PEDRO MAGALHÃES: HISTORIADOR
O professor Pedro Joaquim da Cunha Magalhães, de 44 anos, é natural de Nespereira, Lousada. História é a sua área disciplinar de eleição, que leciona e investiga em temáticas que lhe são caras. Defende que a disciplina não perde interesse nas novas gerações e defende que, mais do que nunca, a História, através dos seus ensinamentos, permite evitar erros cometidos no passado. Está arredado da política ativa, mas não descarta um regresso. Bem presente na sua vida continua o associativismo, levando já 15 anos à frente da IPSS da sua freguesia.
Com 12 anos ingressou no seminário dos Dehonianos (entre 1993 e 1998), tendo frequentado o Seminário Missionário Padre Dehon (em Rio Tinto), onde realizou o 8.º e 9.º anos, e o Instituto Missionário do Sagrado Coração de Jesus (em Coimbra), onde fez todo o ensino secundário. Veio a licenciar-se em História – Ramo de Formação Educacional pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2003)
Na infância e juventude sempre teve “um fascínio por tudo o que era «antigo» e imaginava como seriam as coisas antigamente”. Mas nunca pensou que a História, quer no ensino quer na investigação, “fosse algo que viesse a fazer parte da minha vida pessoal e profissional” e costuma dizer: “foi a História que me escolheu e não eu que escolhi a História”.
Explica que “cursar História não fazia parte dos meus planos no final do ensino secundário. Estando, na altura, de saída do seminário, pensava seguir o curso de Línguas e Literaturas Modernas dando, de certa forma, continuidade aos estudos linguísticos que tinha tido, nomeadamente o Grego e o Latim”. Contudo, o resultado menos bom no exame nacional de Latim e um resultado muito bom na disciplina de História A condicionaram o seu acesso ao Ensino Superior.
“Foi na Universidade descobri realmente a paixão pela História e pela investigação, algo que comecei a desenvolver desde o segundo ano da faculdade”, salienta Pedro Magalhães.
Considera que a História “nunca perde nem perderá a sua importância, hoje mais do que nunca. O seu estudo e a sua compreensão, nos dias de hoje, poderão ser uma lição para evitar cometer os erros do passado”, justifica.
Além disso, neste mundo global e de informação constante, “é importante saber quem somos. A nossa identidade, independentemente da escala espacial, seja ela local, regional, nacional, ibérica, ou europeia, tem como base uma construção no passado. Por isso, só nos conhecemos verdadeiramente quando olhamos para esse passado.
Só a História nos permite compreender verdadeiramente o presente para assim podermos projetar melhor o futuro”, sublinha o entrevistado.

O interesse dos alunos na História
“Não é necessário termos alunos com bons resultados escolares, do ponto de vista formal, para termos alunos interessados pela disciplina. Naturalmente, os alunos desenvolvem todos um fascínio pelo passado, pelo que é desconhecido. Esta é a oportunidade de agarrar os alunos para as potencialidades da História, para a capacidade que disciplina nos dá em compreender melhor o presente e de nos conhecemos como comunidade e como povo”, explica o docente.
Esse é o papel que tem procurado fazer no AE Dr. Mário Fonseca com a criação do Núcleo de Investigação Local (NIL), um projeto multidisciplinar no qual participam livremente os alunos do Ensino Secundário dos cursos Científicos-Humanísticos. Aqui, “mesmo não tendo a disciplina de História no seu currículo, os alunos podem manter-se ligados à disciplina, numa lógica de ligação à sua terra, de ligação a Lousada”. Recorda que nesse projeto já nasceu, em 2024, por ocasião da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, o livro «Resistência e Liberdade: Lousada durante a Ditadura Militar e o Estado Novo», onde se procurou homenagear todos os lousadenses que, em período de ditadura, lutaram pela liberdade.
Este professor é autor de várias monografias de entidades lousadenses. Tal decorre do seu gosto pela investigação, que adquiriu na Faculdade. “Nessa altura, sempre desejei poder conciliar o ensino com a historiografia, em particular a historiografia Local e Regional, cujas áreas procurei desenvolver desde logo. Neste sentido, sou literalmente um felizardo porque me terem sido dadas algumas oportunidades para desenvolver a minha vocação como historiador, quer seja de forma individual quer coletiva”.
Dos trabalhos realizados, entende difícil dizer qual a monografia que lhe deu mais prazer: “Todas resultaram em emoções singulares. Contudo, não posso deixar de destacar a trilogia monográfica sobre as três maiores coletividades do nosso concelho: a Santa Casa da Misericórdia de Lousada (2017), os Bombeiros Voluntários de Lousada (2021) e a Associação de Cultura Musical de Lousada (2025)”.
Com vivências e dinâmicas muito distintas umas das outras, “todas concorreram para o desenvolvimento contemporâneo do nosso concelho. Por isso, foi um privilégio poder contribuir para o conhecimento sobre a história e identidade de cada uma destas instituições e, ao mesmo tempo, contribuir para o conhecimento da História”.
Não se vai ficr por aqui. O gosto não se esgota. “Num futuro próximo, para além de uma monografia que me encontro a finalizar sobre os Bombeiros Voluntários de Santa Marinha do Zêzere, não tenho nenhum projeto de investigação traçado. Apesar disso, em Lousada, existem muitos temas que gostaria de desenvolver, nomeadamente estudos sobre a história da propriedade agrícola, com as suas implicações económicas e sociais, ao longo da Época Moderna e das primeiras décadas do Época Contemporânea, bem como fazer incursões sobre a história administrativa do concelho até ao Liberalismo, que é um assunto que está por desenvolver”.

Política e associativismo
Por duas vezes, Pedro Magalhães encabeçou a lista à União de Freguesias de Nespereira e Casais, em 2013 e 2017. “Apesar da derrota, posso dizer que foi das experiências mais enriquecedoras que tive”, declara, salientando que “não está nos meus planos voltar a assumir qualquer protagonismo político nos próximos tempos, pese embora, previsivelmente, me possa envolver nas próximas eleições autárquicas, mas de forma secundária”.
Acima de tudo, pretende manter o seu “compromisso com a comunidade, com as associações que encontro ligado, numa lógica de cidadania, que não deixa de ser uma forma de estamos na política”.
Na área social, é Presidente da Direção da Associação de Solidariedade Social de Nespereira desde 2010. “Tem sido uma experiência muito gratificante, desafiante e de grande aprendizagem. Foi uma responsabilidade que assumi, tinha ainda 29 anos, sendo eu totalmente inexperiente nestas andanças. Por isso, dada a natureza desta Associação e das respostas sociais que tinha (e tem) em funcionamento (Creche, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário), tive que me dedicar profundamente no desempenho das funções para as quais fui eleito”, enfatiza o nespereirense.
“Quem está no terreno, sabe que este tipo de trabalho associativo é muito exigente” e justifica que, “o setor social vive desde sempre com dificuldades crónicas, essencialmente do ponto de vista financeiro, mas ao mesmo tempo apaixonante pela perceção e alcance que o nosso trabalhado pode ter no apoio e desenvolvimento económico-social da comunidade”. Um exemplo disso, foi o “desenvolvimento do projeto de ampliação das novas instalações da ASSN, recentemente inauguradas”.
A execução do projeto, que desde o seu arranque em fase de projeto até à sua inauguração demorou quase 10 anos na sua concretização, “mostra bem a resiliência que os dirigentes das IPSS têm que ter no comando das suas instituições. Mas o caminho fez-se, não sem contrariedades, sendo um orgulho para todos os associados e colaboradores da Instituição, mas também para Nespereira e para Lousada”, concluiu Pedro Magalhães.
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