A Páscoa é uma celebração do calendário religioso cristão em memória à crucificação e à ressurreição de Jesus Cristo, ou seja, relembra-nos os últimos atos de Jesus Cristo. É uma festividade aguardada com muita expectativa pelos fiéis e, este ano, pode afirmar-se que mais dado as tradições estão a voltar. A data da Páscoa é móvel e comemora-se a 9 de abril. Saiba o que o Padre Paulo Godinho prega sobre a época e, ainda, as expectativas de um Juiz da Cruz e de uma família.
Padre Paulo Sérgio Silva Godinho – Pároco de Boim, Cristelos, Pias e Silvares
- Qual é o significado da Páscoa para os cristãos?
Para os cristãos a Páscoa tem um significado muito especial, dada a sua enorme importância, seja em todo o ano litúrgico, seja na experiência e no crescimento da fé. A celebração da Páscoa na vida cristã está dotada de uma centralidade imensa. Nela está contida a experiência da eternidade da vida. Quando pensamos na Páscoa, pensamos no mistério da Ressurreição de Jesus, pensamos na “passagem” da morte à vida, pensamos na vida que vence as barreiras do tempo cronologia, dos anos, dos meses e dos dias e se abre ao que fica para sempre. Celebrar a Páscoa é descobrir, viver e experimentar a grandeza do dom da vida. Viver é Páscoa é abraçar Cristo vivo, é caminhar agarrados a Ele e com Ele viveremos.
- Como incentiva os membros das suas Paróquias a celebrar a Páscoa de uma forma significativa e pessoal?
A Páscoa, como qualquer celebração dominical da Eucaristia, ou mesmo outros momentos propostos e vividos ao longo do ano, são sempre uma ocasião e uma oportunidade de Encontro e de expressão familiar. O incentivo / convite é sempre dado e oferecido, na esperança do melhor acolhimento do mesmo. É tão bom quando dotamos as nossas vidas destas oportunidades de encontro, partilha e comunhão de vida. De alguma forma, é deste modo que partilho o desejo de fazermos deste tempo, como de todo o tempo também, um caminhar juntos, na certeza que para além de juntos sermos mais fortes, também enriquecemos o coração de belas e profundas experiências de vida. Estar juntos, celebrar juntos, viver juntos…um belo motivo para celebrar a Páscoa.
- Como é que a sua paróquia está a preparar-se para celebrar a Páscoa num contexto pós-covid?
O tempo do Covid trouxe muita coisa, a necessidade na altura de corresponder e cumprir todo um conjunto de recomendações era uma realidade. Com o tempo vamos adquirindo a normalidade que buscamos, ansiamos e desejamos. Hoje, essa normalidade tornou-se realidade e estamos a preparar-nos para viver intensamente o Tríduo Pascal e o Domingo de Páscoa. O ano que passou, ditou uma grande mudança no espaço celebrativo, espaço esse que este ano voltamos a escolher, o Pavilhão Municipal de Lousada, espaço mais amplo e capaz de receber mais pessoas ao longo dos dias do Tríduo Pascal, nestes dias em que procuramos num espírito de comunhão inter paroquial ser uma COMUNIDADE DE COMUNIDADES.
- A celebração será totalmente sem restrições ou os cuidados são para manter?
Posso responder simplesmente que sim. As celebrações sempre acompanharam o evoluir da situação, sempre procuraram ser espaço de expressão de responsabilidade cívica, social e humana. Neste momento, e dado o tempo presente que estamos a viver, creio que tudo faremos e viveremos sem restrições, mas sempre agindo e vivendo de modo responsável e com espírito fraterno.
- Quais são as mensagens principais que destaca nas suas homilias de Páscoa?
Muita da mensagem a transmitir depende muito da inspiração do momento. Contudo, procuro sempre que a mensagem a transmitir seja dotada de actualidade, quer no que à leitura actual do mundo diz respeito, quer no que diz respeito à sua aplicabilidade. Seria tão bom que a Palavra de Deus fosse mais escutada e vivida. Por ela, fazemos do caminho da nossa vida um constante marco de esperança, de caridade e de fé. Vale a pena sentir que o eterno enche de beleza, grandeza e sentido a nossa vida de ontem, de hoje e de sempre (e para sempre!!).

Miguel Freire – Juiz da Cruz em Casais
Miguel Ângelo da Silva Freire, de 44 anos, concedeu uma entrevista na qualidade de Juiz da Cruz de Casais. “A Páscoa, sem dúvida, é um dia de alegria e de serviço à comunidade”, principia. Aliás, este confessa que é a época mais bonita do ano (à exceção do Natal).
“Sou cristão”, declara. O lousadense não era muito praticante devido à sua vida profissional, mas, hoje em dia, vai com maior regularidade à casa do senhor. Contudo, acredita que às vezes o ser muito assíduo não significa que a pessoa esteja de corpo e alma.
“Quando eu vou, estou lá, na totalidade e com toda a devoção possível”, sublinha. Para mais, considera que para rezar não é necessário ir à Igreja, conforme faz de forma regular.
Este ano, 2023, será a 1º vez que ocupará a posição de Juiz da Cruz. O lousadense foi convidado em 2020 por um antigo Juiz da Cruz e ponderou pois não fica propriamente barato e exige uma logística grande. Porém, com os incentivos por parte de várias pessoas, aceitou com o maior respeito pela paróquia e pela comunidade.
Conforme referido, o convite foi feito em 2020 mas só este ano é que irá representar o cargo. Questionado acerca das restrições, de imediato, refere que irá reunir com Pe. Mota para saber de tudo ao pormenor. Todavia, acredita que não haja limitações porque é bom voltar aos costumes e hábitos de sempre.
O ano passado, em 2022, o compasso saiu. No entanto, com várias restrições como o beijar da cruz. A questão que se coloca: Será que este ano tudo vai regressar à normalidade? Bem, pelo Juiz da Cruz de Casais, regressava-se ao habitual.
“A expectativa é que tudo irá correr bem”, salienta. Uma boa organização, um bom dia de sol, uma boa equipa … são fatores para que tudo corra na perfeição. Este é um grande desafio para Miguel, na medida em que está a servir a comunidade e a ajudar a paróquia.
Ao Juiz da Cruz compete nomear um Juiz de Campainha. Este tem que arranjar cerca de 4 pessoas para andar com as cruzes e percorrer a casa de toda a gente. Para mais, organiza o almoço e jantar e, ainda, asseia a igreja e respetivas cruzes.
“Se algum dia na paróquia não houver ninguém, eu estou disposto, pois é um dever enquanto membro cristão”, remata Miguel Freire.

Maria da Glória de Sousa Magalhães e Belmiro Teixeira Magalhães – Família
Maria da Glória de Sousa Magalhães, de 76 anos, e Belmiro Teixeira Magalhães, de 79 anos, são mulher e homem. Residem em Boim e a Páscoa para esta família é sinónimo de cumplicidade e união.
“A Páscoa é uma festividade bonita e, uma vez que somos religiosos, exerce bastante valor”, sublinham. O casal foi criado desta forma e, assim sendo, criaram os filhos de maneira igual. No fundo, de geração em geração, a beleza da época vai passando e já se encontra nos bisnetos.
Questionados acerca da celebração, de imediato, entusiasmam-se a contar. “No domingo de Páscoa juntamo-nos todos em nossa casa”, contam. Os filhos, os netos, os bisnetos, os cunhados, as noras, os genros, os irmãos … estão presentes ao almoço ou na hora do Compasso Pascal que, nesta família, acontece por volta das 16 horas da tarde.
A tradição é o domingo ser celebrado com muita gente e, este ano, irá voltar tudo ao habitual. Contudo, devido à pandemia, apenas não foi tanta gente a casa do casal. “Não foi tanta gente como o costume, ou seja, só mesmo os nossos filhos. Porém, agora vamos retomar a família alargada”, referem.
Por norma, 24 pessoas juntam-se à mesa para comemorar. Contudo, o que acontece nesta época faz jus ao que acontece todos os domingos em casa do casal, um almoço com toda a família. Às 7h30m começa o dia com a ida à missa e, de seguida, Maria da Glória dirige-se a casa para fazer o almoço. Para mais, durante todo o dia, assiste-se ao Compasso Pascal na casa de todos (seja filhos, cunhados, irmãos). Às 16h da tarde, hora habitual da passagem do Compasso Pascal na casa da família, prepara-se um lanche bem recheado para receber todos.
De acordo com o casal, ainda não se vai poder beijar a cruz. Todavia, será uma Páscoa mais livre de restrições (pelo menos na casa de Maria e Belmiro). Na Sexta-Feira Santa respeitam o jejum, ou seja, a abstenção de carne. No Domingo de Páscoa o prato tradicional é o cabrito.
“Já fui Juiz da Cruz por 2 vezes”, conta Belmiro. Segundo o próprio, é preciso saber ocupar esta posição pois é uma responsabilidade. Após 1 ano da 1º vez, foi novamente Juiz da Cruz porque não havia ninguém, acabando por assumir a função na véspera de Páscoa às 20h da noite.
Maria da Glória adorou ver o marido na posição e, se fosse mais nova, desejava vê-lo novamente. “Foi um dia muito feliz”, conta. O casal confeccionou tudo em sua casa e ofereceu pequeno-almoço, almoço e jantar.
Neste seguimento, as memórias dos domingos na qualidade de Juiz da Cruz ficam para sempre porque eram domingos diferentes e, ainda, com mais gente. “Desejamos a todos uma Páscoa feliz e que a tradição perdure por muitos e longos anos”, finalizam.

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