NOVO PARADIGMA NO COMÉRCIO LOCAL
Depois do explosivo aparecimento de lojas de óculos e dentistas, que rivalizam em quantidade com as lojas de vestuário, há um novo segmento em ascensão: a beleza, estética e cuidados de saúde, tanto para mulheres como para homens. Mas há sinais de timidez de investimento no pequeno e médio negócio. Já as grandes superfícies multinacionais continuam em alta. Os especialistas imobiliários locais dizem que tudo isto se deve à vinda de nova população para Lousada.
A expansão urbana, com mais fogos e mais serviços tem sido apanágio de Lousada nos últimos anos, cujas acessibilidades muito potenciaram o concelho e a sua localidade-sede, que se mostra apelativa ao poder de compra que vem de fora. É um dado adquirido que os residentes, grosso modo, não têm essa capacidade tão avultada, dados os salários baixos que predominam entre a população autóctone.
Essa atratividade incentiva a vinda de muitos habitantes novos, nomeadamente imigrantes, o que induz mudanças a vários níveis, mormente no comércio, cada vez mais do tipo citadino e cada vez menos de pendor tradicional.
Neste fim de semana abriram algumas lojas novas, sinal de que o comércio lousadense vive uma fase de algum frenesim, embora com alguns sinais de timidez e precaução. Exemplo disso são as lojas novas e antigas por alugar ou vender. Por outro lado, o grande investimento de capital está em alta: a rede espanhola de hipermercados Mercadona está em fase adiantada de construção e outra multinacional, McDonalds, deverá avançar ainda este ano com o respetivo empreendimento.
Quanto ao pequeno e médio comércio, nota-se algumas novidades de monta na área urbana de Lousada. Há mais salões de beleza, clínicas de estética e barbearias. Depois do boom de dentistas e óticas (são os negócios predominantes, a par das lojas de vestuário) registado nos últimos anos, é agora a vez de outra tipologia de negócios avançar na baixa da Vila.
“O mercado imobiliário comercial está muito dinâmico e com novas e variadas opções em todas as áreas de negócio, isso sucede porque o mercado habitacional assim o obriga, a população está a aumentar e a diversificar-se”, diz Joca Rodrigues, experiente agente imobiliário de Lousada, cujo setor é um dos que continua em alta, embora moderada comparativamente ao ano anterior.
“A abertura de negócios ligados ao bem-estar pessoal é um dos sintomas dessa realidade social nova que está a transformar Lousada”, afirma o investigador social Carlos Richter, para quem “há toda uma panóplia de oportunidades que se abrem com a vida de pessoas de fora, incrementando uma vida comercial que pede coisas novas, enfim, é o urbanismo nas suas diversas dimensões a manifestar-se neste território”.
Exemplificativo disso e do cuidado que a população masculina (sobretudo jovem) devota à imagem, é o aumento das barbearias. Aquele estudioso chama a atenção para as designações: “muitas destas lojas novas adotam aquilo que chamo de «modernices do urbanismo», que não são mais que designações típicas das grandes cidades e das áreas metropolitanas”. Por isso não é de estranhar que na área urbana de Lousada encontremos inúmeras designações a barbershops ou beauty clinic, por exemplo.
Espaços comerciais em excesso?
Para o agente imobiliário Ruben Leite “o mercado imobiliário, está sempre em constante oscilação, e no mercado das lojas e espaços comerciais, não é diferente”. Acrescenta que “Lousada vive neste momento uma forte expansão a nível de fogos, como também de lojas comerciais. Veio com isto resolver uma grande lacuna, que era a evolução do comércio tradicional, que se sentia há algum tempo”.
No espaço de três anos “criaram-se sensivelmente mais de 100 novas lojas comerciais, o que levou a uma procura imensa de investidores/particulares, a crerem-se implementar em Lousada, dado a sua centralidade, população e valor de metro quadrado mais baixo, em relação aos concelhos vizinhos”.
O crescimento foi notório, destacando “uma expansão incrível a nível da saúde e beleza, nas suas diversas áreas”.
Contudo, Edgar Leite levanta algumas questões e preocupações: “tudo tem um limite e questiono, será que fará sentido, continuar a apostar no crescimento deste setor, quando ainda 35% a 40% destes comércios estão por abrir ou sem qualquer definição?”
O agente imobiliário questiona esse possível excesso referindo-se aos empreendimentos que estão a ser projetados e outros já em construção, que terão tantas ou mais lojas disponíveis para arrendamento/compra.
“Na minha opinião havia uma possibilidade muito mais interessante e rentável a todos os níveis, que passava pela criação de futuro, de apartamentos T1/T2 rês do chão. Como sabemos os apartamentos rés-do-chão tem um valor comercial mais baixo, o que neste caso se tornaria uma mais-valia, seriam criadas mais habitações e potenciavam um foco muito específico, jovens que procuram a sua primeira casa e a independência, ou famílias de classe média-baixa, pois sabemos que, hoje em dia, uma família ou um jovem, em que ambos aufiram o ordenado mínimo ou pouco mais, não conseguem comprar casa em Lousada”, conclui Edgar Leite.
Modernidades urbanas
O arquiteto António Machado enaltece a diversidade de oferta em serviços e bens que o comércio de Lousada está a fornecer. “Isso funciona como um atrativo para quem vem de fora e para os próprios moradores”, diz. A simbiose entre tradicional e moderno “é um desafio que se coloca a Lousada, que parece estar a conjugar bem essas duas ofertas no comércio”, acrescentou.
Tudo isto, no seu entender, “deve-se à expansão urbana que tem ocorrido na vila e que lhe confere um ar cosmopolita em diversos aspetos do novo comércio, com oferta de serviços como por exemplo o que o jornal O Louzadense já mostrou com a expansão das lojas de tatuagens e também com a oferta de muito bom nível na área da restauração, características estas que são próprias das grandes cidades”.
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