por | 22 Jun, 2025 | Grande Entrevista

LUÍSA LOPES: Quase três décadas como diretora escolar

A professora que podia ter sido astronauta ou condutora de camião TIR

No passado dia 12 de junho de 2025, teve lugar a cerimónia de tomada de posse do novo Diretor do Agrupamento de Escolas de Lousada Oeste, Professor Alexandre Reis. Este docente substituindo no cargo Luísa Lopes, que desempenhou funções diretivas durante 28 anos, uma longevidade assinalável que fez desta docente uma referência do dirigismo escolar em Lousada. Uma condecoração municipal é mais que justa. Nesta Grande Entrevista a docente resume o que foi para si «uma odisseia».

Tudo começou em 1997, quando Luísa Lopes se candidatou ao Conselho Executivo da Escola de Nevogilde, que ainda estava na fase final de construção. A candidatura incluía a professora Ester Alves e o professor Francisco Lopes.

Dadas as condições, ou melhor, a falta delas, “nunca pensámos que seria possível cumprir o início do ano letivo conforme estipulado, mas como tínhamos”alunos, mesas e cadeiras”,o ano letivo iniciou-se, mas ainda sem o pavilhão gimnodesportivo estar concluído, bem como grande parte das salas específicas”, recorda a professora Luísa.

Em 2002 foi criado o Agrupamento, com a junção das várias Escolas Básicas. “E ao longo do tempo, com os diferentes normativos que foram surgindo, costumo dizer que já me chamaram «alguns nomes»: Presidente do Conselho Executivo, Presidente da Comissão Executiva Instaladora, Diretora”, enfatiza a nossa entrevistada.

Ao longo desse percurso houve certamente momentos marcantes. “É óbvio que em 28 anos vivenciei de tudo um pouco – momentos muito positivos, outros menos agradáveis, momentos de angústia e de euforia”, mas escusa-se a evidenciar situações específicas. “Se estive este tempo à frente de uma escola foi, antes de mais, porque o quis e, logo a seguir, porque o quiseram e sempre tive a consciência que teria que enfrentar bons e maus momentos”, sublinha.

Recusando protagonismos, Luísa Lopes insiste em relevar o trabalho de conjunto: “todos contribuíram para os sucessos e ajudaram a resolver e superar os momentos menos agradáveis. Apesar de ser um cargo unipessoal, uma cultura democrática pressupõe um trabalho em equipa, onde todos participam na tomada de posições e decisões. E esta colaboração não se pode limitar à Direção, tem de ser igualmente partilhada por todos os órgãos, nomeadamente o Conselho Geral e o Conselho Pedagógico, órgãos onde todos os agentes educativos estão representados”.

Também dirige destaque especial “às instituições externas à escola, que com ela trabalham de forma muito direta, como é o caso da Autarquia e das Juntas de Freguesia”. Neste aspeto destaca “resoluções pontuais de obras numa escola, a intervenções de fundo noutra, passando pela cedência de transporte gratuito para os alunos, a participação dos alunos em várias ações exteriores à escola, o facultar aos discentes Atividades de Animação Socioeducativa, Atividades de Enriquecimento Cultural, até à gestão do pessoal não docente, sempre foram sinergias muito positivas e que contribuíram para uma harmonia entre todos”.

A comunidade externa “sempre esteve presente na escola quando foi necessário”. É claro que “gostaríamos que alguma dessa comunidade fosse sempre assídua e sempre participativa, mas lá estavam quando foi mais preciso contar com ela, pelo que o balanço é francamente positivo”.

Não esquece outras parcerias fundamentais, como “as empresas que acolhem os nossos alunos dos cursos profissionais, pois sem elas não seria possível os educandos vivenciarem a sua formação em contexto de trabalho”. E prossegue nas palavras de apreço, referindo-se ao pessoal não docente: “a harmonia e entreajuda também estiveram patentes nos nossos funcionários, alguns deles a trabalhar na escola desde a sua inauguração. Também eles se lembram dos tempos árduos e desafiadores do início, mas também eles consideram que valeu a pena”.

Neste sentido, “também tenho que referir as várias Associações de Pais que passaram pela escola. No início, foi igualmente um trabalho difícil mas que deu frutos”, refere a ex-diretora.

E em relação aos alunos, que são a essência da escola, “e que fizeram deste Agrupamento um local muito especial, deixaram a sua marca em muitos professores que pela escola passaram ao longo dos anos, representaram – e muito honrosamente – a sua escola em variadíssimas atividades, concursos, ações, e também sempre pudemos contar com eles quando foi preciso. Isto também pode ser dito em relação aos professores, pois os alunos sempre puderam contar com eles e também ajudaram a fazer o Agrupamento que somos, poisas escolas são o reflexo de quem lá está e da forma como o lá estar é encarado!”

Luísa Lopes foi sempre uma voz na defesa da Escola.

“TORNAR AS DISCIPLINAS ATRATIVAS”

Diante da questão sobre qual considera que poderá ser o maior desafio do seu sucessor, professor Alexandre Reis e sua equipa, a antecessora responde que será “encontrar «tempo de qualidade», que permita pensar e equacionar possibilidades, ver soluções, encontrar alternativas, para poder agir” e justifica que “hoje em dia, as escolas são assoberbadas por todo o tipo de solicitações, o que retira muita energia e tempo que deveriam ser canalizados para outras tarefas”.

Das alterações que a seu ver o Ensino necessita, Luísa Lopes afirma que “seria necessário proceder a uma profunda alteração nos programas das disciplinas e, inclusivamente, a sua aglutinação ou fusão. As escolas existem porque há alunos; a realidade de hoje não se compara àquela de há 30 anos atrás; é preciso, antes de tudo o resto, tornar as disciplinas atrativas para os alunos, principalmente numa altura em que a Inteligência Artificial é uma realidade”. Ressalva que “já há mecanismos que possibilitam que o chamado processo de «ensino e aprendizagem» seja mais participativo e envolva cada vez mais os alunos”, mas considera que é necessário ir mais além.

O desempenho de cargos de liderança fica para trás, bem gravado. “É uma experiência que todos os professores podem vivenciar, durante o tempo que quiserem ou que lhes seja permitido, mas a verdade é que o ser professor foi o que escolheram primeiro. E o ser professor é como andar de bicicleta – nunca se esquece!”, exclama.

Também o que nunca esqueceu foi a primeira escola onde foi colocada, no Porto, logo após terminar o curso: “a escola que na época era considerada a que tinha alunos mais problemáticos, com percursos de vida que nenhum jovem merece, e com um futuro que dificilmente a escola poderia alterar… mas a verdade é que adorei essa escola e os alunos, e ainda hoje coloco em prática muito do que então aprendi”.

O regresso às aulas, após a longa carreira diretiva, é a etapa que se segue para Luísa Lopes: “vou voltar a ter alunos e lecionar a disciplina de Português” e revela que vai “sair de Lousada e lecionar na escola onde estou efetiva, perto de casa”.

A propósito, Luísa Lopes é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, variante de Estudos Franceses e Ingleses. O seu grupo de recrutamento é o 210 (Português e Francês), mas uma vez que já não há Francês no 2.º ciclo, lecionará a disciplina de Português.

Ser docente está-lhe na essência, foi desde muito cedo o seu propósito profissional. Mas confessa que se não fosse isso teria sido astronauta ou condutora de camião TIR.

Luísa Lopes com Rafael Telmo, num concurso escolar multimédia, na África do Sul.

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