A visão de que os indivíduos que consomem droga são um problema para a sociedade ainda está muito enraizada pela sociedade. Os consumidores são geralmente associados ao crime, à psicopatologia à pobreza, ao desemprego, sendo os bairros sociais caracterizados como principal zona epidemiológica deste consumo, propagando o estigma e, muitas vezes, também a discriminação racial ao consumo e a estas áreas de residência.
A origem das crenças de que as substâncias psicoativas são aditivas se forem administradas uma ou mais vezes, provem de experiências com animais onde a única opção de alimentação e entretenimento era a ingestão de opioides (Hart, 2014). No entanto, Hart (2014) vem desmistificar esta crença, através de estudos que permitiram demonstrar que, os consumidores humanos e animais, quando apresentados com uma alternativa atrativa ao consumo de substâncias, escolhem numa maioria significativa esta alternativa, sejam doces, formas diferentes de entretenimento, um parceiro(a) sexual ou ainda dinheiro, “80% a 90% dos indivíduos que usam drogas não têm um problema de adição”, consumir não implica necessariamente uma dependência à substância consumida.
A droga tem sido utilizada como um bode expiatório a questões como a pobreza e a raça (Hart, 2014). A maioria do consumo é realizado por indivíduos que não tem problemas de adição o que contradiz o estigma muito presente na sociedade; como também a ideia de que existem uma multiplicidade enorme de fatores que podem levar ao consumo e à adição (e.g. pobreza, iniquidade no acesso às oportunidades) que se devem tornar um foco urgente e que terão impacto nas dimensões do consumo.
Íris Pinto
Psicóloga
Boa Tarde Dra. Íris Pinto,
Depois de ler o seu artigo e aceitar a sua visão peço-lhe que leia e aceite o meu comentario.
Embora existam estudos, como os citados por Hart (2014), que sugerem que a maioria dos consumidores de drogas não desenvolve dependência, é importante considerar que as substâncias psicoativas têm efeitos substanciais na saúde física e mental, mesmo em consumidores ocasionais. Além disso, o impacto do consumo de drogas na sociedade vai além da questão da dependência, afetando diretamente a saúde pública, a segurança e a economia.
O argumento de que os indivíduos podem escolher alternativas atrativas ao consumo nem sempre reflete a complexidade das condições humanas. Muitos consumidores vivem em contextos de vulnerabilidade extrema, onde essas alternativas simplesmente não estão disponíveis ou acessíveis. Além disso, estudos epidemiológicos mostram que o uso recreativo pode rapidamente escalar para o consumo abusivo, especialmente em substâncias altamente aditivas, como opiáceos e metanfetaminas.
O consumo de drogas também está associado a elevados custos sociais e econômicos, incluindo o aumento da criminalidade, da violência e dos custos com saúde pública. Mesmo que o consumo individual não implique automaticamente dependência, os efeitos cumulativos na sociedade não podem ser ignorados. A relação entre consumo de drogas e fatores como desemprego e pobreza não é apenas um reflexo de preconceito social, mas também um dado empírico amplamente documentado.
Por fim, embora seja essencial combater o estigma e a discriminação racial associada ao consumo de drogas, a romantização ou minimização do impacto das drogas pode desviar o foco das consequências reais do consumo para os indivíduos e a sociedade como um todo. Focar apenas na ideia de escolha alternativa ignora a complexidade das condições que perpetuam tanto o consumo quanto a dependência.
Obrigado pelo seu tempo.