Amelia Iliescu é professora do Conservatório de Música do Vale do Sousa. Nascida na Roménia, aí fez o seu percurso académico, que incluiu a sua formação musical, tornando-se pianista. Ainda lecionou no seu país de origem, mas o destino trouxe-a para Lousada, onde se sente plenamente integrada.
Como se deu a sua entrada na música?
É uma paixão que sempre tive desde pequenina. De certa forma foi engraçado, pois os meus pais nunca foram músicos, mas sempre gostaram de música. Lembro-me que, desde muito pequena, vivia rodeada de música. Gostava tanto que disse à minha mãe que queria ir para a escola onde se canta, que tem a ver como o ensino profissional em Portugal. Chamava-se Liceu das Artes, e abrangia a parte da música clássica, das artes visuais, pintura, escultura… A minha mãe deu-me ouvidos. Não foi fácil, pois a escola era muito longe, mas fui aceite, e a partir daí comecei a viver neste mundo, de que gosto muito.
Como foi o seu percurso?
Na altura, quando fiz a prova de aferição na Roménia, só podia escolher entre dois instrumentos: piano e violino. Escolhi o piano, embora a minha ideia fosse mudar para canto, o que só era possível a partir do nono ano na Roménia. Entretanto, fui estudando piano e adorei, apercebendo-me logo que não seria o canto que iria seguir. Ainda ponderei, mas como em piano já tinha bastante trabalho investido, muitos concertos e alguns prémios nesses nove anos, no nono ano, decidi continuar. Acabei o 12.º. Era a única escola de música na cidade. Lá não há muito a ideia do ensino articulado. Depois fiz a prova de admissão para a Universidade Nacional de Música de Bucareste, para onde quis ir estudei piano. Formei-me em interpretação musical em piano, com uma professora pianista muito conceituada. Estudei os quatro anos da licenciatura e tirei o mestrado, em 2010. Depois, voltei para onde tinha estudado, em Craiova, onde cheguei a dar quatro anos aulas de piano. Surgiu uma parceria com Portugal, com o conservatório, que interrompeu esse processo.
Que grande momento recorda da sua carreira musical?
Eu acho que, desde muito cedo, quando escolhi este caminho, foi de certa forma o que escolhi para a vida. Nunca me vi a escolher um outro caminho. Ao longo de todos estes anos de formação, fui encaminhada pelos professores para participar em concursos a nível nacional. Existem também, na Roménia, as Olimpíadas da Música. Tive participações anuais e muitas vitórias. De quase todas as vezes em que participei tive um prémio. Se trabalhasse muito e me empenhasse, tinha a noção de que poderia chegar a fazer da música profissão.
Mais tarde, por ter estado na melhor universidade, os próprios professores reforçaram essa ideia, e muitos deles abriram-me caminhos e oportunidades. Tive um professor de música de câmara, que era compositor e violoncelista e tinha conhecimentos na Bélgica. Tivemos a possibilidade de tocar lá graças a esta parceria.
Houve muitos projetos e concertos em que participei. Acabei por voltar a Craiova, ensinando alunos, não deixando de tocar, quer a solo, quer música de câmara, que tive muito gosto de fazer durante quatro anos. Todo este processo deu-me asas para continuar neste caminho.
Como é que aconteceu o contacto com o Conservatório?
Foi maravilhoso o percurso que me trouxe a Portugal. Fez-me conhecer pessoas. Fui muito bem recebida, com muita atenção para com o meu trabalho. Foi o que me fez querer estar em Portugal. O que aconteceu foram dois projetos que abriram portas e, num dos projetos, conheci a professora Fernanda, juntamente com a Ana Gouveia e outras professoras. Conhecemo-nos num projeto de partilha de experiências nesta área. Cheguei a tocar num concerto. Conversamos sobre o ensino em Portugal e fiquei impressionada com aquilo que eu ouvi.
Pouco depois, graças a outro projeto em que eu estava envolvida, estive em Lousada, onde foi organizado um concerto onde eu toquei. Fiz um masterclass por esta altura de final de ano. Muitos inscreveram-se, para eu lhes dar algumas indicações. Fiquei impressionada positivamente, com toda a apresentação que a professora Fernanda fez sobre o Conservatório, gostei imenso das instalações, do empenho dos alunos e dos professores. Em 2012, surgiu a conversa de eu poder ficar no ano letivo seguinte e acabei por ficar.
Como é que foi a adaptação ao nosso país?
Acho que foi mais difícil separar-me da minha família. Foi uma decisão difícil, pois tinha uma ligação muito próxima com o meu sobrinho, filho do meu irmão, que entrava nesse ano para escola. Custou-me muito, contudo desde pequenina tive esse sonho de viver noutros países, dentro desta área de experiência, a música. Estar a trabalhar noutro país era uma vontade. O que ajudou na transição foi o meu gosto pelo meu trabalho, o facto de aqui conhecer pessoas amigas, tanto em Lousada como em Vizela, onde também trabalho, colegas que rapidamente se tornaram meus amigos e que me apoiaram imenso. A professora Fernanda teve uma importância enorme nesse sentido. Apresentou-me colegas que se tornaram rapidamente meus amigos, começamos a sair, a conhecer as localidades dos arredores, o Porto… Essa amizade, com o tempo, começou a tornar-se uma família muito especial. Foi isso que me ajudou. O que eu senti é que me consideraram sempre portuguesa, sempre com normalidade. Fui muito bem recebida e integrei-me rapidamente. Foi uma passagem bastante suave de um sítio para o outro.
Costumava ir todos os anos à Roménia, mas agora vou menos, pois a minha mãe está comigo em Portugal, o que é mais fácil, pois o meu irmão é médico e professor na faculdade de medicina e tem uma vida muito ocupada. Mesmo quando eu estava lá passarmos um tempo juntos era um grande desafio. Hoje em dia, as redes sociais acabam por nos aproximar imenso e isso ajuda a suavizar as saudades. Vamos mantendo a ligação, e sempre que possível vou lá visitá-los.
Como se ensina piano à distância?
Isso foi um novo desafio. Eu própria não percebia se era possível isso acontecer. Há uma parte prática que precisa muito do contacto presencial, mas considero que foi até agora uma experiência muito positiva. Os alunos fizeram um excelente trabalho. Houve empenho, houve acompanhamento por parte dos pais… Todos os meus alunos continuaram a progredir e cada um deles tentou desenvolver o máximo possível. Houve um crescimento e é fantástico! Trabalharam com empenho e dedicação. Espero que a partir de setembro tudo volte ao normal.
Nestes dezoito anos, como tem sido a sua vida artística em palco?
Felizmente, consegui manter essa vertente, pois gosto imenso de tocar. Tive mais uma vez muita sorte. Juntamente com os meus colegas do Conservatório e de Vizela, tive a possibilidade de tocar em vários sítios e um dos projetos mais ativo foi juntamente com o meu colega José Corvelo, com o qual fiz vários concertos. Metade do concerto era piano a solo e na outra parte eu acompanhava-o. Estivemos em Lousada, em Gondomar, também em Braga. Depois demos dois concertos em Lisboa, um deles no Palácio Foz, um concerto fantástico, com um público de turistas. O outro concerto em Lisboa foi no Museu da Música. Foi um espetáculo que encerrou os concertos desse ano. Tivemos um convite para falar na Antena 2. São oportunidades que vão continuando a surgir. Este ano tínhamos mais planos, que infelizmente ficaram adiados. Espero que no próximo ano tenhamos a possibilidade de recuperar tudo o que não se fez neste ano.
Quer deixar uma mensagem final?
Eu acho que tenho muita sorte. Consegui fazer da minha paixão, a música e o piano, a minha profissão, num sítio tão profissional e conceituado como o Conservatório do Vale do Sousa, que este ano recebeu um prémio muito importante dado pelo Presidente da Republica Marcelo Rebelo de Sousa. Tenho muita sorte em fazer parte desta equipa do Conservatório de Lousada. Quero agradecer à direção e a todos os meus colegas pela oportunidade que me deram. Somos uma família. Gosto deles todos e espero que os lousadenses escolham ter os filhos a frequentar o conservatório. Acho que é muitíssimo importante.
Aos alunos, queria dizer-lhes que estou muito contente por estar aqui e dar-lhes aulas. Estão no meu coração.
É com muito orgulho que te dou os meus Parabéns ,pelo esforço e força de vontade que te fez traçar este ciclo de vida, no qual nada fácil mas que te levou a bom porto.
PARABÉNS E MUITAS FELICIDADES.
Bjnhos do Gui.
Sou a Antonia Brito, gostei muito do seu artigo tem muito
conteúdo de valor, parabéns nota 10.
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