São utentes da Unidade de Saúde Familiar (USF) do Torrão, em Lousada, e, em maio deste ano, foram notificados para a possível mudança para as novas instalações na Unidade de Cuidados de Saúde Primários (UCSP) de Lustosa. A mudança é justificada pela renovação das instalações do edifício e o “desenvolvimento de técnicas e condições mais atuais”. Pela distância e falta de transporte, os utentes recusam-se a mudar e pedem uma solução rápida.
Em maio passado, uma parte dos utentes da USF do Torrão, sediado no coração da vila, foram notificados, via carta, que, devido à pandemia de COVID-19, a reestruturação e organização da USCP de Lousada II, em Lustosa, seria antecipado de forma a “serem minimizadas as situações de contágio dos utentes, dada a inadequação das condições existentes previamente no piso inferior do edifício de Lousada”, lê-se na carta informativa recebida pelos utentes.
A mudança justifica-se pelas melhorias nas condições “que permitem a dignificação do atendimento dos utentes, com uma melhoria significativa das condições de atendimento, sala de espera, gabinetes médicos e de enfermagem”, informou o Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Tâmega III – Vale do Sousa Norte em nota de imprensa, em junho.
“Aproveitaram a pandemia para fazer isto. Há uns dois anos que falavam nisso, mas até o médico disse para fazermos força, fizemos um abaixo-assinado e ficou tudo normal. Agora, com a pandemia, o médico desapareceu. Ligamos para o Centro de Saúde e dizem-nos que agora pertencemos ao Centro de Saúde de Lustosa”, comenta Teresa Rodrigues, 60 anos, uma das utentes visadas pela mudança.
A utente admite que a mudança “é muito complicada. Termos centro de saúde a dois passos de casa e ter de ir a 10 quilómetros, não dá, não aceito. Gostava muito do médico, mas uma vez que ele foi, se morrer também tem de ser substituído, não temos de ir atrás dele”.

Embora apreciasse os cuidados de saúde do profissional atual, Teresa Rodrigues está disponível para mudar de médico e continuar inscrita na USF do Torrão. “Estou com o meu médico há mais de 35 anos, tenho muita pena de ele ter ido, mas não posso ir atrás dele”, expressa.
“Ligamos para o Centro de Saúde daqui dizem que pertencemos a Lustosa, ligamos para Lustosa é um pandemónio. O meu marido chegou a ir lá, estava doente, mandaram-no embora e disseram para ligar para fazer a marcação. Mandam-nos de um lado para o outro, ainda não teve consulta. Ele é diabético e hipertenso e estamos a comprar os medicamentos por nossa conta, porque nem as receitas temos”, lamenta. Quando estiveram infetados pela COVID-19, a utente afirma que foram contactados apenas três vezes por uma enfermeira, “que nem o médico nos ligou nenhuma vez”.
Teresa Rodrigues, residente em Silvares, foi uma das utentes que respondeu à carta enviada pelo ACeS, em maio, referindo os vários motivos pelos quais se recusa a aceitar a mudança. Até ao momento, nunca foi respondida.
Utentes reforçam descontentamento com abaixo-assinado
Descontentes com a situação, os vários utentes realizaram um abaixo-assinado, enviado ao Conselho de Administração da Entidade Reguladora da Saúde, expondo que a Unidade de Saúde de Lustosa “dista das nossas residências entre cinco e quinze quilómetros e muitos dos utentes têm mais de 70 anos”.
“Para Lustosa não há transportes públicos que nos permitam aceder à Unidade de Saúde e muitos de nós não dispõe de transporte público”, são dos principais motivos que levam a esta recusa. As dificuldades financeiras dos utentes e a falta de consentimento para serem transferidos também foram mencionados.
Por fim, solicitam que “todos os utentes que não pretendam continuar na Unidade de Saúde de Lustosa possam ser inscritos e atendidos na Unidade de Saúde de Lousada”.
Joaquim Pacheco tem 71 anos, reside em Cristelos e é o líder desta luta que, embora não tenha sido afetado por essa mudança, acredita que “não podiam fazer isto”. “Não recebi a carta para mudar de instalações, mas aconselhei quem recebeu a responder com uma carta registada para que não concordassem com essa situação”, refere.

Como não obtiveram resposta à carta, Joaquim Pacheco decidiu avançar com o abaixo-assinado. “Como as coisas não avançaram, lembrei-me de fazer um abaixo-assinado e uma queixa à Entidade Reguladora da Saúde do Porto e à Câmara Municipal de Lousada”, revela.
Pelas ligações de amizade e vizinhança, Joaquim Pacheco decidiu ajudar e intervir na luta. “Disse-lhes que se não respondessem à carta estavam a consentir uma coisa que não queriam. Ninguém pode empurrar ninguém sem autorização do utente. O utente é que tem de escolher não é o diretor”, menciona.
ACeS garante que utentes serão inscritos em Lousada
Contactado pelo O Louzadense, Hugo Lopes, diretor executivo do ACeS do Tâmega III, garantiu que, a partir do dia quatro de janeiro, os utentes serão reintegrados na USF do Torrão.
“O que se passou foi que as duas listas que estavam instaladas na UCSP Lousada II, que é dividida pelos dois polos, estava previsto serem instaladas em Lustosa há mais de seis anos. O edifício ficou pronto e abriu em março. Ficou definido que os utentes que tivessem dificuldade de deslocação, problemas financeiros, algumas questões sociais que fossem atendidas, regressassem para Lousada, que não vissem a sua situação de vida prejudicada pela mobilização das listas médicas”, garantiu.
Com a entrada no período pandémico, a falta de profissionais de saúde atrasou o processo de reintegração no polo de Lousada. “Temos muitas unidades que perderam muitos médicos, estiveram ausentes durante muito tempo, e era mais prejudicial para os utentes colocá-los de imediato em Lousada sem terem médico do que mantê-los em Lustosa, mantendo um médico a poder fazer o atendimento”, assegura.

Atualmente, Hugo Lopes afirma que já “há condições para os inscrever novamente em Lousada”, mas não todos, “só os que tiverem mais dificuldades”. Os restantes mudam apenas perante uma situação que “pode ser ponderável, que é a situação de alargamento de uma lista em Lousada, mas não é no imediato”.
Assim, a partir de dia quatro de janeiro, os utentes serão contactados pela Unidade de Saúde para atualizarem a sua situação clínica, “que foi salvaguardada pela Unidade de Lustosa antes de serem transferidos”. “Os utentes não precisam de ir para o Centro de Saúde”, lembra o diretor executivo, referindo que se podem deslocar apenas depois de serem contactados.
Até serem contactados, mantêm-se a inscrição na Unidade de Lustosa. O diretor recordou que “a maioria dos utentes quis ficar com o médico de família e foi dada a oportunidade de manterem o médico. A prioridade é sempre os utentes escolherem”.
A transferência foi em vista de se manter a “continuidade de cuidados de saúde familiares centrada no utente” que consideram “ser um benefício a manutenção da equipa de saúde de cada utente, a qual detém um elevado conhecimento do historial clínico de cada cidadão inscrito”. Entre as várias razões, Hugo Lopes realça “as ótimas instalações que Lustosa tem, nos profissionais de excelência que tem e no grau de satisfação que a maioria dos utentes tem no atendimento que tem em Lustosa”.
O diretor aproveitou para salientar que “há vacinas da gripe disponíveis para a população” e que se podem deslocar para esse efeito.
Tb não quero ir para lustrosa.