Investimento de milhares de euros do próprio bolso motivou aquisição de terrenos por parte de presidente da Associação de Caçadores

O tiro e a caça em Lousada já conheceram melhores dias. A Associação de Caçadores de Lousada, fundada há mais de 30 anos, que chegou a ter mais de 300 sócios, hoje conta apenas com pouco mais de cinquenta pagantes. O campo de tiro, que já foi um dos melhores do país, contemplava cerca de 20 mil m2 de área, possuindo 2 campos equipados com 15 robots cada e destinava-se à prática de todo o tipo de modalidades de tiro. Para Arménio Moreira da Silva, presidente da associação, prestes a completar 70 anos, a culpa é da crise que se fez sentir também neste desporto: “O tiro é um desporto de elite, de tempo e de dinheiro, não é um desporto barato”, sustenta.

Arménio Moreira da Silva começou em 1988 como sócio. Recorda que, no início, as instalações eram “muito velhas, alugadas ao senhor Domingos Ferreira”, o suficiente para os amantes da caça se juntarem, “com uma grade de cerveja”. Até que um dia, segundo conta, foi pressionado para assumir a presidência da associação. “Logo a seguir, mandei fazer obras, a expensas próprias, para restaurar o tal espaço, que era intragável, não tinha muitas condições”, conta. Mas, entretanto, surgiu a possibilidade de alugar um terreno para fazer um campo de tiro. “Aluguei primeiro um contentor, comprou-se uma máquina e começámos a dar lá uns tiros”, refere.

Arménio Silva diz ter investido cerca de 400 mil euros do próprio bolso
O espaço ganhou algumas infraestruturas com a intervenção no âmbito do Leader II e pelo Instítuto Nacional do Desporto, há mais de duas décadas: “Houve ajudas significativas, mas que tiveram só a ver com os equipamentos”, esclarece Arménio Silva. De entre os equipamentos adquiridos, Arménio Silva destaca os robots, que “custaram na altura dois mil e quinhentos contos cada máquina”. Refere, ainda, que a autarquia lousadense ajudou cedendo materiais de construção.

Campo de Tiro

O espaço foi, na altura, alugado à Associação de caçadores por vinte anos, passados os quais os proprietários decidiram vender o terreno. “Havia sempre o risco de alguém ficar com aquilo e eu, em termos pessoais, comprei os terrenos, para que aquilo não corresse o risco de sair da associação”, justifica. A compra aconteceu há cerca de quatro anos e a Associação continuou, assim, a ser inquilina, mas agora de Arménio Silva, que garante que a mesma vai lá continuar, mesmo não havendo nenhum documento para com a associação.

Comprou terreno para não dar como perdido investimento

Recuamos no tempo, para perceber melhor as razões da aquisição do terreno por parte do atual proprietário. Segundo Arménio Silva, o gosto pelo tiro e pela caça levaram-no a investir, mesmo antes da compra do terreno, milhares de euros no local, saídos do próprio bolso: “Só para fazer a terraplanagem, na altura, gastou-se duzentos e tal mil euros”, refere, clarificando que o único apoio, do Leader II, foi para os equipamentos. “Foi um investimento que eu fiz. Estamos a falar de quatrocentos mil euros, para que aquilo tudo existisse”, avança.

Para além da terraplanagem, afirma que o problema do chumbo que caía na autoestrada fez com que quisessem fechar os campos: “Tivemos problemas sérios em Lisboa. Chegou a haver uma verba para cobrir a autoestrada pois os campos já lá estavam. Tiraram ali três milhões de metros cúbicos de terra. Com aquilo que gastaram tinham mudado o segundo campo para o lado. Foi há doze, treze anos”, conta.

Arménio Silva reconhece que 400 mil euros podem parecer muito dinheiro, mas a “terraplanagem baixou três metros e tal” a altura do terreno. O presidente justifica o investimento com a atividade do clube na altura:

“Tinha muita gente a competir, havia dois dias de prova, uma festa tremenda”. Não contava com os dias cinzentos que se seguiram: “Se calhar, ganhava-se mais dinheiro do que agora e eu não fazia muitas contas àquilo que se investia”, refere.

Arriscou uma avultada quantia num terreno que não lhe pertencia, segundo conta, e corria o risco de o perder: “Quem investiu esse dinheiro todo corria o risco de perder a propriedade. Foi por isso que eu comprei os terrenos”. Os valores da aquisição cifram-se nos 100 mil euros, um montante que não estava ao alcance da Associação, que não tinha esses recursos financeiros: “A Associação não os podia comprar, pois não tinha forma de os pagar”, explica, acrescentando que deu “todas as garantias para que a associação lá esteja” em assembleia geral. Quanto ao valor que investiu, garante que há documentação e que os sócios concordaram com esse valor.

Clube parado

Apesar de sentir pena que o clube “esteja muito parado”, considera-o salvaguardado, “pois os terrenos mudaram de dono, mas com uma garantia: este dono não cria problemas nenhuns, pelo contrário, só apoia”, garante.

Os sócios da Associação são poucos e mesmo aqueles que pagam as quotas não têm justificado a existência de reuniões: “Ultimamente não temos assembleias gerais, pois nem há sócios para isso, pelo facto de não haver margem financeira”, explica, expondo as dificuldades para trazer os sócios às assembleias: “Para se fazer uma assembleia, tenho eu de pegar no telefone e dizer aos sócios para aparecerem. É uma frustração até para marcar uma assembleia. Se não se fizer um contacto pessoal, não aparece ninguém. Fazemos a convocatória e colocamo-la na imprensa. Destes cinquenta sócios, só dois ou três é que são do concelho, todos os outros são de fora”.

“Toda a gente é unânime em reconhecer que se eu não estivesse cá, estaria tudo partido”
Arménio Moreira

O presidente da Associação acrescenta que até a realização de provas, atividade principal da associação, está comprometida: “As provas obrigam a uma quantidade de prémios que são para cento e tal atiradores ou para vinte. Há para os primeiros segundos, terceiros e quartos”, sustenta. O valor das inscrições não cobria o custo dos prémios e as provas começaram a dar prejuízo. “A associação não tem rendimentos, não tem subsídios, não tem nada. Tem as quotas dos sócios, desses cinquenta e pico, quinze euros ano cada”, lamenta.

Tiro sem futuro em Lousada

O futuro do tiro não se adivinha risonho para Arménio Silva, para o qual não vê “solução”. Já em relação à caça tem uma ideia muito diferente: “Para que tenha caçadores cá, é preciso investir na caça. A caça é a principal atividade. Venho falando com o gestor da caça, pois há muita gente que gosta de caçar cá e isso é expresso nas inscrições”. Adverte, no entanto, que é necessário fazer uma gestão diferente e dá um exemplo: “Mete-se quinhentos coelhos durante o ano para a época da caça e dos treinos. Se calhar às vezes, a altura que se mete a caça não será a mais apropriada”.
Ainda sobre o tiro, o presidente reconhece que para que a competição se fosse possível seriam necessárias algumas obras, que custariam centenas de milhares de euros, o que torna “impossível” alimentar essa ideia: “Essa situação de impermeabilizar os campos com uma plataforma enorme no fundo, junto à autoestrada, com uma lona para apanhar o chumbo, precisaria de muitas centenas de milhares de euros. É impossível”.
Ainda assim, garante que “os campos estão prontos a funcionar”. O atirador “pode utilizar as máquinas, mas infelizmente é uma percentagem muito diminuta. O que se passa aqui passa-se em todos os outros campos”, sustenta.

De salientar que, no passado, o tiro chegou a estar muito ativo e os resultados nas competições eram bons.

A presidência de Arménio Silva termina em 2022, sendo os mandatos de quatro anos, mas não é expectável que apareçam candidatos, a julgar pelo passado: “Nunca apareceu uma lista, fazemos avisos, mas não aparece. Toda a gente é unânime em reconhecer que se eu não estivesse cá, estaria tudo partido, mas aquilo é meu e acabo por tratar daquilo como se fosse meu”, refere.

Reportagem sobre o Campo de Tiro – 2012

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