Manuel Augusto Monteiro Morais Peixoto, de 83 anos, é natural do Marco de Canaveses mas apropriou-se desta tão acarinhada vila para constituir família. Estudou Direito e, inicialmente, foi Delegado do Ministério Público. Entretanto, mudou para Notário, onde permaneceu até à aposentação. Saiba mais sobre este ilustre homem do saber.
“Nasci no Hospital da Lapa, situado no Porto”, principia. É natural do Porto, e viveu um longo período na aldeia Paços de Gaiolo (freguesia portuguesa do concelho de Marco de Canaveses). Os seus progenitores tinham uma quinta nesta, onde Manuel e o irmão mais novo foram criados, e iniciaram o ensino primário.
Os seus pais eram professores, porém, em freguesias diferentes. Segundo o próprio, devido ao conhecimento de um tio foram para Guimarães, frequentando o segundo ciclo de estudos. Durante 4 anos, o próprio e o irmão estudaram no internato de Guimarães. Mantiveram-se na cidade berço, no entanto dado os resultados menos favoráveis do irmão viajaram para o Porto.
“Os meus pais decidiram alugar uma casa no Porto e fomos para lá viver”, afirma. Os pais mantiveram a profissão, professores, e Manuel foi para o Colégio Almeida Garrett, e acabou o curso liceal no Liceu D. Manuel II. O seu percurso escolar foi feito nestas instituições até decidir seguir estudos avançados pois era um aluno razoável, com ambições e desejos.
O irmão foi cumprir serviço militar obrigatório, porém, o entrevistado como entrou na faculdade ficou isento de ir. Frequentou, durante 5 anos, a Faculdade de Direito – Universidade de Coimbra pois sempre foi uma área que lhe despertou interesse. Para mais, conhecia um procurador que o ajudou (indiretamente) a tomar a decisão, permitindo-lhe ter um maior conhecimento da atividade profissional.
“Foram 5 anos difíceis”, sublinha. Neste seguimento, acabou por reprovar no 1º ano mas prosseguiu empenhado e dedicado até ao fim do curso, tendo sido um aluno médio. Conforme o próprio, havia professores mais exigentes e outros mais acessíveis que variavam a classificação.
Após a conclusão do curso, foi colocado no Alentejo como Delegado Interino, precisamente, nas Comarcas de Nisa e Ponte de Sor. Em seguida, foi transferido para a Comarca de Baião e, posteriormente, para a Mêda. Este último local foi o que mais gostou de estar, na medida em que se encontrava mais próximo das suas origens. Além disso, conhecia um Juiz de Resende. O percurso na cidade portuguesa do distrito da Guarda terminou ao fim de 2 anos e, de acordo com Manuel, não havia muito serviço.
A sua função era ser Delegado do Ministério Público, ou seja, exercia a ação penal, dirigia a investigação criminal, defendia a legalidade democrática e os direitos e deveres dos cidadãos, entre outras atividades. Após sair de Mêda, um Procurador entrou em contacto consigo com o intuito de colocá-lo na Covilhã. “Disseram-me que lá era difícil, sobretudo, devido às falências”, salienta.
Posto isto, telefonou a um primo seu que era Procurador Geral da República e este viu que Penafiel estava com o cargo livre. Logo, não foi para a Covilhã devido a algumas razões que acabou por enumerar ao Procurador que o queria na Covilhã aquando do telefonema do porquê de não ter aceitado ir. “Eu disse que a escolha deveu-se aos meus pais já terem uma certa idade e não queria estar tão longe deles, de forma a dar amparo quando necessário”, conta.
Em Penafiel, encontrou um Juiz muito prestável e amigo que lhe disse: “se eu tivesse a sua idade, deixava a Magistratura e ia para o Notariado porque tinha a vida muito mais livre e não era obrigado a mudar de local recorrentemente”. O conselho foi atendido e Manuel decidiu mudar.
O seu pedido foi aceite e nas vésperas do 25 de abril de 1974 tornou-se Notário, exercendo a função até aposentar-se. De acordo com o próprio, Notário e Magistratura são profissões completamente diferentes. “Gostei mais de trabalhar como Delegado do Ministério Público”, refere. Aliás, se tomasse a decisão hoje, não teria trocado pois não se muda com tanta frequência de Tribunal (local).
Na qualidade de Notário, esteve sempre em Lousada. Todavia, houve uma altura do percurso, que tencionava ir para Penafiel mas soube que os funcionários eram pouco agradáveis e fugiam às responsabilidades. Assim, permaneceu na vila.
Questionado sobre a sua experiência, de imediato, refere que verificou que ser Notário não era mais difícil que ser Magistrado. Para mais, declara que deu-se sempre bem em Lousada e assistiu à sua evolução em todos os sentidos. “Pode considerar-se um dormitório do Porto, no bom sentido, devido à acessibilidade”, sublinha sobre a vila que estima como sua.

No seu percurso profissional, houve momentos que teve processos bastante difíceis que o deixavam apreensivo e receoso. Porém, nunca se arrependeu de ter optado por Direito e ter começado a namorar mais tarde.
Em relação a movimentos associativos, pertenceu à Associação de Estudantes em Coimbra, em Lousada pertenceu ao Partido Social Democrata. “Gosto de fazer parte da sociedade e dos demais movimentos. Aliás, convivo com toda a gente, principalmente, com pessoas com o mesmo nível intelectual”, afirma. Sem dúvida, Manuel considera a parte cívica um dever de todos os cidadãos.
Conforme referido anteriormente, começou a interessar-se pelo amor mais tarde e acabou por casar tarde. “Ela residia na mesma pensão que eu e era funcionária do cartório”, declara sobre a sua esposa lousadense. As coincidências de vida originaram no matrimónio e, assim sendo, construiu família em Lousada.
É pai de 2 raparigas e 1 rapaz. Segundo Manuel, as filhas eram boas alunas e ingressaram no ensino superior em enfermagem e direito. No fundo, uma cria acabou por seguir o caminho do pai mas deseja seguir a Magistratura em relação às falências e a outra encontra-se a trabalhar no Hospital de Santo António, no Porto. O seu filho terminou o ensino obrigatório, ou seja, o 12º ano e não quis prosseguir estudos mais avançados. “Já tenho uma neta”, refere com um sorriso no rosto.
Nos seus tempos livres, lê muito e estuda geologia pois é um homem dado ao saber e conhecimento. Além disso, está a escrever a biografia da sua família. Vê televisão, sobretudo, o noticiário ou outro programa interessante.
“De resto, a vida é mais limitada graças à reforma”, salienta. Manuel gostava mais de estar no ativo pois enquanto indivíduo aposentado tem que procurar situações de entretenimento e oportunidades para passar o tempo.
“Lousada desenvolveu-se muito ao nível económico, cultural e comercial. Adoro estar aqui, pois prefiro sítios pacatos e calmos”, finaliza Manuel Augusto Peixoto.

Trata-se de um Grande Senhor, o município de Lousada que não deixe escapar a oportunidade de o agraciar.