“O teatro é uma ferramenta transformadora para a sociedade porque, de certa maneira, consegue mudar mentalidades”
Nesta edição, os holofotes estão voltados para a talentosa e versátil artista Rita Calatré, cujo carisma e habilidades artísticas foram regados desde a sua infância. Aos poucos e poucos está a consolidar uma carreira tanto no mundo do teatro quanto na indústria musical. Conheça mais a sua trajetória e os projetos em que se vê envolvida.
Rita Calatré, de 32 anos, é natural de Santa Marinha de Lodares (freguesia portuguesa do concelho de Lousada), mas desde 2015 habita em Matosinhos. No início da entrevista foi questionada acerca da sua infância e, de imediato, refere que o facto da sua progenitora ter sido educadora de infância e andar muito com a mesma desde pequena, permitiu-lhe explorar a vertente das artes pela forma como a sua mãe leciona nas escolas por onde passa, como trabalha com as crianças e a maneira como as artes sempre estiveram muito presentes dentro da sala de aula. “A minha mãe sempre foi uma inspiração para mim e, sem dúvida, acabei por descobrir essa área devido a ela e à forma como ela vê o mundo e como o mostra aos outros”, conta.
Além desta influência positiva, a lousadense integrou diversos grupos que também acabaram por estimular esta vertente, tal como o Coro da Igreja de Santa Marinha de Lodares, o Clube de Teatro da Escola Secundária de Penafiel, pois “é nos ambientes mais pequenos que se consegue desenvolver o bichinho que já existe através de ferramentas que alimentam e nos permitem crescer.” Dado isto, tanto na sua infância como na adolescência, sempre se envolveu em entidades e estruturas que a levaram a pisar “mini palcos” e, ainda, a perceber se era o caminho que desejava prosseguir, como na Escola de Música “A Melodia” em Penafiel e “Nova Oficina de Teatro e Coral de Lousada”, grupo dirigido por Capitolina Oliveira.
Entretanto, os “minis palcos” deram lugar a “grandes palcos”. Rita ingressou na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo no Porto (ESMAE), na licenciatura de teatro – interpretação. A mesma foi concluída no ano de 2011 e, após a conclusão, ingressou à séria no mundo do trabalho, estreando-se num musical encenado por Rui Melo, no Porto, no final de 2011 e nunca mais parou.
“Felizmente sempre tive imenso trabalho e acho que deve-se ao facto de saber exatamente o que quero, desde muito cedo. Quando trabalhamos e fazemos o que faz sentido para nós, com brio e profissionalismo, as oportunidades acabam por fluir de forma bastante natural”, sublinha. A decisão foi a certa e, desde então, é uma privilegiada pelos projetos e desafios interessantes que têm surgido e marca presença.
Engane-se quem ache que a paixão assenta apenas no teatro, na medida em que esta talentosa cidadã propaga a sua voz lindamente – música. Desta forma, a nível artístico rapidamente percebeu que o caminho que faria sentido na sua vida seria o teatro musical. Após a saída da faculdade, estreou-se no musical “A Ilha do Tesouro” no Rivoli, sendo essa a sua primeira experiência profissional, através da Elenco Produções, com uma dimensão avantajada. “Confirmei, ainda mais, que era nas artes que me via”, declara.
A artista chegou a fazer parte do elenco do projeto “Sónia e as Profissões” com Sónia Araújo, ligado ao Canal Panda, trabalhou numa Residência Artística em Fafe até que, em 2014, surgiu a oportunidade de ingressar na Jangada de Teatro onde permaneceu até setembro do ano transato. No entanto, continua a fazer parte da família pois ainda encontra-se ligada a esta companhia através dos espetáculos que estão em cena. “A Jangada, indubitavelmente, foi o lugar onde pude explorar bastantes coisas, desde produções próprias que fizemos através do nosso trabalho como atores e não só, assistências de encenação, digressões nacionais e internacionais, à criação de um curso de verão de teatro musical”, refere.
De acordo com a própria, o curso de verão de teatro musical foi dos projetos mais desafiantes e daqueles que achou que fazia todo o sentido ser criado na vila. O objetivo era oferecer aos adolescentes a oportunidade de experimentar e perceber se era aquele caminho que queriam efetivamente seguir, com profissionais da área, tanto dentro como fora do palco, num espetáculo mais equiparado possível a um espetáculo profissional de teatro musical.
No fundo, a iniciativa levou à fundação de um projeto independente – O Coro de Atores. Este já marcou presença, várias vezes, no Mercado Histórico de Lousada e trata-se da companhia profissional que a lousadense dirige e destaca devido aos projetos artísticos que vêm a desenvolver desde 2016.
“Fizemos espetáculos relacionados com temáticas importantes como, por exemplo, a saúde mental. É urgente mudar o panorama para que a população perceba que o teatro musical não se trata apenas de purpurinas ou luzes coloridas e cheias de efeitos. Aliás, é muito mais que isso. Trata-se de falar com verdade e sobretudo passar a mensagem, pois através disso conseguimos chamar a atenção e falar de assuntos importantes de forma leve, cativante e interessante para quem assiste”, reforça.
Rita, ao longo deste tempo, carece da consciência que conseguiu rodear-se de pessoas que tinham a mesma linha de trabalho e princípios que ela. Naturalmente, esta questão acabou por ser importante no seu crescimento enquanto artista com um talento inquestionável e uma determinação inabalável em ultrapassar barreiras artísticas.
“O teatro é uma ferramenta transformadora para a sociedade porque, de certa maneira, consegue mudar mentalidades através daquilo que colocamos em palco.”, declara.
A música é uma linguagem universal que tem o poder de emocionar, inspirar e conectar pessoas. E no palco desse maravilhoso mundo sonoro, Rita brilha, conquistando corações e deixando a sua marca indelével na indústria musical. Nesta área, faz parte do Fulano-X onde já marcou presença nas Festas Grandes em Honra do Senhor dos Aflitos. Ademais, desde 2021, trabalha na RockSchool Porto que trata-se de uma escola bastante conceituada de música moderna e de artes performativas, com a chancela do Ministério Britânico. “Foi-me lançado o desafio de continuar na área do teatro musical, mas abraçando na mesma a parte de interpretação, mas também a vocal – canto e Acting Through Song”, conta.
A lousadense abraçou de braços abertos o desafio que, desde o começo, permitiu-lhe sair da sua zona de conforto e explorar coisas que não tinha tempo de se focar anteriormente. A vida desta cidadã é dividida entre o teatro e a música que são um verdadeiro complemento. “Não consigo escolher entre uma coisa ou outra porque, para mim, tanto a palavra tem um peso muito grande na mensagem que desejo passar como a música é uma personagem ativa na mensagem que desejo passar, tendo uma influência enorme”, refere.
Neste seguimento, Rita não se sente completa se não estiver a fazer as duas pois estas formas de expressão conectam-se lindamente na sua vida artística. Contudo, apesar desta ligação, sabe separar os momentos em que necessita apenas da “cantora” ou da “atriz” com o máximo profissionalismo e rigor que lhe caracteriza.
Questionada sobre como equilibra e concilia a sua vida, de imediato, refere entre risos: “com muita ginástica”. A artista não tem dúvidas que trata-se de uma questão de organização e de trabalho de equipa, sendo que neste parâmetro não poderia possuir melhor retaguarda familiar que permite-lhe abraçar desafios.
“Tenho um marido que me apoia a 100% e incentiva, bem como os meus pais e restante família. Para tudo, precisamos de uma base familiar forte e estruturada”, afirma. Além disso, a sua equipa de trabalho é compreensível, disponível e aberta às necessidades de todos.
Neste seguimento, refere a sua ligação à família. Rita é casada e fruto do matrimónio resultou uma menina que, nos dias de hoje, tem 3 anos. Ademais, possui duas cadelas e vários peixinhos. Desta forma, os seus tempos livres (que são raros) são aproveitados para descansar na plenitude, passear com a família, brincar com a filha, ir a concertos, espetáculos, ver séries … “Eu quero que a minha filha olhe para mim e perceba que, de certa maneira, nunca foi um empecilho na minha carreira mas indubitavelmente uma bênção”, declara.
Por fim, a artista salienta que nunca surgiu nenhuma hesitação e receio pelo caminho que foi escolhendo ao longo da vida. “Em Portugal, as pessoas não são sensíveis ao viver da arte e possuem a ideia que é tudo muito difícil e complicado. Todas as profissões são difíceis e complicadas se não houver amor por elas.”, sublinha. Contudo, os seus progenitores, alertando para as dificuldades da área e ideias “preconcebidas”, mesmo não achando muita piada, sempre a apoiaram em todas as decisões pois a arte é muito mais que todas as ideias de quem não se dá ao trabalho de a conhecer.














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