O cinquentenário Café Paládio é uma espécie de instituição comercial em Lousada e tem Firmino Mendonça como dono desde 1986. Na vila é o empresário de restauração com mais tempo na mesma casa. Com exceção de um ano como talhante e criador de gado, profissão destacada na família Mendonça, foi sempre cafeteiro. “Cheguei a tirar 200 cafés num só dia”, recorda com um sorriso largo.
O histórico Paládio já não é o café que foi porque “o negócio está fraco”, diz Firmino Manuel Pinto Mendonça, de 68 anos, que aponta como causas disso a saída de vários serviços públicos das proximidades, como foi o caso da Conservatória do Registo Civil e Predial, das Finanças, do Notário e da diminuição dos serviços no Tribunal. “Em tempos isto era um corrupio de gente daqui e muitas pessoas de passagem, mas agora está muito parado, muito morto”, queixa-se o empresário.
Também se queixa das grandes superfícies comerciais: “nos hipermercados um jovem menor pode comprar garrafas de bebidas alcoólicas e aqui no café se lhe servir uma bebida que seja já é contra a lei”.
Firmino é um dos 7 filhos (3 homens e 4 mulheres) de Antero Afonso Mendonça e Emília da Conceição. Tem o nome do seu avô paterno, que era de Santa Margarida.
“Vim para o Paládio com 18 anos, fui um dos primeiros empregados” e acrescenta que tentou despedir-se “umas quatro ou cinco vezes”, mas o fundador do estabelecimento, Joaquim Valinhas, dissuadiu-o sempre. “Quando fui para a tropa, para Mafra, fizeram-me um jantar de despedida porque ia estar fora durante ano e meio; fui com a intenção de meter-me noutro trabalho quando voltasse, mas o certo é que o destino quis que eu continuasse na restauração”, revela Firmino Mendonça.
No início dos anos 80 adquiriu a confeitaria Colmeia (que tinha sido de António Mota, da Padaria Central) e ali se manteve até 1986, ano em que passou aquele negócio e adquiriu o Café Paládio. Entretanto, em 1982, Firmino casou com Maria do Céu Pinto. O casal teve dois filhos, Raimundo e André. “Depois deles, queríamos muito uma menina, até tínhamos o nome Ana Rita para ela e quarto já montado”, mas esse desejo nunca se concretizou.
O tempo passa, os clientes vão-se, os vizinhos também, mas o estabelecimento vai resistindo como snack-bar histórico da vila de Lousada.
“Que saudades tenho dos encontros matinais dos padres daqui e das redondezas, para a leitura do jornal e para as conversas deles”, afirma, recordando os padres Maia, Mota, Camilo, Meireles e o que faleceu mais recentemente, padre Emílio, além do padre Casimiro, capelão da Santa Casa. “Entre estes era também presença habitual o professor Adriano Fernandes”, lembra Mendonça.
Outra classe muito representada entre a clientela das décadas de 1980 e 1990 “eram os advogados, que aqui fizeram grandes amizades comigo, o Dr. Adérito Guerra, o Dr. José Vieira e muitos outros”.
Pela sua centralidade e proximidade à Câmara Municipal, o Paládio era também ponto de encontro de muitos políticos. “Ainda é, mas não como nos outros tempos em que por exemplo o saudoso Dr. Mário Fonseca aqui vinha comer um prego no prato ou uma omelete sempre que havia reunião da Assembleia Municipal”, recorda com saudade.
Um acidente na caça
Falando de política, confessa: “nunca fui muito de partidos, fui sempre mais pelas pessoas e dei-me muito bem com todos os presidentes da Câmara”, afirma o dono do Paládio.
Na vida associativa e desportiva, nunca foi grande jogador de futebol, mas era um habilidoso jogador de hóquei em campo. Na sua freguesia de origem, Boim, foi um dos fundadores da coletividade local, onde tem orgulho de dizer que é o sócio número 4.
Também já esteve na comissão de festas do concelho, “com o Zé Luís Pires, o meu cunhado Joaquim Pinto e outros”. Sobre este avento anual de Lousada lamenta que “as barracas de cerveja estejam espalhadas pela vila e a preços exorbitantes”, deixando também um reparo “à perda de destaque das bandas filarmónicas, cujos concertos são mais curtos porque metem outros espetáculos no programa”.
Na direção da Associação Desportiva de Lousada, também esteve como dirigentes, durante três anos, “mas não voltei mais porque deixei lá dinheiro meu que nunca mais vi”, exclama.
A Associação de Caçadores de Lousada foi outra entidade de que foi sócio fundador. “O meu sogro meteu-me o gosto pela caça e eu participei em muitas caçadas, sobretudo onde se comesse bem e diferente, como era o caso de Trás-os-Montes e do Alentejo, onde por acaso fui acidentalmente alvejado com um tiro de chumbos durante uma caçada e ainda tive que ser socorrido no hospital”.
A finalizar esta entrevista sublinhou o seu amor por Lousada, que é “uma grande vila e um bom concelho”.


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