LUÍS MELO, ARTISTA PLÁSTICO E PROFESSOR DE ARTES
O curso de Artes da Escola Secundária de Lousada (ESL) tem merecido ao longo dos anos os mais rasgados elogios. Um dos dinamizadores da leva artística que se vivencia e presencia atualmente em Lousada é o professor Luís Melo.
Este docente reconhece que quando foi colocado na ESL “já existia bastante atividade ao nível das artes”. Mas não deixa de admitir que ajudou ao “crescimento das mesmas com a uma contribuição que foi crescendo ao longo dos anos. A comunidade já estava habituada às exposições de alunos. Quanto a mim, tenho vindo a apresentar diferentes propostas no sentido de cativar mais e mais os alunos para a arte”.
Disso é exemplo a exposição da Violência, neste ano letivo, a qual “teve como ponto de partida a artista mexicana Elina Chauvet” e acrescenta que na mesma linha aconteceu no ano passado “a exposição que realizamos com pratos partidos a que demos o nome «Uma Exposição de Partir o Caco», como ponto de partida para a criação de trabalhos”.
A arte aliada ao ativismo cívico é um casamento frequente e o 25 de Abril foi paradigmático nisso. Também a ousadia e a resiliência precisam casar para criar artistas. “Ser artista é uma ousadia em Lousada e em Portugal. Há que ter uma boa base económica e/ou muita força de vontade. Ao contrário do que muitos pensam, o mundo da arte não é fácil”, salienta o professor.
Em Lousada, pela sua ainda vincada preponderância rural e tradicional, as artes são ainda vistas com desconfiança. “Numa localidade de transição rural para urbano, a adesão é sempre um pouco medrosa, mas rapidamente evolui. No entanto penso que a adesão é igualmente positiva à que seria num grande centro. Obviamente não tem acesso imediato a grandes exposições ou atividades artísticas, mas aqui a câmara municipal ou diferentes instituições devem ter um papel fundamental”, diz Luís Melo.
Como docente já presenciou casos de jovens sem apoio familiar para seguir Artes. “Ainda há e haverá pais que não dão apoio por considerarem que não tem futuro. Veem sempre o futuro negro a quem escolhe esta área. Como outras áreas terão a possibilidade de sucesso ou não! Nos dias de hoje as artes dão acesso a imensas possibilidades e profissões de futuro”, afiança o docente.
Contudo, não é em qualquer localidade ou região que essa afirmação acontece com mais regularidade. Para se afirmarem no mundo das artes os alunos têm que ir para cidades e outros países. “É necessário muito trabalho e um pouco de sorte para conseguir vingar no mundo da arte. Por vezes, também ajudará estar no sítio certo e à hora certa. É mais complicado construir uma carreira com alguma projeção numa cidade pequena, mas há casos em que isso acontece e aqui haverá alguns exemplos de sucesso”.

Falando do seu caso pessoal, como foi que aconteceu a adesão às artes? “Como grande parte dos meus alunos sempre desenhei e nunca pensei em algo que não fosse pintar e desenhar. Como muitos, também os meus pais tiveram receio da minha escolha, mas deram todo o apoio. Felizmente pude escolher sem pressão deles para ir para outra área”.
O ensino é uma das vertentes da atividade de Luís Melo: “além de lecionar, sou artista plástico e trabalho com galerias nacionais e tenho vindo a expor de forma regular desde que conclui o curso”. Tem realizado “exposições individuais e coletivas em inúmeras iniciativas nacionais e internacionais”.
Consegue coordenar ambas as atividades “sem uma interferir na outra de forma negativa. A minha experiência como artista plástico é algo importante para a minha profissão”.
“Honestamente, o que me motiva mais é a experiência com os alunos, a partilha de experiências com eles, ideias e materiais que trago mas também a resposta deles. Penso que ambos acabamos por aprender algo. Quando esta partilha acontece acabamos por criar exposições ou instalações fantásticas que nos dão ânimo para continuar”, declara.
É coordenador de vários projetos na ESL, nomeadamente a revista que surgiu no ano letivo passado. “A escola já tinha tido uma revista antes de eu vir para esta escola. Eu nunca tinha feito nenhuma, mas propus experimentar a criar uma e assim surgiu a revista «Ano Zero», que pretende dar informações a toda a comunidade e a qual convidava todos a colaborarem com o que consideram importante. A ideia é ser uma forma de promover o trabalho dos alunos com notícias, textos criativos e artes plásticas”. O projeto foi bem aceite e já vai no terceiro número.
Além da revista, Luís Melo também criou o “Clube das Artes”, no sentido de “dar a conhecer técnicas e propostas aos alunos, para melhor desenvolver numa disciplina dita de exame. A adesão dos alunos foi maior do que esperava. Entre várias experiências destaca a «Árvore», que se encontra no cimo das escadas principais da escola e que foi criada por três alunos do 12º ano. Estão ainda programados dois workshops para o terceiro período com artistas convidados”.
Um bem haja para tanto empreendedorismo e resiliência, numa área que é cada vez mais uma referência na ESL.

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