Há na paisagem edificada um sem número de memórias que me fazem estacar sempre que me deparo com as mesmas, em qualquer ponto do país, no distrito, na região onde me insiro, no concelho em que nasci e me fiz gente: Lousada; o meu concelho de sempre, de eleição.
Razões de ordem profissional obrigaram-me à ausência desta excelsa terra, bela, prendada: minha. Em contrapartida, nesses esparsos momentos conheci um outro território, diverso do meu. O Sul – tão distinto do Norte -, outro território, outro povo, outra idiossincrasia, outro legado e outra memória: imensa planície de luz cristalina, encadeadora e desafiante. Contudo, não resistia a regressar e beber os ares retemperadores desta princesa do Vale de Sousa: Lousada. A ausência creditou-se por vários meses, mas um dia o sol brilhou e quedei-me, para sempre, nesta terra bendita e enxameada de memórias legadas pelos nossos ancestrais; memórias ímpares, únicas e inalienáveis, pois é o passado que define o presente e molda o futuro. A essas memórias que nos foram legadas e àquelas que legaremos aos vindouros, denomino de Património. Este é de e para todos, sem exceção. Somos aquilo que recebemos, somos herdeiros do passado e dos bens patrimoniais – materiais ou imateriais – com a obrigatoriedade de os manter e preservar, de os aumentar, e de os transmitir intactos àqueles que nos sucederão.
Tudo isto tem uma razão? Obviamente.
Adquiri o hábito de deambular por Lousada para me maravilhar com a sua beleza, deleitar-me com o seu património e ver que ainda há quem se preocupe com a memória coletiva e a preserve. Contudo, nem sempre os meus olhos se sentem agradados com aquilo que visualizam. É o caso.
Com frequência abraço o antigo lugar da Sedoura, da vetusta freguesia de Boim. Outrora Goim, terra de druidas, de paisagem edificada adornada de muita história, de figuras ilustres (D. António de Castro Meireles, Bispo do Porto) e outros encantos.
Inúmeras ocasiões evitei ver de perto aquele fontenário trajado de verde esperança, mas que precisa, urgentemente, que uma nova primavera lhe dê a vida para que nasceu: acolher quem precisa da sua água para com ela se saciar e de seduzir novas lavadeiras que o tornem o jovem de sempre, que o façam sorrir novamente. Remonta a 1940 e queda-se na proximidade da Casa da Sedoura – tão antiga como o lugar que lhe deu o nome. A quem de direito; que tudo faça para que esta memória volte a sorrir.
As imagens elucidam e fundamentam este apelo.
Opinião de José Carlos Silva,
Professor e historiador
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