A RELIGIOSIDADE DOS LOUSADENSES (Parte II)
Na edição anterior demos atenção ao tema da religiosidade dos lousadenses com a abordagem ao culto das Testemunhas de Jeová e à Igreja Evangélica Kairós. Hoje completamos este trabalho sobre os principais cultos religiosos existentes em Lousada, com a Igreja Católica e a Igreja Evangélica do Monte Sião. Também estas registam crescimento de pessoas nas atividades religiosas.
Nem só de transtorno viveram as religiões com o surto da pandemia Covid-19, que também teve o condão de fomentar a adesão das pessoas à religiosidade e à espiritualidade. Essa parece ser uma das explicações para o aumento de participantes nas atividades religiosas em todos os cultos existentes em Lousada.
“Tenho notado, sobretudo na missa de domingo, a presença de caras novas, o que é sempre bom”, refere o pároco Paulo Godinho, há 9 anos a dirigir as paróquias da Vila e circundantes (Boim, Pias e Cristelos).
Outro aspeto que vê como indicador da vitalidade demográfica de Lousada e como indicador da participação religiosa é o número significativo de casamentos e sobretudo de batizados. “No ano passado tivemos um recorde de 150 batismos, o número mais alto desde que estou cá”, anuncia o reverendo, que está esperançado na ultrapassagem desse número em 2023, pois “ainda estamos em agosto e já temos 110 batizados realizados”.
Mas o maior motivo de orgulho da igreja católica em Lousada refere-se às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), onde estiveram 270 jovens de Lousada. “Houve muitos jovens que não foram, mas depois de assistirem pela televisão e pelos relatos dos amigos, desejaram ter ido”, diz o pároco, que enaltece também “a forma como Lousada acolheu os jovens estrangeiros, que estiveram aqui na feliz coincidência com a Festa Grande em honra do Senhor dos Aflitos, o que permitiu dinâmicas e envolvências muito bonitas e que ficaram na nossa e na história deles”.
Reconhecendo que antes das JMJ a igreja Católica portuguesa estava sob fogo intenso e a viver uma fase muito complicada por causa dos casos de pedofilia, aquele evento mundial e a vinda do Papa Francisco “foram uma bênção e uma lufada de ar fresco para a Igreja, não só portuguesa como também universal”. O padre Paulo Godinho sublinha ainda a este respeito que as JMJ “vão permitir a continuidade deste movimento juvenil que se criou, pois os jovens estão empolgados em continuar o caminho e replicar essa experiência nos frutos do presente e de modo a que não se fiquem apenas na miragem do passado”.
Enquanto pároco da vila e suas freguesias envolventes, Paulo Godinho tem certamente uma visão muito apurada da realidade social. Questionado sobre que temáticas o preocupam na sociedade local, o clérigo afirmou que “há problemas, claro, como qualquer localidade, mas não creio que exista propriamente uma problemática mais grave ou um fenómeno perturbador e apraz-me registar que de uma forma geral os problemas sociais vão sendo sinalizados e há intervenção das entidades competentes”.
Numa breve caracterização da participação das pessoas nas suas paróquias, considera que “temos as pessoas suficientes para fazer o que é necessário e suposto fazermos, mas também é certo que se mais pessoas houvesse mais poderia ser feito, como acontece noutra entidade ou organismo qualquer”.
A propósito da questão da participação e da prática, perguntamos se tem ideia sobre percentagens em Lousada de católicos praticantes e de não-praticantes, ao que respondeu da seguinte forma: “isso é uma mera nomenclatura e o que importa é se somos ou não somos católicos. Claro que o cenário ideal é aliar a vida quotidiana das pessoas com a sua presença na comunidade paroquial, mas não tem que ser assim. Temos que ser como o Papa Francisco diz, «uma Igreja em saída», ou seja, sermos também igreja fora dela, em qualquer sítio, entre os amigos, na família, na festa, no desporto, etc”.
Entre as exigências materiais que se colocam a breve prazo às suas paróquias, o padre disse que “há obras que se tornam urgentes realizar, nomeadamente na igreja de Pias, onde já se estão a iniciar, mas também nas outras igrejas, com substituição dos telhados e outras obras que estes tipos de edifícios antigos vão exigindo”.
Quanto a si, para terminar esta entrevista, Paulo Godinho diz-se “feliz pela vinda para Lousada, há quase 9 anos, onde cheguei muito novo e sem experiência de pároco, mas a população acolheu-me muito bem, ensina-me muito e assim espero continuar”.



Igreja do Monte Sião tem preocupações sociais
Desde 2002 instalado em Lousada, o pastor Luís Duarte Sá, de Minas Gerais (Brasil), começou por pertencer à Igreja Baptista Independente, que era conhecida por Encontro de Paz. Mais tarde passou a designar-se Igreja Evangélica do Monte Sião e desde 2021 está sediada na rua Eng.º Adelino Amaro da Costa.
“Baseamos a nossa atividade na leitura e interpretação do Evangelho, como forma de mostrar os ensinamentos de Jesus e encaminhar as pessoas para o espírito de Deus”, refere o clérigo brasileiro, para quem o seu papel é o de sucessor dos 12 apóstolos, para transmitir a mensagem de Jesus e “ajudar à libertação dos vicios, dos maus hábitos, dos maus caminhos, mostrando-lhes o caminho de Deus”.
Cerca de 60 pessoas assistem regularmente às atividades desta igreja evangélica, “mas há mais algumas dezenas que não são tão frequentes”, explica Luís Sá.
A Igreja Evangélica Monte Sião tem cultos à quarta-feira (21h), com leitura do Evangelho; sexta-feira (21h), oração; aos sábados (20:30h) e domingos (18h) realizam-se as sessões de louvores, com música e cânticos.
Além da componente religiosa, a igreja do Monte Sião tem uma preocupação social muito vincada: “estamos registados oficialmente como entidade cívica e religiosa e temos legalidade para criar serviços sociais. Queremos muito abrir uma creche e um serviço de apoio a idosos”, revela o líder desta igreja evangélica.
Mas a sua principal vocação é “ajudar os mais necessitados espiritualmente, pois cada pessoa tem um corpo que transporta o seu próprio espírito e o espírito de Deus, mas quando a pessoa se afasta de Deus o espaço dele pode ser ocupado por um espírito mau e é isso que ajudamos a remover. Muitas pessoas chegam até nós pensando que estão doentes, e por vezes até estão mesmo doentes com depressão e outras doenças psíquicas, mas em muitos casos o que se passa é a presença de espíritos negativos, que nós procuramos ajudar a remover e substituir pelo espírito de Deus”, afirma Luís Sá.
Explica que “uma das formas de fazer isso é pelo batismo, que acontece regularmente com grupos de pessoas, como aconteceu recentemente com 15 fiéis, nove dos quais de Lousada e que experimentaram esse momento único no Rio Sousa”. Os seguidores da igreja Monte Sião defendem que através do batismo se opera uma mudança na vida de cada pessoa, pois creem que ao submergir na água deixam lá o passado e ao emergir iniciam uma nova etapa ou ciclo de vida.
“Queremos ser parte do processo de melhoria da vida social e para isso queremos incutir nas pessoas os princípios sagrados de deus, principalmente o respeito e os valores tradicionais da família, que infelizmente estão a ser muito deturpados e transgredidos, como é o caso de jovens que se juntam sem casamento e de jovens que não respeitam os pais”, esclarece Luís Sá.
“Isso serve para ganhar uma nova espiritualidade, uma aproximação a Deus, o que em termos práticos serve para curar vícios de droga e de álcool ou comportamentos violentos ou marginais, largar preocupações e cortar com passados indesejados”, explana Luís Sá.
Referindo-se a um caso concreto, sem revelar a identidade da pessoa, o pastor conta que “certo dia uma pessoa chegou aqui dizendo que estava muito doente e infeliz e de facto parecia estar, sim, mas com toda esta forma de ver a vida e a religião, hoje em dia essa pessoa é feliz e é um exemplo para muitas pessoas, inclusive um antigo patrão ao aperceber-se da mudança que estava a acontecer nela veio ter connosco para conhecer a Igreja do Monte Sião”, revela o pastor.
Esta igreja era exclusiva de Lousada e só existiam outras no Brasil. Mas recentemente foi aberta uma na Trofa e pretendem abrir outras nas principais localidades do Vale do Sousa. Um centro de reabilitação de toxicodependentes e alcoólicos é outra das valências que os dirigentes desta congregação gostariam de implantar. “Lousada e a região estão muito afetadas pela droga e pelo álcool e gostávamos de ser parte da solução com outras igrejas e escolas”, complementa Luís Sá.



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