Em causa, trabalho desenvolvido no âmbito da sustentabilidade ambiental
O Prémio Ação Transformativa é um prémio europeu de sustentabilidade, patrocinado pelo Comité das Regiões e pelo Banco Europeu de Investimento, que reconhece a aposta do município de Lousada na educação ambiental e na conservação da natureza.
Este prémio é coorganizado pela Rede Internacional de Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI, sigla em inglês), pelo País Basco e pela cidade de Aalborg, na Dinamarca, mas financiado pelo Comité das Regiões Europeu e pelo Banco Europeu de Investimento.
O Prémio Ação Transformativa reconhece, todos os anos, projetos que contribuem, na União Europeia, para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas e Acordo de Paris, contra as alterações climáticas, distinguindo ainda iniciativas que promovem a transformação das sociedades a nível sociocultural, socioeconómico e tecnológico.
Lousada foi o município vencedor e a fundamentação da decisão pode ser lida num comunicado do ICLEI à agência Lusa: Lousada foi reconhecido por “utilizar a educação ambiental como forma de promover práticas ambientais, apoiar formas alternativas de criar áreas de conservação e oportunidades de emprego e [por] ligar os cidadãos locais à paisagem rural”, aponta o ICLEI em comunicado enviado à agência Lusa.
Lousada superou, assim, Leuven (Bélgica) e Berlim (Alemanha), que eram também finalistas neste concurso.
O vereador Manuel Nunes, que lidera o pelouro do ambiente, é um dos responsáveis por este prémio. Em entrevista aO Louzadense falou da aposta no ambiente, da importância do prémio para o concelho e do futuro.
Qual a importância deste prémio para o concelho de Lousada?
Este prémio vai trazer a Lousada uma projeção que, de outra forma, nunca conseguiríamos ter. Vai circular por tudo o que é espaço e será exemplo do que são consideradas boas práticas ligadas ao ambiente. Além disso, passaremos a usar a chancela do prémio em todas as nossas ações e teremos a oportunidade de, ao mais alto nível, nas várias áreas de intervenção da União Europeia, estar presentes, nomeadamente na próxima conferência mundial sobre sustentabilidade, que vai decorrer na Alemanha em 2020, onde vamos ter palco para mostrar o que estamos a fazer e o que vamos fazer.
Todas essas dinâmicas são importantes para nós, mas são importantes também porque provam que o que estamos a fazer é replicável, quer noutro município vizinho, quer noutra parte qualquer da Europa. Esse foi um dos aspetos valorizado pelo prémio: a capacidade de pegar em tudo o que estamos a fazer e transformar qualquer outro território, com as mesmas práticas, com as mesmas ideias e com os mesmos valores. Isso deixa-me muito satisfeito.
Enquanto cidadão e lousadense, qual foi o sentimento ao receber este prémio?
Senti-me muito feliz, muito honrado e muito motivado. É a prova de que o tamanho não importa, o dinheiro disponível também não é o mais importante. Assim, o que importa é a vontade e o envolvimento que os processos geram. Se fôssemos pelo tamanho, ganhava Berlim; se fôssemos pela qualidade e pelo dinheiro, teria ganho Leven! Mas não foi nem uma coisa, nem a outra. Foi, de facto, este envolvimento, esta motivação toda, e isso deixa-me muito orgulhoso. Apesar de Portugal estar com muitos problemas, as pessoas fazem a diferença quando se juntam e, se nós conseguimos fazer isso aqui neste pequeno território, toda a gente consegue.

Valeu a pena a aposta no ambiente?
Há duas formas para olhar estas questões. Em 2013, estávamos no período da crise e, nesses períodos, alguns desesperam e outros veem aí uma oportunidade. Nós olhamos para a crise como uma oportunidade de redirecionar a agulha e tentar, por via da intervenção no território, uma forma mais sustentável, agarrando as pessoas, orientando-as um pouco para a base do que é a nossa estrutura do património do território, dando-lhes ferramentas e todo o conhecimento para que por si pudessem intervir e mudar aquilo a que estávamos a assistir, gerando emprego, micronegócios, levando a uma melhor realização social.
O bem-estar e o regresso à natureza e ao ambiente também é uma forma de melhorar esse bem-estar. O bem-estar económico, social e ambiental acabada por trazer ganhos a toda a gente. Mesmo de forma inconsciente, as pessoas acabam por perceber as mais-valias destes processos. Aqui em Lousada, o desejo quer da vontade política, quer da comunidade, acabou por dar resultados num período de tempo demasiado curto, que agora foi premiado, por ser original.
O ambiente está na ordem do dia em Lousada. Essa é a diferença entre aquilo que é estruturado e o que é ocasional e que vai acontecendo um pouco por todo o lado. Aquilo que nos leva a aparecer durante praticamente este mês na comunicação social muito nos orgulha, e o facto de termos sido nomeados finalistas e agora vencermos esse prémio europeu é algo que nos deixa muito orgulhosos. É o premiar, por um lado, e o validar, por outro, daquilo que são as nossas práticas e as nossas ações quotidianas, que não são ocasionais, são estruturadas, são pensadas e julgo eu que é isso que marca a diferença no processo.
Como está o processo da paisagem protegida do Sousa Superior?
Estamos na fase final dos relatórios técnicos. Todo o processo de campo, todo o processo de envolvimento da sociedade civil, ao longo de vários meses, nas mais de vinte reuniões que fizemos em todo o lado, para auscultar todos os agentes locais, já está concluído. Estamos a terminar o dossiê técnico que decorre da lei e, no primeiro trimestre do próximo ano, teremos reunida toda a documentação para que seja aprovado.
Descreva-nos o desenvolvimento desse processo. Primeiro, foi saber o que tínhamos, um trabalho moroso. Passados os primeiros três anos, de 2014 a 2016, em algum silêncio. Houve a necessidade, com a ciência, de construir o conhecimento. Ao mesmo tempo, começamos os programas educativos e acabamos por conseguir, num tempo bastante interessante, ter toda a informação validade para concluir esse processo.
A paisagem protegida abrange uma parte do concelho. E o restante território?
A paisagem protegida nasce de todo o trabalho de investigação que foi feito em todo o território. Percebeu-se que havia uma área distintiva, do ponto de vista natural, dos valores humanos e dos valores patrimoniais, históricos e sociais.
Por outro lado, estamos a olhar para as outras áreas do território. Temos um projeto de criação de microrreservas no município e a maior parte delas estão na bacia do Mesio, que tem áreas muito interessantes a nível da biodiversidade, mas que ainda não tem uma estrutura em contínuo como tem o Sousa. Estamos a trabalhar, com formação junto das comunidades, com as juntas de freguesia, para tentar modificar esse paradigma e, brevemente, vamos abrir as portas do Centro de Interpretação Ambiental do Vale do rio Mesio no Moinho da Tapada. A preocupação não é só o Sousa, é todo o concelho. Temos pequenas áreas de conservação cruciais, que queremos valorizar e agarrar em todo o processo.
Que projetos tem para o futuro?
A base é o envolvimento social. Hoje estamos cá nós, amanhã estarão cá outras pessoas nos destinos da autarquia. O interesse e motivação social garante-nos que, independentemente do que possa acontecer, as áreas de conservação estarão ancoradas o suficiente para que não venham a desmoronar-se e possam continuar. As pessoas per si possam continuar a desenvolvê-las e esse é um legado que estamos a criar para as gerações que aí vêm.
Nos últimos meses são inúmeras iniciativas realizadas no concelho de Lousada sobre a temática ambiental. A que se deve isso?
O que nos tem acontecido é que vamos ficando no mapa daquilo que são boas práticas ambientais. Somos convidados para dezenas e dezenas de eventos no país e fora do país muitas vezes e, à medida que temos essas experiências, verificamos várias coisas. Primeiro, há muito interesse no que estamos aqui a fazer, o que ajuda a passar a mensagem e torna este concelho mais apetecível para a organização de eventos, porque aqui há uma lógica, há todo um conjunto de ações que têm sentido e que justificam que os eventos sejam cá. Trazer congressos e reuniões de alto nível é fundamental para promover o território. Temos aqui investigadores, sociedade civil, pessoas que vêm cá e ficam aqui no fim de semana, gastam o seu dinheiro cá… E isso é uma mais-valia em todo este processo.
Considera que os concelhos vizinhos poderiam unir-se em torno deste projeto do concelho de Lousada?
As fronteiras municipais são muitas vezes muito rígidas, nas várias áreas. As boas práticas deveriam extravasar as fronteiras e unir os territórios, porque a escala do que se pode fazer em termos intermunicipais é maior. Há projetos europeus de grande envergadura que, se forem agarrados a nível intermunicipal, podem ser trazidos para cá. É um desafio que fica, eu julgo que é possível. Quando começamos, há 7 anos, era utópico achar que o ambiente estava na ordem do dia. O facto de termos oportunidade nessa altura é a prova de que é possível mudar. Há oportunidade neste território, assim haja vontade política. Há coisa boas a ocorrer em todo o lado, em todos estes concelhos à volta. O que é necessário é sentarmo-nos todos à mesa e definir um plano conjunto de intervenção no território. É um desafio que fica para quem de direito.
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