Manuel Oliveira é engenheiro agrónomo e conhece bem a realidade da produção vinícola lousadense. É produtor de vinho e técnico na Agros. A exploração da qual é proprietário, a Quinta da Bouça, em Aveleda, existe há cerca de 16 anos, na altura com cerca de 6500m2.
“Era uma vinha com origem na capela e que todos os anos tem crescendo, tendo agora quase 10 hectares e não para a nível de investimento”, caracteriza, acrescentando que tem retorno na altura das colheitas. Este ano, regista apenas uma pequena quebra numa vinha, devido a umas noites frias, que condicionaram a nascença.
Numa região de vinhos verdes, tem várias castas de vinho tinto e branco. Do primeiro, destaque para o vinhão genuíno e a casta espadeiro. “Hoje são muito apreciados os rosados e o espadeiro é uma casta indicada para rosados”, justifica.
Aqueles que pensam que o rosado resulta da mistura de tintos com brancos desenganem-se. Trata-se da cor genuína do espadeiro. Quanto aos brancos, de referir o loureiro, Fernão Pires (uma casta que produz bastante) o pedrenã e essencialmente o arinto.
A produção num ano dito normal anda à volta das vinte toneladas por hectare. “Há dois anos até tirei mais, mas este ano tirei menos. Os anos não são todos iguais, há anos que são excecionais a nível de produção e há outros em que o tempo não ajuda. Tem-se vindo a notar essas alterações devido às alterações climáticas”, explica.
Sistema de rega automático
Para evitar o stress hídrico das videiras, mais usual a partir dos 32 graus, é importante ter água disponível para as videiras, o que para muitos pode ser um problema. Não para Manuel Oliveira, que tem um sistema de rega gota a gota em toda a vinha.
Este viticultor foi, aliás, pioneiro na introdução do sistema de rega israelita na região. Apesar de o considerar o sistema ideal, reconhece que se torna difícil arranjar material para esse sistema. “Enterra-se uma fita a 30 cm de fundo e a 40cm das videiras, onde não há um problema de evaporação. Ou seja, a rega pode ser efetuada durante o dia, o que acaba por acontecer aqui neste sistema gota a gota.
Aliás, os israelitas são pioneiros, pois com pouca água conseguem realizar grandes regas. Realmente, o sistema teria pernas para andar, mas não há fornecedores desse material aqui no Norte”, lamenta. O investimento compensa.
Neste momento, Manuel Oliveira tem um lago na exploração, onde é acumulada a água ao longo do ano. O sistema inovador permite-lhe reduzir os gastos com a energia.
Vinha é muito mais de que um negócio
Visto que a viticultura é um hobby na vida de Manuel Oliveira, este não tem o tempo que precisaria para gerir todo o processo de produção e comercialização, pelo que optou por vender as uvas a uma casa agrícola que compra uvas na região. Além disso, “não seria competitivo face aos custos meter o vinho na garrafa”, justifica.
As vantagens da produção da uva vão muito além do negócio, como esclarece este produtor: “É uma boa forma de envelhecer alegremente, é saudável. Está-se aqui no meio do campo, faz-se aqui um bom ginásio e, no final, com algum cuidado na forma como se gere a exploração, há retorno financeiro”, diz.
O retorno financeiro consegue-se, sobretudo, reduzindo os custos, “produzir por 20 cêntimos e vender a 50”. Não pouca nos tratamentos, o que é sagrado para quem quer produzir. “O clima é incerto e temos de manter as vinhas seguras de qualquer tipo de doença”, justifica.