Nasceu em Felgueiras (Idães), cresceu em Angola (Benguela) e viveu a maior parte da sua vida em Lousada, onde deixou memórias e descendências. José Carlos Gomes Duarte foi engenheiro civil, professor, político, autarca, dirigente associativo. Em cada um desses papéis socioprofissionais deixou a sua imagem de maca: um espírito crítico e interventivo. José Carlos Gomes Duarte nasceu em 4 de Junho de 1954 e faleceu em 27 de dezembro de 2015.
Em meados de 1959 foi para Angola com a família, e instalaram-se em Benguela, onde o seu pai, Francisco Duarte, montou uma firma de comércio de peixe. José Carlos enamorou-se de tal forma com Benguela que dizia ser a sua terra preferida até ao dia em que faleceu, mas curiosamente nunca lá voltou. Dizia que não queria ver a destruição que a guerra causou e que preferia lembrar-se daquilo como era nos seus tempos áureos.
Começou a dar os primeiros passos no ensino em Angola ao dar explicações à noite, ajudando um professor vizinho, nas aulas a adultos analfabetos, enquanto ainda estudava no liceu.
Desde muito cedo mostrou apetência para a política. Foi militante ativista do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), onde se tornou bastante popular e influente dada a sua eloquência e personalidade contestatária e reivindicativa, subindo a pulso na estrutura interna do partido, discursando em vários comícios.
O seu filho, Carlos Manuel Faria Duarte revela que “ele contava-me que chegou a estar no campo de batalha múltiplas vezes, nos confrontos entre a UNITA e o MPLA, facto que o meu avô confirma, embora não se mostre muito interessado em desenvolver ou aprofundar o assunto, acho que não devia gostar muito da ideia do filho participar naquilo”.
“Em Nova Lisboa teve, segundo o meu avô, a cabeça a prémio por parte da UNITA, tendo sido perseguido ao ponto de se esconder num sótão até poder fugir no lúgubre da noite para Benguela”, acrescenta.
A guerra civil de Angola ganhou força com a revolução portuguesa de 1974,e a escalada de violência entre outros fizeram com que o meu avô mandasse a família para Portugal, pouco antes da proclamação da independência de Angola em 1975.
Para além desta face contestatária e revolucionária, José Carlos Duarte tinha um lado sensível, dedicando-se à música e à escrita, sendo que escrevia prosa e poesia para o Jornal de Benguela.
Conta o seu filho Carlos Duarte que “ele recebeu uma viola, de prenda, que salvo erro ainda hoje existe, em Angola pela qual tinha imenso apreço, e essa viola foi usada em convívios políticos em Angola e, mais tarde, em Portugal, em festivais cá em Lousada onde inclusive chegou a ganhar prémios”.
José Carlos Duarte começou o curso de Engenharia na Universidade de Nova Lisboa (antiga Huambo), onde concluiu dois anos do curso e concluiu o Bacharelato de Engenharia Civil, no Instituto Superior de Engenharia do Porto, em 29 de julho de 1977.
Espírito crítico e interventivo
“Foi no ISEP que conheci o Zé Carlos”, revela José Santalha, que viria a ser seu companheiro no Partido Socialista de Lousada.
“Ele foi um grande democrata de esquerda, com um pequeno devaneio em 1989, ao apoiar um candidato de Direita em Lousada, mas aquilo passou-lhe e a imagem que ficou sempre foi a de um militante combativo, bastante interventivo e um cidadão crítico, por vezes até demais”, declara o histórico presidente da concelhia do PS/Lousada.
A atividade política foi bastante importante na vida de José Carlos Duarte. Na segunda metade da década de 1980 destacou-se como uma das figuras da renovação do PS local, depois de uma década de domínio social-democrata, formando com Jorge Magalhães, José Santalha e outros, a renovação do partido em Lousada. Ainda assim perdeu em 1986, num confronto com Amílcar Neto, cabeça de lista pelo PSD, tendo sido nomeado vereador.
Em termos profissionais, além de dar aulas de desenho (Educação Visual), este lousadense fundou o GTE – Gabinete Técnico de Engenharia, que se tornou numa empresa de renome em Lousada na área da engenharia civil.
“Ele tinha muitas qualificações e capacidades técnicas na sua área, tinha uma excelente carteira de clientes e uma implantação que o poderiam ter levado a outros patamares”, elogia Jorge Magalhães, antigo presidente da Câmara Municipal de Lousada e seu companheiro de lutas autárquicas. Mas estiveram desavindos em 1989: “tivemos sempre uma relação de cordialidade e proximidade, mas é natural que haja encontros e desencontros na vida”.