um mosteiro dedicado a Santo Tirso, ou seja, foi transformando-se com o passar das épocas. Outro exemplo é a Igreja do Salvador de Aveleda que era muito mais pequena na época medieval e na época moderna sofreu alterações e foi ampliada. No fundo, atendendo às necessidades, os edifícios transformam-se. 

Igreja de Santa Maria de Meinedo
Igreja do Salvador de Aveleda

Ponte de Espindo

As particularidades vão ao encontro do próprio povo e território, neste sentido, a Ponte de Espindo possui uma especificidade muito comum à data. De um lado existe umas alminhas de forma a pedir uma boa passagem para a outra margem, porque existia sempre o receio de fazer travessia de pontes.

Ponte de Espindo

Ponte de Vilela

A Ponte de Vilela é sobre o Rio Sousa e nesta também se pode ver algumas particulares românicas, como é o caso dos talha-mares e dos talhantes, estruturas que ajudam a rasgar a pressão da água e a suster a ponte perante as cheias. A arte românica perdura no tempo e um bom exemplo é esta porque existem algumas interrogações sobre o momento de construção da mesma. 

Ponte de Vilela

Ponte de Veiga

A Ponte de Veiga é uma ponte mais local, ao contrário das anteriores que são mais regionais, uma vez que havia a necessidade de atravessar o Rio Sousa e construiu-se neste local para permitir o acesso aos campos férteis das duas margens e o trânsito de pessoas e bens.

Ponte da Veiga

Todos estes monumentos estimulam o turismo em Lousada, sendo considerados atrativos para os demais. As igrejas, as pontes, as torres … são incentivos para as pessoas cá virem que, por conseguinte, ficam pela vila a dormir e a comer. “O Centro de Interpretação do Românico fomenta o turismo em Lousada e o concelho retira muitas vantagens devido à localização deste”, remata Joaquim. 

Gastronomia local

Restaurante Brazão

A história deste restaurante é digna de ressalvar, dada a sua longevidade e categoria. Há 42 anos nasceu na Rua Santo António o restaurante Brazão por dois casais que sempre sonharam com a concretização do mesmo. Passados uns anos, estes separaram-se e seguiram caminhos distintos. E, como em tudo na vida, há partes boas e menos boas. Um dia o tão famoso restaurante ardeu devido a um curto circuito, as mangas foram arregaçadas, e o caminho continuou nas Piscinas Municipais de Lousada até o primeiro ser reconstruído. Entretanto, voltaram para o local de sempre, mas renovado e diferente. 

Rui Sousa, Ana Sousa e Luís Sousa são os três irmãos que, nos dias de hoje, gerem o restaurante com bastante aptidão. O progenitor, o rosto do restaurante, devido a problemas de saúde deveis encontra-se num lar e a progenitora ainda se mantém na cozinha como chef. 

São vários os serviços que dispõem: aniversários, batizados, comunhões, casamentos e outros. Naturalmente, os primeiros referidos são o forte da casa pois os matrimônios celebrados acabam por ser mais pequenos graças ao espaço. Para mais, fazem festas de aniversário e eventos privados porque têm dois salões espaçosos e espaço exterior que é usado no verão para vários cocktails. 

Todos os dias à hora de almoço é possível experimentar os ricos e saborosos empratamentos, porém, aos domingos e quartas-feiras fecham ao jantar. Os pratos típicos da casa albergam o bacalhau, desde o bacalhau à Brazão até ao bacalhau recheado, elaborados desde o começo da fundação. Além destes, sai frequentemente para as mesas o bife à Wellington. 

Há uns tempos deu-se a maior crise de que o setor da restauração tem memória. O Brazão teve ajuda por parte do Estado e jamais deixou de trabalhar, na medida em que adotou o serviço take-away. Foram várias as pessoas que aderiram e nunca deixaram de faturar, apesar de reconhecerem o período menos bom. Em 2020, aquando do acontecimento, era o ano com mais comunhões e batizados marcados e tudo foi adiado. No fundo, os valores que tinham para ganhar fugiram e foi necessário apertar o cinto. 

Ao longo da entrevista foi explanado um caso. Na opinião dos gerentes a restauração em Lousada estaria melhor, sobretudo ao fim-de-semana, se os bares estivessem abertos até mais tarde. Desta forma, as pessoas acabam por procurar restaurantes noutras localidades para que após o jantar possam continuar a sua noite. Esta situação não beneficia o setor e, de todo, é chamativa para a população. 

Quanto aos dias de hoje, não se podem queixar, porém, salientam que o jantar durante a semana é extremamente parado. Ao fim de semana enchem sempre o piso, mas não é  igual aos tempos de outrora em que o salão de cima estava também cheio. Os gerentes consideram que é difícil manter um restaurante aberto e que o grande segredo é darem-se bem. 

“Somos um restaurante de referência em Lousada e, neste sentido, consideramos que é graças à qualidade de serviço que apresentamos”, concluem. 

Família Brazão

Restaurante Visconde

O restaurante Visconde surge há 28 anos, como um novo projeto dos pais de Samuel, depois uma passagem pelo restaurante Brazão, restaurante que fundaram juntamente com outros membros da família. Deste modo, criaram um espaço diferenciado de restauração onde a qualidade o tornou tão conceituado. Passados uns anos, o progenitor faleceu e o tempo coincidiu com o término da licenciatura do filho, acabando por continuar o excelente trabalho realizado até à data pelo pai.  

Na cozinha mantém-se a mãe como cozinheira principal, desde o início. Ao dispor têm, sobretudo, o serviço de refeição e bebidas (com uma excelente garrafeira), para além do serviço de take-away e eventos. Assim sendo, são vários os serviços disponíveis ao usufruto da população. O Visconde está aberto de segunda a sábado na hora de almoço e de quarta a sábado na hora de jantar, sendo que ao domingo está completamente fechado.

O restaurante apresenta uma índole tradicional  com influência mediterrânea. Os  pratos tradicionais que mais se destacam são o Cabrito  de Vimioso assado no forno a lenha e a Vitela de Montalegre preparada de diversas formas. Durante o ano o restaurante acompanha a sazonalidade dos produtos e oferece, nomeadamente, o Cozido com fumeiro de Pitões das Júnias, os Rojões de Porco Bísaro, entre outros. As carnes são de origem controlada, desde a sua escolha, transporte, abate até à sua preparação.

A fase mais difícil do setor foi ultrapassada com bastante esforço e perseverança. O Visconde esteve fechado durante bastante tempo, como a lei exigiu, e numa primeira fase experimentou de forma pontual o take-away mas o cliente do restaurante é de passagem e não funcionou. O maior desafio foi cumprir com os recursos humanos, uma vez que não estavam a produzir e não havia entrada de dinheiro. Com a ajuda do estado e a própria ajuda conseguiram manter tudo.

Na parte que toca ao restaurante, as coisas vão muito bem apesar de já terem ocorrido épocas melhores. É suficiente para cumprir com as responsabilidades e obter algum lucro, contudo esperam que as coisas melhorem.  

“O segredo do sucesso é ter qualidade nos produtos que confecionamos, o que nos permite uma gastronomia rica e fora de série, juntamente com o facto de estarmos inseridos numa vila em franco desenvolvimento”, conclui.

Visconde

Alojamento Local

Quinta da Tapada

Miguel Simões, de 46 anos, na qualidade de Diretor-Geral da Quinta da Tapada concedeu uma entrevista a falar dos demais serviços desta, principalmente, no alojamento local. Hoje, como a quinta é conhecida, veio de um longo processo idealizado pelo Sr. Sousa Freire que foi um grande benemérito em Lousada. Era um filantropo, apaixonado pelas artes, poeta e compositor que, após fazer fortuna, imaginou este espaço. Tudo foi projetado, porém, quando viu que não iria viver tempo suficiente para ver o sonho acabado deixou a um sobrinho na condição de acabar a casa conforme projetada, na medida em que não teve filhos. 

Assim foi nascendo a Quinta da Tapada, remontando a meados do século XIX. Atualmente, dispõem de várias atividades que podem ser divididas em três grandes áreas: produção de laticínios, hortofrutícola e turismo. A primeira, respetivamente, é a mais conhecida e é bastante implementada na região, sendo vendida a nível nacional e um pouco a nível internacional. A hortofrutícola diz respeito à atividade agrícola que pode ser separada em duas vertentes como vinhos e frutas. Para mais, esta tem também um pequeno rebanho, sendo do interesse aumentar esta área para interligar-se com a seguinte: o turismo. 

O turismo alberga duas atividades em funcionamento: os eventos e o alojamento local. Existe um salão grande da parte de fora com capacidade para 300 pessoas e, ainda, um salão bem mais pequeno da parte de dentro com capacidade para 30 pessoas. De ressalvar, que podem ser realizados eventos de todo o gênero. 

O alojamento local, de momento, está inativo pois devido ao fecho ocorreu uma série de problemas que serão corrigidos. Por exemplo, o telhado será todo modificado e o isolamento melhorado. Existem 6 quartos bastantes generosos ao dispor e as pessoas têm acesso a todos os encantos da casa, jardins, piscina e outros espaços de cortar a respiração. O alojamento inclui o pequeno-almoço e, eventualmente, caso as pessoas queiram, a quinta serve outras refeições com produtos produzidos nesta. 

Com a altura da pandemia, pararam completamente e ainda não abriram conforme desejado esta área. Março será o mês de colocar tudo em funcionamento, inclusive as reservas que têm sempre bastante aderência. Aliás, apesar de ainda não terem reaberto, o pessoal dos eventos pede sempre o alojamento.  

Segundo o diretor, existem dois tipos de alojamento local: o de pequenos investidores que num pequeno espaço o praticam e têm imensa procura pelo cidadão europeu; e o direcionado para a experiência. Neste último, insere-se a Quinta da Tapada. A casa ainda mantém a mesma decoração de meados do século XIX e as pessoas podem ter a noção de como tudo funcionava naquele tempo e, ainda, usufruir da calma e do sossego. Por norma, trata-se de gente que tem uma vida ocupada durante todo o ano e depois recorrem à mesma para uma pausa. 

A dinâmica da quinta é bastante diferente e, cada vez mais, têm sido requisitados para retiros dado ao ambiente inspirador que se sente. Miguel salienta que 2023 é um ano difícil de fazer-se previsões dada a situação económica vivida em todo o mundo. Desta forma, as pessoas acabam por ter menos rendimento disponível para o turismo. 

São vários os projetos futuros: criar hortas através da comunidade escolar, aumentar o número de animais, apostar nas provas, criar um centro de cultura e outros. No fundo, abrir mais a quinta à comunidade. 

“Esta região pode ganhar caso se aposte em algumas das suas valências, por exemplo, a rota dos vinhos verdes está muito mal explorada”, finaliza. 

Quinta da Tapada
Suite da Quinta da Tapada

Casa de Sedoura

Goreti Magalhães, a proprietária, concedeu uma entrevista e explicou a história e serviços deste alojamento local. A família que habitava no Porto possuía um restaurante há vários anos na zona e, há 20 anos, começou a procurar um espaço de apoio para eventos. Após uma extensa procura, encontraram um local em Boim (Lousada) que estava completamente destruído. Contudo, o amor à primeira vista fez com que o adquirissem e assim nasceu a Casa de Sedoura.

Inicialmente, a ideia de eventos foi concretizada, mas, entretanto, a vereadora da Câmara Municipal de Lousada convidou-os a fazer parte da Rota Gourmet e, sugeriu que o espaço tinha bastante potencial para se tornar num alojamento local. Após esse estímulo, há 3 anos que existe a Casa de Sedoura aberta ao público.

O alojamento é com pequeno almoço incluído, podendo ainda ter a possibilidade de ser completado com todas as refeições, caso o hóspede assim o deseje. Estas são confecionadas no mimo do lar. A casa possui 3 suítes que podem ser alugadas individualmente ou em conjunto conforme disponibilidade, existindo total acesso ao interior e exterior da mesma. No exterior há um jardim com 2500m e uma piscina que se pode desfrutar com toda a tranquilidade.

Aquando da pandemia, a proprietária sentiu diversas dificuldades, pois várias reservas foram canceladas o que dificultou a gestão do espaço. Segundo a própria, aos poucos as coisas estão a voltar à normalidade, embora ainda tenha tido poucos contactos de reserva para este ano. De ressalvar que a casa pode ser reservada durante todo ano, apesar da maior procura ser na época de verão, através de contacto direto ou na plataforma digital.

Não obstante a população estar mais recetiva ao alojamento local, a proprietária sente-se desempregada todos os dias porque não há muita procura e também há mais oferta. A inflação provocou um grande aumento no custo de vida, e as pessoas pensam duas vezes na possibilidade de sair ou não, na medida em que é considerado algo de supérfluo. Nesta sequência, a casa encontra-se com os preços mais baixos em comparação aos anos anteriores à covid-19.

As expectativas para este ano ainda não são muito positivas. “Apesar de gostar muito desta vila, sinto que não há atrações que motivem o turismo”, finaliza.

Casa de Sedoura

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