César Silva saiu de Lousada aos 23 anos em busca de melhores condições de vida. O emigrante partiu para Sion, na Suíça, há cerca de 30 anos, numa saída que considera “um bocadinho precipitada”, relacionada com a vontade de “ganhar a vida”. Inspirado pelos desenhos animados da “Heidi”, escolheu a Suíça pelas montanhas que o fascinavam em criança.
Abandona Portugal com “alguma tristeza, porque deixamos tudo aquilo que nos construiu, a nossa família, os nossos amigos, os hábitos que temos, aquilo que frequentamos, verdadeiramente o nosso ADN. E é verdade que é uma etapa bastante difícil da vida”, relata.
Com apenas três meses no contrato inicial, César Silva acaba por ficar com uma vida ligada à Suíça. “A maior dificuldade, apesar de deixar a família, é a integração no novo país. Chegamos, estamos completamente desorientados e temos que começar a desenvolver um currículo, temos de começar a perceber como funciona o país e também desenvolver novas perspetivas para evoluir”, afirma.
“Nos primeiros anos a minha energia foi dedicada à integração, arranjar casa, consolidar o meu trabalho”
“Nos primeiros anos a minha energia foi dedicada à integração, arranjar casa, consolidar o meu trabalho, de maneira a poder ser mais rapidamente independente. Era também um dos objetivos que eu tinha, poder ser mais rapidamente independente e esses primeiros anos foram, sobretudo, dedicados a isso”, exprime, acrescentando que “é preciso trabalhar, fazer provas, provar que consegues, que és motivado, para conseguires desenvolver novas perspetivas, mas a maior dificuldade que há no princípio é a integração”.
Os primeiros 10 anos serviram para consolidar o currículo, formar família e reforçar a sua formação profissional. Casar com uma mulher natural da Suíça, permitiu que a adaptação à língua fosse mais fácil.
“Quando se domina bem a língua pode-se ir um bocadinho mais longe, esperar por novas perspetivas e essa foi a primeira etapa. Depois desenvolvi, com a ajuda da família da minha esposa, conhecimentos sobre as leis suíças e cheguei a um momento em que, na minha carreira profissional, questionei-me sobre o que eu queria fazer para conseguir ir mais longe, para passar do estatuto de um simples empregado a um estatuto mais sério, que me desse também perspetivas financeiras mais confortáveis. Aí, percebi que a nova etapa pela qual teria de passar era a formação”, revela.
Voltar a estudar e ingressar na cidadania suíça
Apenas com experiências no mundo dos sapatos, decidiu fazer um Certificado Federal de Capacidade na Logística, “porque a empresa onde eu trabalhava era ativa no ramo da logística. Fiz um Certificado Federal de Capacidade durante 4 anos, em paralelo com o meu trabalho. Depois, fiz também um diploma de instrutor para poder formar/dar aulas nos centros de formação em logística, sempre em paralelo com o meu trabalho”, relata.
Mais tarde, realizou um diploma de instrutor para ter oportunidade de formar/dar aulas nos centros de formação e começou a formar aprendizes. Com um gosto por comunicar que o caracteriza, deu entrada no mundo mais cívico e político.
“Um dos objetivos, quando pedi a nacionalidade, foi poder participar na vida política suíça, para ter o direito de voto tens de ter a nacionalidade. Como já estava aqui há bastantes anos, achei que era totalmente normal poder votar nas iniciativas e novas leis, porque vivemos num sistema de democracia direta”, expõe.
“Todo aquele que sai do seu país, se quiser viver de maneira mais agradável, deve conseguir a sua integração. A integração é participar na vida associativa, é aproveitar a beleza destas montanhas, de maneira a que possamos apagar um bocadinho da nostalgia de não vivermos no nosso país.”
César Silva acredita que “todo aquele que sai do seu país, se quiser viver de maneira mais agradável, deve conseguir a sua integração. A integração é participar na vida associativa, é aproveitar a beleza destas montanhas, de maneira a que possamos apagar um bocadinho da nostalgia de não vivermos no nosso país, por isso, continuo a aproveitar as boas coisas que a Suíça nos oferece”.
Com uma larga experiência alargada e reforçada, César tem já uma visão diferente daquilo que são os portugueses na Suíça. “A minha geração tem um espírito de sacrifício, viemos para aqui para trabalhar, somos pessoas trabalhadoras, as empresas adoram o pessoal português e é um pessoal fiável, trabalhador. O português é uma pessoa unida, vai contribuir de maneira positiva para que as coisas avancem e não acontece o mesmo com todas as nacionalidades”, reflete.
“Também não é o caso de todas as gerações portuguesas, a configuração mudou, houve coisas que mudaram na Suíça e os portugueses que chegam agora são, na maior parte dos casos, pessoas formadas, pessoas que vieram para aqui com diplomas universitários, que chegam aqui e querem trabalhar”, testemunha.
Atualmente, César é responsável por 35 colaboradores numa estação frutícola e pensa que “a mentalidade é um bocadinho ciumenta, se dou uma promoção o outro fica chateado. Isso são tudo coisas que as pessoas têm de lidar e essa é uma das minhas vantagens de conhecer o funcionamento da cultura portuguesa”.
“Interesso-me bastante pelo comportamento das pessoas e, através disso, passo muito tempo a estudar as reações de cada um, aproximo-me das pessoas e falo de maneira clara, nunca devemos ter medo nem receio de falar dos problemas de maneira clara e descontraída”, alerta.
Visitas a Lousada
O trabalho a tempo inteiro e a presença na política não o permitem visitar Lousada com tanta frequência quanto gostaria. “Já há uns anos que não vou a Lousada, sinto tristeza das festas, daquelas vacas de fogo, que já nem existem agora. Sinto saudades da culinária portuguesa, daquele cheirinho de rosas do mar. Acho que consigo compensar isso com todas aquelas atividades que eu integro atualmente, que me fazem estar ocupado e pensar o mínimo possível, na saudade da família e naquela terra onde tenho ainda o meu ADN, mas vou meter isso no programa de 2021”, garante.
“Não precisamos de subir a uma montanha para sentir emoção.”
César deixa um abraço a todos com quem conviveu e para todos os lousadenses, relembrando que “para qualquer sítio que possamos ir, o mais importante é guardar a emoção, é a mensagem que me caracteriza. Claro que em tudo o que possamos começar a fazer há sempre contrariedades, situações desagradáveis. Mas acho que quando conseguimos guardar a emoção, conseguimos caminhar e chegar aquele ponto que nos satisfaz, mas a emoção pode ser vivida de várias maneiras. Não precisamos de subir a uma montanha para sentir emoção”, termina emocionado.
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